Europa contra-ataca após ameaça de guerra comercial de Trump
Políticos querem responder olho por olho ao plano dos EUA de impor tarifa de 25% sobre aço. Lista pode incluir Harley Davidson e uísque
A liderança política da Alemanha reagiu irritada às declarações do presidente Donald Trump sobre a criação de uma nova "taxa" contra montadoras europeias que, segundo o americano, "despejam livremente" seus carros nos EUA.
Antes disso, Trump já havia anunciado para executivos que os EUA imporiam uma tarifa de 25% sobre importações de aço e de 10% sobre alumínio.
Em reposta, a UE disse que está planejando formar uma coalizão de países para reagir de maneira unificada aos movimentos de Trump.
De acordo com o portal de notícias europeu Euractiv, funcionários da Comissão Europeia estão em contato com outros países afetados, como Canadá, Brasil, Coreia do Sul, Japão, Austrália e Turquia.
A UE também se prepara para reagir isoladamente. Nesta quarta-feira era discutido um pacote de medidas com o objetivo de resolver a disputa com os EUA e elencar medidas de retaliação.
Uma parte deste pacote de retaliações foi divulgada pela rede Bloomberg na noite de segunda-feira. O documento mostra que a UE já preparou uma lista de produtos importados dos EUA que podem vir a sofrer uma taxação extra de 25%. Entre eles estão jeans da Levi's, motocicletas Harley Davidson, suco de laranja e uísque tipo bourbon, bem como outros produtos agrícolas e aço.
As tarifas, de acordo com a Bloomberg, devem arrecadar 2,8 bilhões de euros (11,2 bilhões de reais) para compensar as medidas dos EUA.
O governo alemão também elevou sua retórica contra Trump. "Se forem aplicados impostos gerais sobre o alumínio e o aço nos Estados Unidos, isso levará a rupturas no comércio mundial", afirmou a ministra alemã da Economia, Brigitte Zypries, em um comunicado.
"Se Trump seguir suas palavras com ações, a Europa responderá proporcionalmente. Não é crível que importações de aço da Europa e da Alemanha ponham em perigo a segurança nacional dos EUA", disse a ministra.
Zypries também questionou a lógica de Trump: "Alguém que fala tanto sobre o comércio justo, como o presidente Trump, não deve buscar métodos tão injustos".
Paralelamente, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, usou um tom ameaçador ainda mais ríspido. Ele descreveu o anúncio de Trump como "estúpido". "Nós também podemos fazer coisas estúpidas", disse ele na última sexta-feira.
Quem perde com protecionismo?
Os representantes da Alemanha na UE se juntaram ao coro que condenou a política de Trump. "Trump não está impondo penalidades, ele está se isolando", disse Bernd Lange, porta-voz da política comercial dos social-democratas no Parlamento Europeu e presidente do comitê de comércio da Casa. "Nós não fizemos nada de errado. Nós seguimos as regras da Organização Internacional do Comércio, e é por isso que temos que implementar contramedidas."
"No fim das contas, é a indústria que vai sofrer", disse Godelieve Quisthoudt-Rowohl, porta-voz da política comercial da União Democrata-Cristã (CDU) no Parlamento Europeu. Ela apontou que o governo George W. Bush também anunciou aumentos de tarifas semelhantes e que, no final, a indústria dos EUA sofreu no médio prazo.
"Isso se torna menos inovador, porque é limitado a um mercado que acaba perdendo cada vez mais contato com o resto do mundo", disse ela à DW. "O outro ponto é que não há necessariamente reservas de capacidade nos EUA. Não é de todo seguro que, mesmo que a indústria siderúrgica cresça, ela necessariamente encontrará trabalhadores para isso. Está sendo colocado algo em movimento sem saber como isso vai acabar."
Em um comunicado à DW, o Ministério da Economia alemã disse que os ministros do comércio da UE já se encontraram na semana passada em Sófia, na Bulgária, para discutir possíveis medidas contra os EUA e afinar a resposta da UE. "Novas discussões estão em andamento", diz o comunicado. "A ministra Zypries advertiu contra rupturas no comércio mundial por meio de ameaças de uma guerra comercial - que ninguém deseja - e espera que o presidente dos EUA reconsidere."
"As medidas protecionistas unilaterais prejudicam a todos, incluindo os próprios EUA. É algo que a própria indústria dos EUA já advertiu publicamente", acrescentou o comunicado.
Crítica internas
Por outro lado, os oposicionistas do Partido Verde disseram que a UE precisa assumir uma certa parcela da culpa. Embora apontem que uma "guerra comercial" com Trump "só produziria perdedores", os verdes também disseram que "abraçar o dogma do livre-comércio também não ajuda em nada".
"Não é uma concorrência leal quando nem todas as empresas estão jogando com as mesmas regras", disseram em comunicado-conjunto Anton Hofreiter, líder parlamentar verde, e Katharina Dröge, porta-voz de política comercial do partido. "Queremos uma troca justa, e não a UE em primeiro lugar. Isso inclui, entre outras coisas, regras contra a concorrência fiscal injusta e regulamentos globais sobre concorrência leal. Isso é diferente do protecionismo de Trump."
O neoliberal Partido Liberal-Democrático (FDP) também criticou a reação do governo alemão, ao mesmo tempo em que condenou Trump, mas com um ponto de vista oposto ao dos verdes. Em artigo na revista Focus publicado na semana passada, o líder parlamentar do FDP, Alexander Graf Lambsdorff, disse que a disputa era uma oportunidade para o governo alemão finalmente abraçar um acordo de livre-comércio com o Canadá (conhecido como Ceta).
"Nos momentos em que o protecionismo, o populismo e o nacionalismo tornam-se aceitáveis de novo, precisamos desses acordos", escreveu ele. "Nenhum outro país é tão dependente de mercados abertos como a campeã mundial de exportações Alemanha.
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