Script = https://s1.trrsf.com/update-1725976688/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Ex-executivo do Safra se une à esposa e fatura R$ 14 milhões com clínica luxuosa de bem-estar

José Antonio Curti uniu as técnicas de gestão que utilizou ao longo de sua carreira no setor bancário para criar a Passoni Clinic

26 ago 2024 - 05h00
(atualizado em 29/8/2024 às 18h19)
Compartilhar
Exibir comentários
José Antonio Curti é sócio e administra com a esposa a Passoni Clinic.
José Antonio Curti é sócio e administra com a esposa a Passoni Clinic.
Foto: Divulgação

Quando descobriu sua vocação para lidar com os números e estatísticas ainda no período escolar, José Antonio Curti não imaginava que aos 52 anos se tornaria um dos grandes nomes dentro do setor de saúde, com sua posição administrativa na Passoni Clinic, especializada em ciências capilares. Depois de construir uma sólida carreira de 21 anos no Banco Safra, o ex-executivo se uniu à esposa médica para criar uma clínica de bem-estar de luxo.

Casado desde 2018 com a Luciana Passoni, 40 anos, Curti uniu as técnicas financeiras e de gestão que utilizou ao longo de sua carreira como executivo de banco para abraçar o sonho da esposa pelo empreendedorismo. Em maio de 2023, ambos construíram uma clínica na Vila Nova Conceição, em São Paulo, focada em oferecer bem-estar por meio dos cuidados aos cabelos e pele. No primeiro ano, a clínica teve um faturamento de R$ 14 milhões. Para 2024 a previsão é de quase R$ 20 milhões.   

Em uma hora de entrevista ao Terra, Curti relembrou sua trajetória como executivo de banco até se tornar dono de clínica. Com faturamento de R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões por mês no estabelecimento, o empresário lembra do começo difícil no mercado financeiro. O ex-executivo chegou a receber R$ 277 quando trabalhava como estagiário em um banco. Além do Safra, Curti passou por outras entidades como analista financeiro, gerente e superintendente. 

Descoberta da vocação

Curti conta que sempre teve facilidade com os números. E descobriu isso cedo, ainda no ensino fundamental do Colégio Bandeirantes.

"Eu tive formação bem analítica já desde cedo, com ênfase na área de exatas. Já no terceiro colegial, em 1988, eu já fazia programa de computador. Depois do colegial, consegui entrar na Escola de Engenharia da USP, na Escola Politécnica, ali eu peguei forte tendência a desenvolver modelos matemáticos", lembra. 

Dentro da USP, Curti focou em matérias para o setor aeroespacial.

"O modelo matemático que eu desenvolvi durante a Escola de Engenharia era um modelo para prever solidificação de ligas metálicas que fazem parte de uma pá de turbina de um avião a jato. E assim, dependendo como o metal se solidifica de uma pá de turbina do avião, ele pode ter uma vida útil muito longa, ou pode no primeiro voo se deformar todo e o avião cair. Então, eram coisas bem de responsabilidade. Isso eu desenvolvi na Escola de Engenharia", acrescenta. 

Embora tenha obtido boas notas durante o curso, o mercado de trabalho para engenheiros fez Curti abandonar a carreira ainda no início. Segundo ele, se continuasse investindo em modelos matemáticos, ele teria que inevitavelmente ir para o exterior, já que a área de engenharia no Brasil ainda "consome tecnologia", e não "cria", nas palavras do próprio. 

Da engenharia para o mercado financeiro

Desde o ensino fundamental focado em números, Curti se aprofundou em computação eletrônica e modelos matemáticos mesmo sabendo que iria seguir com a engenharia. Essas habilidades, no futuro, lhe proporcionaram ser autodidata em finanças e ter um conhecimento profundo sobre mercado financeiro e gestão.

"Eu falei: 'Bom, aonde é que eu vou, quem é que vai me querer com a puta habilidade matemática que eu tinha?'", lembra.

Apesar de seu foco dentro da USP ter sido em aplicações em materiais para o setor aeroespacial, Curti foi estagiário no Banco Rendimento, onde tudo começou.

"Eu vislumbrei a possibilidade de trabalhar no mercado financeiro, especificamente em bancos. Então, no último ano da faculdade eu achei um papelzinho que era de um estágio. Os bancos nem colocavam anúncio de vaga na área financeira na Escola de Engenharia. Mas eu vi o anúncio e liguei. Era uma vaga para ser estagiário do Banco Rendimento".

No Banco Rendimento, Curti ficou por dois meses e depois foi para o Factoring Cred1, onde criou um modelo matemático de previsão de inadimplência por mês de produção, de produtos parcelados, reformulando toda a área de Pricing da financeira e aceitação de duplicatas. O modelo também auxiliou na estruturação de toda a área de MIS (Management Information System), que realiza a gestão de banco de dados da instituição.

"Eu entrei no Banco Rendimento, fiquei dois meses como estagiário. Nesse estágio conheci algumas pessoas que depois que saíram do Banco Rendimento me indicaram para o Factoring Cred1. Me arrumaram este estágio e falaram que precisava de um modelo de previsão de inadimplência por mês de produção, de produtos parcelados. Era um modelo matemático mais voltado para estatística. Então, fiz o modelo para prever o quanto eles iam perder dinheiro no futuro e em dois meses o modelo mostrou uma boa assertividade".

O modelo que Curti criou era como uma espécie de bússola para o banco. E isso era poderoso para a empresa, que podia aumentar a taxa de juros antes da concorrência, se soubessem que a inadimplência iria aumentar.

"Eu fiz isso e o banco passou a ganhar uma cacetada de dinheiro. Eu ganhava nesse estágio R$ 277 por mês", lembra ele, que trabalhou no local em 1998 -- em valores corrigidos pela inflação, a bolsa de estágio seria o equivalente a R$ 1.317,00.

Mudança de cargo

Como a bolsa de estágio era baixa – e Curti, como todo jovem, era alguém vaidoso –, o dinheiro não estava sendo suficiente. Ele conta que arrumou uma namorada na época e queria comprar uma calça de R$ 800. Como não recebia tanto, resolveu pedir demissão da Factoring Cred1.

"Falei para os donos que o que ganhava não estava conseguido comprar uma p#*a de uma calça. Aí os caras riram. Aí depois pegou a calculadora e me deu R$ 2 mil e falou: 'Ô, José, esse é seu salário e você está contratado'", lembra. A Factoring Cred1 foi vendida depois de seis meses.

Venderam a empresa para a Fininvest, que era bem parecida com o que a Crefisa faz hoje. Curti ficou, mesmo após a mudança de administração. Seu trabalho passou a ser o desenvolvimento de um modelo de Valuation de empresa. Seu feeling de que a empresa logo seria vendida estava certo.

"Um mês depois que eu entreguei, eles usaram o modelo e fixaram o preço de venda da Fininvest para o Banco Itaú", acrescenta. 

O início no Banco Safra

Mesmo sendo convidado para trabalhar no Itaú, que ainda não tinha sido fundido com o Unibanco, Curti acabou rejeitando o emprego e a proposta de mudança para o Rio de Janeiro.

"Eles me viram e falaram: 'Curti, você é um cara de risco, você é um cara matemático. Quero você com a gente no Rio de Janeiro'. Bom, eu não falei 'não' para os caras, mas nunca iria para o Rio de Janeiro. Fiquei quieto. Duas semanas depois, Deus ajudou", celebra. 

Conforme o empresário conta, os antigos donos da Factoring Cred1 foram chamados pela família Safra para trabalhar no banco. Como eles precisavam de alguém com uma determinada característica, o procuraram. Curti foi, em 2001, e só saiu de lá em 2022. 

"Eu entrei no Safra ganhando R$2.600, já analista, analista de risco júnior. Lá tive uma carreira de analista de risco júnior, pleno, sênior, gerente de área, gerente geral, superintendente e superintendente geral. Sendo que até para superintendente foram oito anos, ou seja, de 2000 a 2008. Nunca teve alguém, pelo que me falava o RH que tinha crescido tão rápido dentro da instituição", ele diz orgulhoso. 

De 2009 até 2019, Curti virou superintendente geral. Ele conta que deixou como principal marca a repaginação de todo o sistema gerencial do banco.

"Muitas das ideias que estão lá hoje, na área de fraudes de garantia do banco, fui eu que criei. Praticamente todo o funcionamento do sistema de crédito do Banco Safra, hoje em dia, para pessoa jurídica, quem concebeu isso fui eu em 2012", acrescenta.

Curti também liderou a área de geração de análises estratégicas comerciais e de cobrança do banco e, com a crise de subprime no mercado americano em 2008, realizou seu grande desafio: desenvolver um novo modelo de gestão de crédito, preço e revisão do cheque especial, produto com enorme potencial de geração de lucro se gerido de forma automática. Com o modelo de inteligência criado por Curti, a lucratividade da instituição com o produto aumentou em mais de 2000%.

Joseph Yacoub Safra e Vicky Sarfaty Safra.
Joseph Yacoub Safra e Vicky Sarfaty Safra.
Foto: Bloomberg/2014

"A gente montou praticamente todo o sistema de fraude e de garantias do Safra. O banco é muito forte na operação dos créditos com garantia, ou seja, as empresas vão, querem o dinheiro, o Safra pega a garantia de duplicata da empresa e empresta o dinheiro coberto com garantia. Então, essa checagem das garantias, para ver se o título é frio ou não, eu ajudei o Safra a montar", explica. 

Fim de ciclo

Tendo ocupado todas as funções no banco, de 2001 a 2022, o executivo resolveu buscar novos desafios. Nesse período de transição e de busca de um novo desafio profissional, Curti chegou a receber propostas de outras instituições financeiras. 

Mas a transição de carreira de Curti ocorreu a partir de 2016. Embora o executivo só tenha deixado o banco Safra em 2022, a ideia de sair da instituição começou depois de ele conhecer e se casar com a médica Luciana Passoni. Seu sucesso já estava em ápice, mas sua admiração pela esposa e pela área de atuação dela fez com que enxergasse um novo desafio e potencial de mercado. 

"Luciana é aquela médica raiz, já trabalhou em clínica de beira de estrada. Em 2018, ela começou a focar muito na área de estética. Foi o período que já estava começando a bombar as clínicas de dermatologia com botox e preenchimento a laser no rosto. Aí ela falou: 'Vou pra essa área de estética'. Eu falei pra ela: 'Não faz isso, porque isso logo vai ser um produto estético que vai virar uma commodity'", lembra.

Dra. Luciana Passoni, 40 anos, e José Antonio Curti, 52.
Dra. Luciana Passoni, 40 anos, e José Antonio Curti, 52.
Foto: Divulgação

Curti explica que o preço de um botox está aprisionado pelo mercado, igual ao preço da gasolina. Ou seja, o preço de produtos que viraram commodity ficam aprisionados pelo mercado, conforme a concorrência.

"Falei para ela que tinha que buscar uma especialização que trate de doença, porque se você tratar a doença, aí, sim, você vai ter oportunidade de que o teu negócio seja diferente", avalia. 

Seguindo o conselho do marido, Luciana Passoni resolveu fazer uma especialização na área de tricologia, focada no cuidado do cabelo e da pele. Essa especialidade se tornou seu diferencial.

"A natureza da especialização faz com que a diferença do negócio seja você, e não a marca do laser que você vai usar na cara da pessoa", opina Curti.

Luciana Passoni abraçou a ideia do marido e o seu sonho pelo empreendedorismo, e construiu uma clínica de luxo focada em oferecer bem-estar por meio dos cuidados com cabelos e pele. A sugestão da área foi dela mesma. 

"Perguntei se era tipo cabeleireiro, passa creme? Ela falou: 'Não, cabelo, doença de cabelo, queda de cabelo, afinamento de cabelo'. Abracei a ideia e hoje ela é uma das mais experientes médicas que tratam cabelo, não por meio de transplante, é através de tratamento capilar clínico, com medicamento, sabendo avaliar o tipo de queda de cabelo do paciente", diz o empresário, orgulhoso.  

Passoni Clinic, especializada em ciências capilares que fica na Vila Nova Conceição, em São Paulo.
Passoni Clinic, especializada em ciências capilares que fica na Vila Nova Conceição, em São Paulo.
Foto: Divulgação

Clientes globais 

Dominando o mercado e com o sucesso da sua aplicação de gestão para clínicas, a Passoni Clinic tem como clientes atores globais, banqueiros e pessoas bastante conhecidas do público. Entre um dos clientes mais famosos está o ator Caio Castro.

Curti conta que a busca por profissionais como Luciana é enorme. A clínica foi aberta em maio de 2023, com investimento inicial de aproximadamente R$ 2,5 milhões. Logo no primeiro mês, o faturamento foi de R$ 400 mil. Seis meses depois, a clínica passou a faturar entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão. Já nos últimos dois meses, o faturamento chegou próximo a R$ 2 milhões. O casal espera faturar, neste ano, R$ 19 milhões

Para atingir essa meta, Curti utiliza os mesmos critérios de quando era executivo de banco, como técnica financeira e austeridade no controle – medir tudo em número.

"Quando eu entrei, eu vi um mercado de clínicas de alto luxo com pouca técnica de gestão. Os médicos não sabem medir os custos e, portanto, não sabem ajustar o seu preço para ter uma margem condizente. Você precisa saber os seus custos para dar o preço. Não adianta você vender mais, se você vender mais um produto que dá prejuízo", finaliza.

O caminho para construir um negócio de sucesso O caminho para construir um negócio de sucesso

Fonte: Redação Terra
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Seu Terra












Publicidade