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"Expectativa de inflação tem subido", diz presidente do BC após enchentes no Sul

Presidente do BC afirma que se sentia 'desconfortável' no início deste ano com o pressuposto de que a inflação já estava sob controle

24 mai 2024 - 16h50
(atualizado às 18h02)
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Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, comentou sobre expectativas de inflação
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, comentou sobre expectativas de inflação
Foto: GABRIELA BILÓ / ESTADÃO / Estadão

As expectativas de inflação têm subido, por diferentes motivos, e isso é uma notícia ruim para o Banco Central, afirmou nesta sexta-feira, 24, o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.

"A gente vê expectativa de inflação subindo bastante", disse, durante o 10º Seminário Anual de Política Monetária, do Centro de Estudos Monetários (CEM) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), no Rio de Janeiro. "Tem vários fatores, tema de política fiscal, tema externo, junto do tema de credibilidade do Banco Central", completou.

Segundo Campos Neto, o BC "olha muito no detalhe os dados na margem" da inflação no Brasil. Ele acrescentou que tem chamado atenção mais recentemente o fato de que sempre que a inflação apresenta uma taxa mais comportada, esteja dependente de um preço de alimentação mais baixa.

"A gente começa a pensar se, por causa do Rio Grande do Sul, por causa do que está acontecendo, o preço de alimentação vai ser um pouco mais alto", afirmou o presidente do BC.

Segundo ele, a autoridade monetária também acompanha as projeções de cálculos de quanto custará a reconstrução do Estado do Rio Grande do Sul, lembrando que algumas contas vão até 2% do PIB. "Isso tem influência no fiscal na frente", lembrou.

Campos Neto afirmou que, no início do ano, se sentia "desconfortável" com o pressuposto de que a inflação já estava sob controle. "Lembro de um evento recente de um banco em São Paulo. Todos falavam que a última milha da inflação já tinha ido, que a inflação já tinha convergido. Aquilo me deixava muito desconfortável", disse.

Ele assinalou que o custo da crise de 2008 foi maior que o da pandemia de covid. "A gente viu que a crise de 2008 custou muito mais à economia global em termos de crescimento de longo prazo."

O presidente do BC comentou ainda a meta fiscal perto de zero, que faz pensar o que isso significa, gerando um questionamento maior sobre a convergência. Campos Neto mencionou o histórico de taxas de juros reais no País, ressaltando que houve melhora recente.

"A taxa de juros real está em menor do que foi no passado. (O juro real) Foi muito maior do que os emergentes por muito tempo, agora está praticamente colado. A gente vê que, ao longo do tempo, o Brasil tem sido capaz de navegar com taxas de juros reais um pouco mais baixas", apontou ele, acrescentando que o BC tem uma taxa neutra um pouco menor que a estimada pelo mercado.

Quanto ao crescimento da atividade econômica brasileira, Campos Neto disse que a expectativa do mercado é de expansão maior do que a prevista pelo BC. "A gente tem discutido o que isso significa para o aquecimento estrutural da economia", apontou.

De forma geral, o BC "vê a parte do mercado de trabalho bastante bem" no País, disse.

Fábricas chinesas

O presidente do Banco Central afirmou ainda ser preciso observar qual será o custo da capacidade ociosa em um grande número de fábricas na China. "A China é outro tema que a gente tem discutido bastante", disse, lembrando que o país asiático tem passado por uma fase de forte desinvestimento do setor imobiliário e investimento grande no setor industrial. "Dos investimentos no setor industrial, mais de 60% estão ligados a temas de eletrificação", comentou.

Ao mesmo tempo, disse, as restrições comerciais contra o país estão subindo num padrão acima do observado no passado. "Isso faz com que haja uma capacidade ociosa grande na parte de eletrificação. Vemos em várias fábricas de carros elétricos, algumas inclusive ligadas a empresas de real estate que deram errado no passado."

Neste cenário, apontou, pode ter ocorrido uma alocação ineficiente que terá impactos ainda desconhecidos. "Ficamos pensando se esse movimento de manada, conduzido por uma ideia ou um setor, não gera uma alocação ineficiente e qual o custo que isso vai ter lá na frente (na China)."

Desinflação americana

Para Campos Neto, a inflação dos EUA é tema recorrente de discussão e as autoridades financeiras vêm debatendo a situação. "A gente está sempre discutindo os EUA, perguntando de onde virá a desinflação americana", disse.

Ele destacou que, nos EUA, há forte pressão nos custos, inclusive para promoção da sustentabilidade nas cadeias produtivas. "O custo da sustentabilidade tem sido mais alto do que o imaginado anteriormente. O custo de realocação das cadeias também." Assim, haveria elevação da perspectiva da taxa de juros terminal no país.

Campos Neto disse haver um debate sobre o canal de transmissão da inflação, se seria efeito da poupança acumulada. "Há um debate se o padrão de consumo dos EUA mudou", afirmou.

O presidente do BC disse ainda que, com os preços de energia parando de cair, o segmento não dará contribuição importante no controle da inflação ao redor do mundo.

"O desafio que a gente tem agora é o preço da energia parando de cair. A energia não vai ser grande contribuidora. E a alimentação é uma grande incógnita. Parece que não temos mais grandes elementos para dizer que vamos ter uma inflação de alimentos caindo no mundo", disse.

"Quando olhamos para alimentos e energia, teve um grande pedaço da desinflação que veio dessa parte. Mas (o preço da) energia parou de cair. Na Europa, elementos indicam que isso não vai ser mais um grande contribuidor (para o controle da inflação)", continuou.

Ele observou que os índices de anomalia de temperatura têm piorado ao longo do tempo. "Quais os impactos disso em termos de preço para alimentos e energia? Há um debate muito grande no mundo entre os banqueiros centrais, que é o quanto esse tema de sustentabilidade cabe na agenda do Banco Central. Nós temos defendido que isso é muito importante porque influi na estabilidade de preços", disse.

Estadão
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