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Falta de imposto sobre fortunas custou EUR 380 bi à Alemanha

6 jul 2024 - 10h33
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Cálculo se refere a período de 26 anos. Temor de super-ricos abandonarem o país, se sujeitos a tributação de seu patrimônio, é infundado. Alemanha dispõe de mecanismos sólidos para combater evasão fiscal, mostra estudo.Os mais ricos da Alemanha tinham seu patrimônio taxado em 1% ao ano - até 1996, a partir de quando o imposto deixou de ser arrecadado. De 1997 até 2023, essa renúncia já custou ao Estado alemão mais de 380 bilhões de euros, constata uma análise publicada na terça-feira (02/07) pela Netzwerk Steuergerechtigkeit (Rede Justiça Tributária) e a ONG de desenvolvimento Oxfam.

Mudar de país para tentar evitar taxação pode sair caro para os ricos
Mudar de país para tentar evitar taxação pode sair caro para os ricos
Foto: DW / Deutsche Welle

A quantia equivale a 80% do orçamento federal previsto para 2024, de 477 bilhões de euros. Paralelamente, desde 2001 a fortuna dos 100 alemães mais ricos foi acrescida em 460 bilhões de euros.

"Uma maioria esmagadora da população na verdade é a favor da reintrodução do imposto, mas ao mesmo tempo teme a evasão fiscal dos ricos", afirmam os autores Michaela Alka e Christoph Trautvetter, da Netzwerk Steuergerechtigkeit, sediada em Berlim.

Sem medo de evasão fiscal

Sob o título Sem medo de evasão fiscal, o estudo examina com que leis o Estado alemão tem procurado impedir esse comportamento, nos últimos 100 anos. Desde a introdução do imposto de migração, em 1972, ficou caro para os super-ricos simplesmente transferir o local de residência pessoal para o exterior, pois "devem entregar na fronteira um terço do patrimônio total acumulado na Alemanha".

Alka e Trautvetter dão um exemplo: se Susanne Klatten, grande acionista da BMW e mulher mais rica de Alemanha, decidisse mudar de país, isso lhe custaria cerca de 6,5 bilhões de euros.

Pouco antes da implementação da lei, sete bilionários alemães abandonaram o país. Os legisladores reagiram a tentativas de fuga posteriores, como a da família Porsche em 2010, fechando lacunas. "Hoje a migração não tributada só é possível se o patrimônio permanece na Alemanha, sujeito a impostos", explica o estudo.

Também a transferência de empresas ou partes delas pode ficar cara. Categorias fiscais pouco conhecidas do público, como o "imposto de saída" (Entstrickungsbesteuerung ou exit tax) ou a tributação da transferência de funções, resultam em os proprietários "deverem ceder quase a metade de seu patrimônio acumulado" no país.

A sonegação de impostos clássica também ficou mais difícil desde a entrada em vigor do intercâmbio de informações automático, que permite ao fisco nacional obter dados de mais de 100 países sobre as contas bancárias locais de contribuintes alemães.

A conclusão da análise conjunta da rede Steuergerechtigkeit e Oxfam é que o temor de que, com a reintrodução do imposto sobre grandes fortunas, os bilionários abandonariam a Alemanha, não é fundamentado. Tampouco há motivo para recear que a medida resulte numa perda de postos de trabalho locais.

Culpa do governo conservador cristão-neoliberal

No geral, os autores dão boa nota à legislação tributária nacional: "Nas últimas décadas, a Alemanha estabeleceu regras abrangentes e exemplares no âmbito internacional que dificultam seriamente, se não impedem, a evasão fiscal." Portanto, a reintrodução de um imposto sobre grandes fortunas é "não só possível, como urgentemente necessária".

A possibilidade de tributar fortunas está expressamente prevista no Artigo 106 da Lei Fundamental (Constituição) alemã, cabendo as quantias arrecadadas aos respectivos estados federados.

Mas em 1995 o Tribunal Constitucional Federal considerou incompatível com a Lei Fundamental a forma como o imposto estava sendo recolhido, até então. Entre outros pontos, os juízes criticaram a base de avaliação como obsoleta e, portanto, baixa demais para a tributação de imóveis.

A coalizão governamental da época, formada pela União Democrata Cristã (CDU) e Social Cristã (CSU) e o Partido Liberal Democrático (FDP), posicionou-se contra as exigências do tribunal de uma reavaliação e em tributação imobiliária mais severa. Como justificativa, citaram a elevada alíquota fiscal máxima, de 53% - hoje limitada a 45%.

Consequentemente, o governo conservador cristão-neoliberal liderado Helmut Kohl suspendeu a cobrança do imposto sobre fortunas. A lei concernente, contudo, nunca foi revogada.

Em 1996, último ano de aplicação do imposto, recolheu o equivalente a 4,6 bilhões de euros. O presente cálculo se baseia na hipótese de que as arrecadações se manteriam na média dos últimos anos antes da suspensão. Nesse caso, até 2023 a quantia anual estaria em cerca de 30 bilhões de euros, somando, pelo menos, um total de 380 bilhões de euros.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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