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Falta estratégia para o Brasil ser líder em bioeconomia, diz presidente do Fórum Mundial do setor

País é um dos que apresentaram mais avanços em iniciativas de economia verde nos últimos 16 meses, segundo estudo do grupo, mas é preciso direcionar os negócios já existentes e dar estímulo a novos empreendimentos

18 set 2023 - 09h10
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O Brasil é um dos países com mais avanços em iniciativas de economia verde nos últimos 16 meses, de acordo com um levantamento inédito feito pelo Fórum Mundial de Bioeconomia (WBF, na sigla em inglês), que também avaliou Estados Unidos, China e Índia, entre outros. Ainda assim, a ausência de políticas públicas tira o País da vanguarda na bioeconomia, afirma o finlândes Jukka Kantola, que preside a organização. "O Brasil tem todo tipo de oportunidade para se tornar líder em bioeconomia", diz Kantola. "Há um grande potencial, mas não conseguimos medi-lo porque ainda não existe uma estratégia."

Jukka Kantola, presidente do World Bioeconomy Forum (Fórum Mundial de Bioeconomia).
Jukka Kantola, presidente do World Bioeconomy Forum (Fórum Mundial de Bioeconomia).
Foto: Pekka Peura/Divulgação/WBF / Estadão

Para além dos ganhos ecológicos, afirma Kantola, o Brasil pode se beneficiar financeiramente de uma bioestratégia, segmento que deve alcançar em breve um terço de todas as atividades econômicas no planeta, segundo pesquisa do WBF. "Os Estados Unidos atualizaram a bioestratégia recentemente e a China anunciou a primeira em maio deste ano. São quase 60 nações com uma bioestratégia em vigor."

Leia, abaixo, trechos da entrevista ao Estadão.

A Finlândia é tida como um exemplo mundial por ter incluído a bioeconomia como estratégia de crescimento. O que há de aprendizado para o Brasil?

Lançamos nossa primeira estratégia em 2014 e para nós foi bastante natural porque temos uma vasta área de terra e uma população muito pequena. Logo, há muita biomassa à disposição. Nossos especialistas e o comércio internacional têm tomado como base principalmente os produtos que são cultivados a partir dela. O Brasil conta com recursos abundantes, mas não ilimitados. Gostaríamos de ver o Brasil caminhando para uma bioestratégia própria, que não existe hoje. Quando você tem isso, cria-se uma ideia nacional de qual direção o País deveria seguir.

O que o Brasil pode alcançar caso adote políticas para o desenvolvimento da bioeconomia?

O Brasil tem todo tipo de oportunidade para se tornar líder em bioeconomia no mundo, porque certamente possui recursos vastos hoje. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dito que vai reduzir o desmatamento na Amazônia, o que é um bom indicador. Há um grande potencial, mas não conseguimos medi-lo porque o Brasil ainda não tem uma estratégia. Uma vez que isso exista, teremos mais clareza. Além disso, o Brasil é uma das maiores potências do mundo, não só da América Latina. Todo mundo respeita e gostaria de se envolver com o Brasil. Então, o País está em uma boa posição nesse aspecto.

Qual é o panorama mundial da bioeconomia?

Quase 60 nações têm bioestratégia em vigor. Especialmente nos últimos 16 meses, várias estratégias foram anunciadas. O valor da bioeconomia é cada vez mais importante e temos trabalho a fazer em todos os sentidos para melhorar a compreensão desse conceito. Estudamos como está a bioeconomia em algumas áreas selecionadas, como Brasil, Estados Unidos, Canadá, União Europeia, Índia e China. A maioria tem uma bioestratégia e alguns países estão pensando em caminhar nessa direção, incluindo o Brasil.

O senhor considera Belém, capital do Pará, como a porta da Amazônia. O Estado, no entanto, lidera o ranking de desmatamento e queimadas na Amazônia brasileira há 15 anos. Como conciliar esse desempenho com a promoção da bioeconomia na região?

Toda a nossa temporada de 2021 do Fórum de Bioeconomia foi dedicada ao Brasil e ao Estado do Pará. Investigamos o papel que a bioeconomia desempenha para eles. Foi um exercício muito bom. Eles estão percebendo que podem imprimir valor agregado a partir dos recursos que têm, mas que precisam ter uma forma compreensível e responsável para atuar com a sua própria matéria-prima. Quando se trata da Amazônia, há um número significativo de indígenas e eles precisam ter seus direitos respeitados. Quando olhamos para a bioestratégia do Pará, acho que é bastante equilibrada, com áreas preservadas dentro dela. Devo dizer que não são muitos os que têm noção das questões sociais na estratégia da bioeconomia, me parece que o Estado está fazendo um bom trabalho nisso.

Estadão
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