Como seria sua vida se você herdasse uma fortuna?
Apesar de ser o sonho de muita gente, se tornar herdeiro pode trazer algumas questões complicadas também. Afinal, quem não sabe administrar o próprio orçamento, muito provavelmente não saberá administrar uma fortuna.
Para além da herança, tem pessoas que ganham dinheiro em reality shows, em loterias e também demonstram grande dificuldade em gerenciar os prêmios.
Mas por quê?
A resposta é bastante simples: por ser imediatista, não saber fazer gestão financeira e entender pouco sobre investimentos, uma boa parte das pessoas tendem a investir o valor recebido em negócios, imóveis, carros e, dependendo da quantia, também emprestam, fazem doações sem calcular a real possibilidade e principalmente, se veem obrigados a terceirizarem parte da administração.
Se o novo rico nunca teve ou, ao menos, trabalhou num posto de combustível, será pouco provável que consiga tocá-lo bem sozinho, então terceiriza essa função. Se esse é apenas um dos negócios (porque dizem que é bom diversificar, né?) e essa pessoa resolve abrir franquias, comprar imóveis pra alugar (e emprestar pra parentes), investir em startups etc., vai ter pouco tempo pra se dedicar, terá muita dor de cabeça resolvendo os problemas e muito provavelmente perderá o controle.
É nessa hora que os negócios começam a ir mal, que não se tem certeza se pode confiar nos funcionários e familiares, que estão a frente de cada empreendimento, e o desespero bate.
O herdeiro, que pensava que ganhar dinheiro resolveria todos os seus problemas, agora descobre que ter grana e múltiplos negócios gera um super trabalho. O tempo livre pra viajar e curtir a piscina sem pensar em nada, parece ainda mais distante, não pela falta da piscina em casa, mas pela falta de tempo e o acúmulo de estress.
Eu também queria receber uma herança ou prêmio milionário, mas eu não investiria em nada que eu já não conhecesse, em nenhum negócio que eu não dominasse. Seguiria apostando na minha carreira, imagem, no que já tenho experiência. Contrataria um consultor de finanças pessoais, de investimentos, de empresas, caso eu quisesse abrir uma.
O ego pode gritar num momento como esse, a vontade de dar logo uma finalidade pro dinheiro também, mas como consultora, que já atendi pessoas nessas situações, posso te garantir que em curto prazo o melhor a se fazer é ter calma, basicamente, não fazer nada com o dinheiro. Esperar passar a euforia e decidir de forma racional qual será o primeiro passo. Ou seja, investir numa renda fixa, comprar só o essencial, pagar algumas dúvidas, se houver, e tomar as próximas decisões com o pé no chão.
Não é porque agora você tem uma grana que nunca imaginou, que precisa decidir o que fará com cada centavo dela no ato. Manter essa grana em reservas seguras, que rendam relativamente bem, e retirar conforme precisa, deve ser a primeira prioridade. Inclusive, é assim com a cabeça tranquila que se consegue aproveitar a piscininha, a viagem...
Depois de um tempo, quando a vida boa enjoar, será o momento de pensar em trabalhar com essa grana. Com certeza haverá mais clareza e menos ansiedade pra decidir sobre algo que tem potencial para trazer felicidade e não levar a falência.
(*) Mari Ferreira é especialista em educação financeira, consultora, palestrante, criadora de conteúdo e autora do livro “Tostão Furado: Do Zero à Liberdade Financeira”.