Fundo Advent analisa compra da parte da Odebrecht na Braskem
Investidor norte-americano, que tem ex-presidente da petroquímica entre seus executivos, também está no páreo para compra da indústria química Oxiteno
O fundo americano Advent está analisando a aquisição da fatia de 38,3% do capital total que a Odebrecht, recentemente rebatizada de Novonor, tem na petroquímica Braskem, apurou o Estadão. Essa fatia tem um valor de mercado de aproximadamente R$ 14 bilhões, considerando o preço de suas ações negociadas na Bolsa brasileira. A Petrobrás possui 36% da empresa, também considerando o capital total, e é esperado que venda juntamente com a Odebrecht, conforme fontes.
O banco Morgan Stanley está conduzindo o processo e procurando eventuais interessados. Além do Advent foram procurados para analisar a aquisição, por exemplo, o fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos Mudabala e empresas do setor, como a LyondellBasell, antiga interessada. O processo é esperado para durar cerca de seis meses, disseram as mesmas fontes.
O Advent é um fundo mais conhecido por investir no varejo - vendeu recentemente, por exemplo, o Grupo Big (ex-Walmart) ao Carrefour Brasil, mas já tinha dado sinalizações de que investiria também no Brasil no setor petroquímico por aqui. Uma das indicações nesse sentido foi a contratação de Fernando Musa, que deixou a presidência da Braskem no fim de 2019, após passar dez anos na petroquímica.
A Braskem, aliás, não é a única empresa analisada pelo Advent, que segue no processo de venda da indústria química Oxiteno, colocada à venda no ano passado pelo Grupo Ultra. A Braskem é a maior fornecedora da Oxiteno, empresa avaliada em cerca de US$ 1,5 bilhão. Esse processo de venda acaba de passar pela segunda fase, na qual os interessados pelo ativo fazem uma proposta.
O Advent captou ano passado um novo fundo dedicado à América Latina. O fundo tem R$ 11 bilhões para investir na região.
Em 2019, a Odebrecht chegou perto de vender sua fatia na Braskem à holandesa LyondellBasell, mas a negociação foi suspensa após 16 meses, com o aumento da insegurança jurídica em torno da Odebrecht e por outros imbróglios, como, como o atraso na entrega de documentos à Securities and Exchange Commission (SEC) - a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA - e os danos causados em bairros de Maceió, reflexo da extração de sal-gema na região.
Petrobrás pode vender junto
A Petrobrás tem o direito de fazer a venda conjuntamente com a Novonor, se considerar o preço adequado. Ainda não se sabe, contudo, como será a visão do recém-empossado presidente da petroleira, o general Joaquim Luna e Silva sobre esse desinvestimento. Uma fonte ressalta, porém, não ver melhor alternativa para a Odebrecht, que, apesar de ser co-controladora do negócio no papel, na prática tem pouco poder na Braskem.
Considerando apenas as ações com direito a voto a Odebrecht possui 50,1% e a Petrobrás, 47%. Na B3 são negociadas apenas as ações preferenciais, que não têm direito a voto. Há alguns anos está na mesa da companhia converter todas as ações para ordinárias, de modo a migrar a listagem da empresa para o Novo Mercado da Bolsa brasileira.
Na gestão de Roberto Castello Branco na Petrobrás, a venda da Braskem começou a ser conduzida, com a estatal contratando bancos para estruturar a venda. No entanto, naquela época a então Odebrecht não estava decidida pela venda da petroquímica - e os compradores só estavam interessados na compra do controle de fato do negócio.
Procuradas, Odebrecht e Advent afirmaram que não vão comentar. A reportagem aguarda posicionamentos de Braskem e Petrobrás.