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Fundo americano adquire ações de bancos e se torna controlador da Atvos, da Odebrecht

Empresa de açúcar e álcool do grupo baiano está em recuperação judicial desde maio do ano passado; Odebrecht foi notificada a entregar as ações adquiridas, segundo uma fonte ouvida pelo Estado

4 mai 2020 - 12h59
(atualizado às 19h53)
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O fundo americano Lone Star anunciou nesta segunda-feira, 4, que assinou contrato de compra e venda de ações com o banco Natixis e se tornou controladora da Atvos Agroindustrial, empresa de açúcar e álcool do grupo Odebrecht, que está em recuperação judicial. Na petição, ajuizada hoje na 1ª Vara de Falências e Recuperação Judicial de São Paulo, o fundo afirma "estar pronto e organizado para assumir já a gestão e condução dos negócios da Atvos".

Odebrecht
Odebrecht
Foto: Ravena Rosa/Agência Brasil / Estadão

A Odebrecht foi notificada a entregar formalmente as ações adquiridas, segundo uma fonte ouvida pelo Estado. Se a empresa entregar os papéis, o Lone Star assume imediatamente. Mas pode haver resistência e questionamentos por parte do grupo baiano. Segundo um executivo próximo da empresa, a medida adotada pelo fundo antes da reestruturação é uma atitude agressiva.

Com uma dívida de quase R$ 12 bilhões, a Atvos entrou em recuperação judicial maio do ano passado. A empresa foi a primeira do grupo Odebrecht a recorrer à proteção da Justiça para renegociar seus débitos. Na época, a empresa afirmou que a recuperação judicial era "resultado da investida hostil de um fundo internacional, que por meio de processo judicial colocou em risco as operações da empresa".

O grupo se referia ao fundo Lone Star, que tinha cerca de R$ 1 bilhão em créditos a receber (terceiro maior credor da Atvos). Na ocasião, a Atvos atrasou o pagamento para o fundo americano, que entrou na Justiça e conseguiu a penhora de parte importante da produção de cana da Atvos.

Assembleia de credores

De lá para cá, as divergências continuaram até o fundo conseguir comprar as ações dos bancos que detinham garantias da empresa. Agora começa um novo capítulo nessa disputa. A assembleia para aprovação do plano de recuperação da Atvos - segunda maior produtora de etanol do País - está marcada para sexta-feira, 8, e, por ora, está mantida.

Mas o Estado apurou que um novo plano deverá ser apresentado pelo Lone Star para ser discutido com os credores. O objetivo é colocar dinheiro novo na Atvos para que ela consiga continuar operando, especialmente neste momento em que foi afetada pela crise do coronavírus.

"O grupo Lone Star Funds tem ciência da atual situação financeira das companhias que agora controla e entende a necessidade de aportes de recursos financeiros no curto prazo, comprometendo-se a realizar aportes, obter financiamentos ou de qualquer outra forma de estabilizar o caixa das companhias no curto, médio e longo prazos", diz a empresa, na petição ao juiz feita pelo escritório Thomaz Bastos, Waisberg e Kurzweil.

O valor do aporte não foi informado, mas pode ficar em torno dos R$ 300 milhões que já vinham sendo cogitados no mercado. A expectativa é que os recursos saiam dos cofres do Lone Star. No mundo, o grupo detém US$ 40 bilhões em ativos sob gestão.

Assim que assumir o controle da empresa, o fundo pretende mudar toda a diretoria e também os advogados que estão conduzindo a recuperação judicial da Atvos. Procurado, o Lone Star não quis comentar o assunto.

Além do fundo americano, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco do Brasil são os maiores credores da Atvos. Os dois bancos públicos detém 66% do total da dívida.

Em nota, a Odebrecht afirmou que a Atvos "foi surpreendida hoje com o recebimento de notificação de que ações representativas de 51% da Atvos Agroindustrial teriam sido alienadas forçadamente por credores titulares de garantia de alienação fiduciária incidente sobre essas ações". A companhia, diz em nota, está avaliando juridicamente a operação e informará oportunamente sobre a eventual tomada de medidas legais cabíveis.

"De toda sorte, como acionista do grupo Atvos, continuará apoiando a aprovação do seu plano de recuperação na assembleia designada para a próxima sexta-feira, o que é crucial para a preservação dos interesses da empresa, de seus credores e acionistas e do conjunto de seus mais de 10 mil trabalhadores."

Estadão
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