Galípolo: 'Autonomia não é virar as costas ao governo, ao poder democraticamente eleito'
O principal cotado para substituir o chefe do BC diz que 'o debate está contaminado por interpretações imediatistas'; diretor de Política Monetária diz que trabalhar com Campos Neto tem sido 'fantástico'
RIO E BRASÍLIA - O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse que a autonomia da instituição não significa virar as costas para a sociedade ou para o governo. Para ele, o debate está contaminado por interpretações imediatistas, precipitadas, de termos e propostas, que não abrem espaço à mediação de ideias. Galípolo é um dos nomes mais cotados para ser o escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para suceder ao chefe do BC, Roberto Campos Neto.
"Muitas vezes posições contrárias à autonomia são por interpretações diferentes. É importante esclarecer que autonomia não é virar as costas para sociedade, não é virar as costas ao governo, ao poder democraticamente eleito", disse Galípolo, que nesta sexta-feira, desde as 14h, participa como palestrante no evento Financial Week, da Liga de Mercado Financeiro, promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.
Segundo o diretor do BC, toda instituição pública ou privada tem de estar "aberta" às possibilidades de melhorar seu arcabouço. E, nesse sentido, disse, o corpo técnico e diretoria do Banco têm se engajado na ampliação da evolução institucional e a instituição se preocupa de forma recorrente em ser transparente e comunicar-se melhor.
Campos Neto
Trabalhar com Roberto Campos Neto tem sido "fantástico", segundo Galípolo, ao falar sobre o executivo que é cotado para substituir. "Ele tem uma experiência incrível", disse no evento, em que também defendeu a lisura da diretoria do BC e elogiou o consenso sobre a manutenção da taxa de juros na mais recente reunião do Copom.
Questionado sobre a política fiscal, ele disse que não gosta de comentar o tema. "Estive na Fazenda, sei das dificuldades de avançar nas agendas. Como Campos Neto tem falado, o esforço da Fazenda e Planejamento é evidente", disse.
Ele reconheceu que o nível da taxa de câmbio chama a atenção da instituição. A moeda americana opera nesta sexta-feira, 28, nos maiores patamares em dois anos e meio. "Neste momento, o tema que tem chamado atenção do BC é o câmbio. O câmbio tem estado bastante descolado dos seus pares, desvalorizando rápido. Temos debatido e observado câmbio e seus impactos para economia", disse. "Economia aquecida e hiato apertado sugerem desinflação mais lenta ou custosa. E um câmbio elevado também sugere desinflação mais lenta ou custosa", continuou.
O diretor do BC também afirmou que o mercado de trabalho está aquecido, mas que o Banco não enxerga um link evidente com a os preços da economia, ou seja, o movimento da inflação. Ele observou que os economistas vêm sendo surpreendidos recorrentemente com o crescimento da economia.
Mais cedo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a interrupção da queda na taxa de juros, recentemente determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), e atacou o presidente do BC, Roberto Campos Neto. Em entrevista à Rádio FM O Tempo, nesta sexta-feira, 28, o petista disse que o percentual de 10,5% para a Selic "é irreal para uma inflação de 4%" e que "não tem necessidade" e acrescentou: "Isso vai melhorar quando eu puder indicar o presidente do Banco Central, e vamos construir uma nova filosofia".
Lula afirmou que Campos Neto "pensa ideologicamente igual" ao governo anterior e que "não está fazendo o que deveria fazer corretamente". Lula afirmou que pretendia escolher um substituto "responsável" para iniciar o mandato no ano que vem.
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