Galípolo deve ser aprovado para assumir BC, mas com questionamento sobre risco de ingerência de Lula
Após ser indicado por Lula para a presidência do Banco Central, o atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, precisa ter seu nome aprovado pelo Senado para assumir o cargo em janeiro de 2025
BRASÍLIA - O economista Gabriel Galípolo deve ter o seu nome aprovado com folga pelo Senado nesta terça-feira, 8, para assumir a presidência do Banco Central no início do ano que vem. Ainda assim, a expectativa para a sabatina é de que senadores da oposição o questionem sobre a independência que ele terá em relação ao governo federal para conduzir o órgão, e há risco de que integrantes da própria base aliada reclamem do novo ciclo de alta dos juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
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Galípolo ocupa desde julho do ano passado o posto de diretor de Política Monetária do BC, e isso deve ajuda-lo a angariar votos entre os senadores, já que passou sabatina semelhante no ano passado para ocupar o cargo. Além disso, já está ambientado no Banco Central, o que o ajuda a demonstrar experiência para subir o último degrau na hierarquia do Banco.
Também conta a favor do economista o fato dele ser considerado um técnico com capacidade de diálogo com a oposição e de ter cumprido o processo de "beija-mão" com pelo menos 65 senadores no mês passado, abrindo caminho para uma votação mais tranquila.
O mandato do próximo presidente do BC terá início em 1º de janeiro, para um período de quatro anos. Ele será o primeiro a passar por esse processo desde a aprovação da autonomia do órgão, em 2021, e ficará dois anos sob o atual mandato presidencial e dois anos no próximo, qualquer que seja o vencedor das eleições de 2026.
Duas votações na terça
A expectativa é de que duas votação ocorram nesta terça-feira. Primeiro, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, onde ocorrerá a sabatina. Se o seu nome for aprovado, a indicação será levado para o plenário da Casa, onde haverá a análise em definitivo. Em ambos os casos, a votação será secreta, e o economista precisará da maioria simples dos votos.
Em conversa com jornalistas na manhã desta segunda-feira, 7, após reunião com lideranças do Congresso, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que a sabatina é prioridade do governo esta semana.
"Prioridade da reunião foi discutir a retomada do Congresso, esta semana. Tratamos como prioridade a sabatina do indicado ao Banco Central. Acompanhamento disso, o senador Jaques Wagner (PT-BA) passou um quadro da avaliação dele, do diáolgo que está sendo feito. O retorno com as bancadas, das conversas individuais que ele teve, em especial os senadores da CAE. Houve uma avaliação muito positiva da recepção do Senado", afirmou Padilha.
A expectativa no Senado
Para o senador Angelo Coronel (PSD-BA), vice-presidente da CAE, a expectativa é de votação tranquila, sem surpresas em relação ao resultado.
"Acho que será algo muito normal, ele já visitou todo mundo, acho que não haverá oposição ao seu nome. Acredito que será tudo muito protocolar para cumprir as normas do parlamento", afirmou.
Plínio Valério (PSDB-AM), líder do partido na Casa e relator da proposta de independência financeira do Banco Central, disse que Galípolo deve ser aprovado com facilidade. Durante a conversa no último mês, o economista demonstrou apoio à proposta de autonomia financeira do Banco.
"Sou oposição, mas ele é indicado do presidente Lula, que tem essa prerrogativa. Ele já visitou vários gabinetes, já conversei com ele, e para minha surpresa ele disse que era a favor da autonomia do Banco Central, que estou relatando, de autonomia financeira. Ele passa sem nenhum problema, não vejo nenhum empecilho", afirmou.
Para o senador Oriovisto Guimarães (Podemos/PR), o tema central da sabatina será a capacidade que o economista terá para demonstrar independência em relação ao governo federal.
"Acho que, fundamentalmente, será explorada a garantia de que o Banco Central terá autonomia e será independente, tanto em relação ao atual governo como ao próximo", afirmou o senador.
O entendimento é o mesmo do Senado Alessandro Vieira (MDB-SE).
"As sabatinas são sempre tranquilas, acredito que a oposição vá centrar os questionamentos na questão da independência do Banco Central", disse.
IPCA e Selic em alta
Galípolo passará pela sabatina em momento de alta da Selic pelo Banco Central. Na mais recente reunião, o Copom subiu a taxa básica de juros de 10,5% para 10,75%, em votação unânime. Tanto ele quanto os três outros diretores já indicados por Lula para o colegiado votaram pelo aperto, assim como o atual presidente do Banco, Roberto Campos Neto, e outros quatro diretores herdados do governo anterior.
Nesta quarta-feira, o IBGE vai divulgar o IPCA de setembro, e a expectativa é de uma aceleração do índice, após a pequena deflação de 0,02% no mês de agosto. Pelas projeções do departamento de Estudos Econômicos do Bradesco, a taxa deve saltar para 0,48% no mês, colocando o acumulado em 12 meses novamente próximo do teto de 4,5%. O Asa estima aumento de 0,5%, e o Banco UBS/BB projeta alta de 0,41%, com a taxa anual subindo a 4,39%.
A expectativa do mercado
Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, que prevê 0,44% para a inflação no mês, o nome de Galípolo deve ser aprovado sem problemas, mas permanecerá a dúvida em relação à sua independência. Ele lembra que o economista viajou ao México no avião presidencial na última semana, ao lado do presidente Lula.
"Essa questão da independência não é muito clara ainda. Ele estava no México quando teve o problema do avião e frequenta muito o palácio. Vai ficar a dúvida sobre como vai ser o BC nos próximos anos. O fato dele ter votado pela subida dos juros na última reunião, deve tranquilizar parte da oposição. Mas vemos a inflação acima da meta, não só pela política fiscal, por essa dúvida subjetiva quanto à independência", afirmou.
Pelos dados do Boletim Focus divulgados nesta segunda-feira, o mercado financeiro projeta inflação de 4,4% este ano, muito acima da meta de 3%, e muito próximo do teto de 4,5%. Para 2025, o número está em 3,97%, e até para os anos à frente, permanece acima da meta: 3,6% em 2026 e 3,7% em 2027.
Luis Otávio Leal, do G5 Partners, entende que o nome do economista já foi assimilado pelo mercado financeiro e a aprovação ocorrerá sem problemas.
"Acho que o Galípolo vai ser aprovado sem problemas. Pode sofrer alguma pressão da oposição na sabatina, mas no plenário não haverá problemas, principalmente porque o nome dele já foi bem digerido pelo mercado", afirmou.
Ele entende que os o economista terá uma trégua por parte do PT nos primeiros meses de mandato, mas a pressão ficará cada vez maior na medida em que se aproximarem as eleições de 2026.
"Essa trégua tem prazo de validade. Caso os juros não comecem a ser reduzidos ao final de 2025, preparando o terreno econômico para a eleição de 2026, certamente veremos uma intensificação das críticas, com a primeira salva vindo do palácio do planalto. Vai ser difícil continua a ser o "menino de ouro" de Lula neste contexto", completou.