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Galípolo nega que BC esteja em "corner" sobre Selic e diz que subir juros é "situação cotidiana"

22 ago 2024 - 15h47
(atualizado às 16h34)
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Em um discurso duro sobre inflação e juros na tarde desta quinta-feira, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que suas falas recentes não colocaram o BC em um "corner" em relação ao que será feito com a Selic em setembro, mas repetiu que a autarquia subirá a taxa básica se necessário.

Diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabríel Galípolo, fala em comissão no Senado Federal
04/07/2023
Lula Marques/ Agência Brasil/Distribuição via REUTERS
Diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabríel Galípolo, fala em comissão no Senado Federal 04/07/2023 Lula Marques/ Agência Brasil/Distribuição via REUTERS
Foto: Reuters

Nos últimos dias têm ganhado força entre instituições financeiras a avaliação de que, em função de falas recentes de Galípolo, consideradas hawkish (duras com a inflação), o BC terá que subir a Selic em pelo menos 25 pontos-base em setembro mesmo em meio à relativa melhora do cenário externo, já que as taxas futuras precificam isso.

Em evento em São Paulo, Galípolo disse discordar "respeitosamente" das interpretações do mercado sobre o BC ter ficado em um "corner", em referência a uma situação difícil.

Ao mesmo tempo, ele manteve o discurso duro das últimas semanas: "Inflação fora da meta é situação desconfortável, e ter que subir juros é situação cotidiana para quem está no BC".

No evento promovido pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Galípolo disse que havia no mercado "algum tipo de constrangimento" que interditava a percepção de que o BC poderia promover uma alta de juros, ainda que nenhum membro da autoridade monetária se sentisse constrangido a elevar a Selic, hoje em 10,50% ao ano.

Com as comunicações mais recentes do BC, conforme Galípolo, o mercado percebeu que a instituição tem "mais graus de liberdade" para decidir sobre a Selic e que todas as opções estão sob a mesa, inclusive a elevação da taxa.

No início da palestra, Galípolo disse querer reforçar seus comentários anteriores e afirmou estar satisfeito com a interpretação de suas mensagens recentes. Ele também pontuou que suas falas não apresentam dissonâncias com declarações de outros dirigentes do BC ou com as comunicações do Comitê de Política Monetária (Copom).

BUSCA DA META

Em sua participação no evento, Galípolo também citou o fato de que no horizonte relevante da política monetária, de 18 meses à frente, a projeção do BC é de inflação de 3,2% -- portanto, acima da meta de 3%.

Ele afirmou que o BC faz projeções dentro de um intervalo de confiança, acrescentando que em alguns momentos este intervalo foi visto como sinal de possível leniência da instituição na busca da meta.

"De maneira alguma se pensa ou se pode utilizar a banda da meta para reduzir o esforço da política monetária na persecução da meta, que é 3%", reforçou o diretor.

Galípolo também reiterou estar entre os diretores que consideram que o balanço de riscos para a inflação está assimétrico, com maior risco de alta, mas voltou a frisar que essa avaliação não representa um "guidance", ou orientação sobre os próximos passos da política monetária.

Em suas comunicações recentes, a autarquia citou três fatores altistas para a inflação (desancoragem de expectativas, inflação de serviços e câmbio), contra dois fatores baixistas (desaceleração global e desinflação global).

"Vários membros entendem que o balanço de risco está assimétrico... Estou entre estes", acrescentou.

"Estamos abertos, com todas as opções na mesa, consumindo dados para tomar nossa decisão na próxima reunião", reforçou.

CÂMBIO

Galípolo também repetiu que não existe uma relação mecânica entre a variação do dólar ante o real e a política monetária.

"Quando falamos que estamos dependentes de dados, de maneira alguma estamos dependentes de um dado. Estamos olhando para diversas variáveis, não apenas para a taxa de câmbio", afirmou.

Ao falar dos diferentes números, Galípolo voltou a expressar desconforto com a desancoragem das expectativas de inflação.

No relatório Focus, a projeção do mercado para a inflação para 2024 está em 4,22% e para 2025 em 3,91% -- em ambos os casos acima da meta de 3%.

"Quando olhamos para 12 meses a inflação corrente já começa a ameaçar a banda superior do teto da meta", disse. O teto da meta é de 4,5%.

Ele também afirmou que o crescimento econômico vem surpreendendo, levando inclusive a revisões da alta do PIB para 3% em 2024, o que precisa ser observado pelos formuladores de política monetária.

"Preocupação do BC é sempre zelar pela moeda e se preocupar se o aquecimento da economia pode oferecer preocupação sobre a relação entre demanda e oferta", disse Galípolo.

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