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Galípolo tem uma herança a administrar no BC, assim como tive com Paulo Guedes, diz Haddad

Ministro da Fazenda afirmou que alta de um ponto porcentual na Selic já estava 'contratada' e repetiu que nova presidência do Banco Central não pode dar 'cavalo de pau'

20 mar 2025 - 09h08
(atualizado às 09h33)
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Foto: Reprodução/Canal Gov

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira, 20, que o aumento de um ponto porcentual na taxa Selic realizado na quarta, 19, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) estava "contratado" desde dezembro, quando o Banco Central era presidido por Roberto Campos Neto, indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

"Você não pode, na presidência do Banco Central, dar um cavalo de pau depois que se assumiu", disse, durante participação no programa Bom Dia, Ministro, da EBC. "O novo presidente, com os novos diretores, eles têm aí uma herança a administrar, mais ou menos como eu tive uma herança a administrar em relação ao Paulo Guedes (ex-ministro da Economia)."

As declarações de Haddad fazem referência ao atual presidente do BC, Gabriel Galípolo, que assumiu o cargo em janeiro e foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em dezembro, o Copom aumentou a Selic em um ponto e indicou mais duas altas da mesma magnitude, em janeiro e março. Na quarta, 19, o comitê elevou os juros a 14,25% e sinalizou pelo menos mais um aumento, "de menor magnitude", em maio.

O ministro acrescentou que tanto a diretoria do BC, quanto os técnicos da autarquia são "muito respeitáveis", qualificados e "vão fazer o melhor pelo País". Disse, ainda, que o governo aprovou um ajuste fiscal relevante no fim de 2024 e está cumprindo o arcabouço fiscal e buscando cumprir a meta de resultado primário, assim como o BC tem de cumprir a meta de inflação.

"Assim como eu tenho a meta fiscal para cumprir, que é aprovada pelo Congresso Nacional, o Banco Central tem a meta cumprir, que é a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional", disse. "São metas sempre exigentes, mas que nós temos que buscar."

Inflação

O ministro disse que não é preciso causar uma recessão no Brasil para debelar a inflação. Ele afirmou que controlar o aumento de preços é tarefa do governo e do Banco Central (BC), que vão agir para chegar ao alvo. Segundo Haddad, o governo tem compromisso com o resultado primário zero e vai perseguir o objetivo.

"Eu não acredito que você precisa de uma recessão para baixar a inflação no Brasil, não acredito nisso", disse Haddad. "Eu acho que você consegue administrar a economia de maneira a crescer de forma sustentável, sem que a inflação saia do controle."

O ministro afirmou que as equipes do governo e do BC fizeram um esforço grande para construir uma relação institucional. Ele disse que a gestão do presidente Lula passou por uma "experiência inédita" com uma transição de dois anos no BC, devido à autonomia operacional da autarquia.

"É uma experiência inédita que aconteceu, e eu acredito que nós procuramos fazer da melhor maneira possível, com todas as divergências que surgiram e tudo mais, nós procuramos fazer da maneira mais civilizada possível, e concluímos esse processo de maneira êxito", disse.

A lei de autonomia da autoridade monetária estabeleceu mandatos para presidente e diretores, sendo que o do chefe da autarquia só termina dois anos depois de iniciado o mandato do presidente da República. Por isso, Roberto Campos Neto, indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, comandou o BC até dezembro do ano passado.

"Agora, nós temos uma diretoria que ainda conta com dois diretores do governo passado. Então é uma transição que, na verdade, não é nem de dois anos, é maior", acrescentou, referindo-se aos diretores do BC de Política Econômica, Diogo Guillen, e de Organização do Sistema Financeiro e Resolução, Renato Gomes, indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e cujos mandatos vão até dezembro deste ano.

Estadão
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