Geração 50+: Episódio IV - Uma Nova Esperança
É a primeira vitória contra o perverso Império da Obsolescência
É um período de retorno dos antigos profissionais. Partindo de todas as partes do país, a Geração 50+ retorna para o mercado de trabalho. É a primeira vitória contra o perverso Império da Obsolescência.
Durante os processos seletivos de candidatura, agindo de forma quase rebelde, conseguem provar sua experiência e conhecimento de forma decisiva contra um Império corporativo: A Geração Pós-2000, um conceito que desacredita e ignora toda a formação profissional do século passado, se valendo de um poder suficiente para destruir as carreiras de uma geração inteira.
Acuados pelos sinistros agentes do Império da Obsolescência, a Geração 50+ apressa-se em voltar para se reestabelecer e construir uma nova narrativa, se valendo de conhecimentos que podem salvar os novos mercados e restaurar a liberdade profissional...
"Há muito tempo atrás, em uma galáxia muito distante"...
No ano de 1976 George Lucas, um jovem cineasta, deu início à produção de Star Wars, um filme que, em seu lançamento no ano seguinte, mudaria para sempre a história dos filmes de ficção e aventura no cinema. Como não conseguiu contratar os serviços de um dos melhores técnicos em efeitos especiais daquela época, aceitou a indicação para ter John Dykstra chefiando sua equipe, apesar de sua curta experiência no ramo.
O que Lucas queria em seu filme em termos de efeitos especiais nenhum estúdio havia feito antes. Era um desafio inédito. Sem referências anteriores, sem escolas de formação, Dykstra criou tudo do zero combinando sua imaginação com múltiplos conhecimentos que aperfeiçoavam antigas técnicas de filmagem e produção. Assim conseguiu comandar uma equipe tão jovem quanto ele. E eles fizeram história, uma história que rendeu seis Oscars, incluindo o de “Melhores Efeitos Visuais” dividido entre Dykstra e seu time.
Esse foi apenas um entre milhares de outros cases profissionais dos anos 70 aos 90, em que a maioria dos profissionais se formou trabalhando, com pouca ou quase nenhuma base teórica formal. Aqui no Brasil existiam apenas duas formas de aprender uma profissão nessa época: em faculdades ou nos cursos técnicos de curta duração, como Senai, Senac e Instituto Universal Brasileiro.
Você entrava em uma empresa geralmente em um cargo básico e graças à convivência com profissionais mais graduados acontecia um aprendizado informal. Aos poucos vinha o crescimento profissional apoiado pelos colegas e reconhecido pelas chefias. Era algo sem qualquer programação ou planejamento – totalmente incerto.
Mesmo com todas essas condições adversas para aprendizado e desenvolvimento, o mercado no geral formou excelentes profissionais, que em seus currículos traziam mais experiência comprovada do que diplomas e certificados. Profissionais moldados na forja a martelo, ferro e fogo.
O Império contra-ataca
O início dos anos 2000 trouxe a imberbe internet, que estava se apresentando para o mundo. Surgiram escolas de formação profissional para atender às novas profissões geradas pelo mercado digital e corporativo. Esse movimento foi tão forte e marcante que destacou a geração que nasceu nesse novo universo informacional, em detrimento da antiga geração, que foi estigmatizada como obsoleta e de difícil capacidade em se adaptar ao novo.
Entre os anos de 1988 a 2018 o Ministério da Economia registrou um aumento de 294% no número de trabalhadores 50+ passando de 2,1 milhões para 8,5 milhões. Em meados de 2019, começaram os primeiros movimentos de conscientização e valorização desse grupo.
No mundo teórico existe a Revolução 50+ como uma fonte de novas ideias, inovação e inclusão, no mundo real a tal revolução é tratada como um estalinho de São João. São poucas as empresas que realmente trabalham esse conceito de forma efetiva, como a Stella Barros, PepsiCo Brasil, Portland, Credicard e Banco Neon, por exemplo.
A Portland abriu em dezembro passado um processo seletivo incluindo os profissionais 50+, mas o fez de forma pessoal, analisando as experiências profissionais e suas visões de soluções para problemas vistos como prioritários conforme a vivência de cada um. Nas palavras de seu sócio fundador Bruno Hoëra “como publicitário, acredito que está na hora de entendermos que para rejuvenescer as marcas precisamos amadurecer nossos times”.
O número de empresas abertas para essa geração poderia ser bem maior, mas o problema é como chegar até elas através dos sistemas hostis de contratação. Mesmo com a valorização do conhecimento e experiência dos 50+, surgiu um problema para esses profissionais serem contratados. A maioria dos processos seletivos se inicia em plataformas online, que a partir de uma série de critérios elimina os candidatos até a fase da entrevista. Mas nessa triagem (e nos anúncios) são pedidas formações acadêmicas e/ou certificados de cursos emitidos por instituições de ensino profissionalizante que se muito têm dez anos de funcionamento. Ou se pede experiência em campos de atuação relativamente recentes (como marketing digital) e isso sumariamente elimina o candidato 50+ em detrimento do seu conhecimento acumulado. Resumindo: em um processo seletivo automatizado saber operar um programa ou ter feito um curso com algum influencer conta mais do que a experiência pra se chegar a uma entrevista e à análise fina do currículo.
Outro fator é que a Geração 50+ inaugurou a hoje chamada “portfolio career”. Quem viveu os anos 80/90 sabe muito bem como tudo era economicamente instável nos tempos de hiperinflação, o que afetava diretamente todo o mercado de trabalho, obrigando as pessoas a se reinventarem constantemente, a mudarem de atuação temporariamente entre uma crise econômica e outra. Isso acabou por formar os primeiros profissionais multidisciplinares, que por terem tantas áreas de atuação distintas são vistos como não-qualificados. E assim o problema toma a forma de um nó górdio que ninguém consegue desatar, levando os RHs a fazerem como Alexandre o Grande, cortando-o fora com uma espada, sem resolvê-lo de forma devida.
Com tudo isso, temos hoje um império mercadológico new generation que está se estagnando aos poucos, mas que não sabe como lidar com a aliança rebelde dos 50+, que pode destravar esse quadro. Enquanto isso empurram o desafio de uma “oportunidade de trabalho” que pede diferenciais como cinco anos de experiência em metaverso avançado.
O retorno de Jedi
Tecnologia é ferramenta, cursos e palestras são ferramentas e uma ferramenta qualquer pessoa dedicada domina totalmente. Já a experiência não, ela não vem em um pacote de Miojo, que depois de três minutos no fogo já está pronta para ser consumida. Ela vem do conhecimento aplicado, testado e validado para bem ou para mal.
Quanto mais experiente o profissional for, maior será sua visão global sobre o trabalho, pois como o comportamento humano é cíclico com variações de tema, formato e cor, ele já conhece o roteiro, sabe como agir e como prever as consequências. Tem uma visão mais apurada e rica sobre inovação e impacto, já passou por mudanças sociais, políticas e econômicas, já teve sonhos, já realizou sonhos, já teve sucesso, já teve uma pilha de fracassos e isso é único e pessoal, cada profissional 50+ é um repertório vivo disso tudo com uma sede eterna em aprender mais e colocar tudo o que sabe em prática.
Sem os ensinamentos de Obi Wan Kenobi e o treinamento com o mestre Yoda, Luke Skywalker ainda seria um fazendeiro no meio do deserto e não teria salvo a galáxia com seus companheiros. Facilite essa parte da jornada para sua empresa, para seus clientes, para sua marca através de mentores 50+ em sua equipe e se surpreenda com os resultados.
(*) Nikki Nixon é especialista em Processos Criativos, palestrante e fundador da Deuses e Monstros – Escola de Artes.