Script = https://s1.trrsf.com/update-1731943257/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Governo paralisa R$ 1 bi em recuperação ambiental

Valor corresponde a multas por infrações ambientais convertidas em projetos de recuperação, feitos por ONGs, que Meio Ambiente quer brecar

14 mar 2019 - 05h10
(atualizado às 08h10)
Compartilhar
Exibir comentários

BRASÍLIA - O governo mandou frear a contratação de 34 projetos de recuperação ambiental que estavam prontos para serem iniciados pelo Ibama, programas que seriam realizados nas bacias dos Rios São Francisco e Parnaíba, com investimentos de mais de R$ 1 bilhão. A ordem partiu do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que não quer mais a participação de organizações não governamentais nos projetos federais.

O investimento bilionário sairia do bolso de grandes empresas, como a Petrobrás, que foram multadas pelo Ibama por causa de infrações ambientais. Como o pagamento dessas multas demora anos para ocorrer, o órgão de fiscalização criou, em 2017, um programa de conversão de multas. Com o desconto de 60% no valor da autuação, a empresa autuada pode escolher um projeto de recuperação ambiental e financiá-lo.

Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles é entrevistado no Roda Viva em São Paulo (SP), nesta segunda-feira (10)
Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles é entrevistado no Roda Viva em São Paulo (SP), nesta segunda-feira (10)
Foto: Ronaldo Silva / Futura Press

Esses projetos, selecionados por uma comissão técnica do Ibama ao longo do ano passado, foram feitos por organizações sem fins lucrativos. O governo, porém, entende que são as próprias empresas autuadas que devem contratar e realizar seus projetos.

O Ibama, conforme apurou o Estado, já estava pronto para dar início à contratação de 14 projetos de recuperação da bacia do Rio São Francisco, um dos mais prejudicados em todo o País, e 20 do Parnaíba. Seriam alocadas "cotas" de conversão de multas para o Velho Chico que somam R$ 850 milhões. Outros R$ 200 milhões em cotas seriam destinados ao Parnaíba.

Na Casa Civil, a minuta de um novo decreto que deve ser publicado pelo governo nos próximos dias acaba com a chamada "conversão indireta" de multas, como é conhecida essa modalidade que permite a atuação das ONGs.

A reportagem questionou o ministro e o Ministério do Meio Ambiente sobre as motivações de paralisar a conversão indireta e a contratação de organizações não governamentais. Por meio de nota, o MMA declarou apenas que "a minuta de decreto ainda em discussão amplia e estimula as formas de conversão direta e poderá, eventualmente, contemplar esses projetos citados e outros também considerados relevantes".

O ministério não falou sobre as razões da suspensão dos contratos com as ONGs. Procurado, o Ibama não comentou. As organizações não comentam o assunto e aguardam uma posição conclusiva do governo.

O Ibama já tinha contabilizado cerca de 900 multas de empresas que manifestaram interesse em fazer a conversão indireta de suas autuações. Essas multas somam cerca R$ 2,6 bilhões em valores reais. Com os descontos da conversão, chega-se ao R$ 1 bilhão de investimentos previstos. O órgão ambiental também trabalhava em um terceiro edital para a contratação de projetos de recuperação da bacia do Rio Taquari.

As multas do Ibama

Entre 2011 e 2016, o total de multas aplicadas pelo Ibama chegou a R$ 23 bilhões. Desse montante, apenas R$ 604,9 milhões foram efetivamente pagos, o que corresponde a 2,62% do total. O Ibama aplica cerca de 8 mil multas por ano, somando cerca de R$ 4 bilhões. Os pagamentos, em média, nunca ultrapassam 4% desse valor.

O interesse de empresas na conversão indireta das autuações está associado ao desconto de 60%, além do fato de não terem de contratar e assumir estudos para tocar programas ambientais. No caso da conversão direta, sem as ONGs, o desconto é de 35% e elas devem estar à frente das iniciativas. Na lista de interessados em contratar projetos já elaborados pelas ONGs estão, inclusive, instituições do agronegócio.

Veja também

Supremo decide se corrupção pode ser julgada na Justiça Eleitoral:
Estadão
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade