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Governo piora projeção e estima déficit fiscal de 28,8 bilhões em 2024

Equipe econômica sobe estimativa de gastos em R$ 20,7 bilhões e reduz receitas em R$ 6,4 bilhões; contingenciamento evitou que governo descumprisse piso da meta

22 jul 2024 - 16h06
(atualizado às 16h16)
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Palácio do Planalto, um dos edifícios que compõem os imóveis sob responsabilidade da Presidência da República.
Palácio do Planalto, um dos edifícios que compõem os imóveis sob responsabilidade da Presidência da República.
Foto: Dida Sampaio/Estadão / Estadão

BRASÍLIA - Depois de anunciar um congelamento de despesas de R$ 15 bilhões, na última semana, o governo federal piorou nesta segunda-feira, 22, a projeção de déficit para este ano. Agora, a estimativa é de que as contas públicas vão fechar no vermelho em R$ 28,8 bilhões - no piso da banda (intervalo de tolerância), já que o centro da meta é déficit zero.

Isso porque a meta tem uma margem de tolerância de 0,25% do PIB, para cima e para baixo. O déficit de R$ 28,8 bilhões, portanto, é o limite inferior para o cumprimento da meta.

As despesas foram revistas para cima em R$ 20,7 bilhões, enquanto as receitas foram cortadas em R$ 6,4 bilhões. Sem o contingenciamento da última semana, de R$ 3,8 bilhões (também houve bloqueios de R$ 11,2 bilhões), o déficit estimado seria de R$ 32,6 bilhões - o que levaria a um descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Com o corte, contudo, a equipe econômica mirou o piso da banda permitido pela legislação.

Pelo lado das despesas, os gastos obrigatórios foram revistos para cima em R$ 29 bilhões, enquanto as discricionárias (não obrigatórias) foram revistas para baixo em R$ 8,3 bilhões. A principal mudança aconteceu com o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que saltou 6,4 bilhões. Logo em seguida, vieram as despesas com a Previdência, com mais R$ 4,9 bilhões.

Também houve aumento na projeção de despesas de R$ 1 bilhão com pessoal e encargos sociais, R$ 800 milhões em complementação do Fundeb e R$ 100 milhões com o programa Proagro. Em créditos extraordinários, houve aumento de R$ 14,2 bilhões, em virtude das medidas de socorro ao Rio Grande do Sul. Essa despesa, contudo, não é contabilizada no cumprimento da meta.

Desoneração da folha

O governo também ampliou as renúncias previstas com na arrecadação da Previdência Social, em razão da desoneração das folhas de pagamentos dos municípios - houve uma redução de R$ 5,2 bilhões.

Após um embate com o Legislativo contra a medida, o governo recorreu ao STF e obteve uma liminar suspendendo os efeitos da desoneração. Paralelamente, porém, a equipe econômica abriu uma negociação com senadores para a votação de um projeto de lei que contemple uma fonte de financiamento para a política pública, que atende também setores econômicos intensivos em mão de obra. Juntos, eles incluem milhares de empresas que empregam 9 milhões de pessoas.

O projeto de lei tinha previsão para ir à votação antes do recesso parlamentar, mas não houve acordo entre os senadores e a equipe econômica sobre as medidas de compensação. Pouco antes do recesso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pediu para estender o prazo para se chegar a um acordo. A nova data é dia 11 de setembro.

Entre as medidas apresentadas pelo Senado estão a repatriação de valores investidos por brasileiros no exterior e uma espécie de refis para dívidas de empresas com agências reguladoras. O Ministério da Fazenda tem sustentado que as ações são insuficientes para cobrir toda a despesa com a desoneração, inicialmente estimada em pouco mais de R$ 26 bilhões neste ano. O Senado tem uma projeção menor de renúncias, ao redor de R$ 17 bilhões.

Receitas

Entre as receitas, houve redução no previsto com julgamentos de grandes causas no Carf, estimado em R$ 55,6 bilhões neste ano, mas que foram reduzidas, agora. A previsão é de que entrem nos cofres da União R$ 37,7 bilhões de julho a dezembro.

Nas concessões, o governo reduziu em apenas R$ 900 milhões a estimativa de receitas neste ano, mantendo a projeção para o ano em R$ 24,3 bilhões. Analistas têm apontado que esse número é de difícil realização, uma vez que arrecadação prevista com concessões no setor ferroviário, por exemplo, ainda não saíram do papel.

Diante das revisões para baixo do resultado fiscal, jáconsolidou a percepção de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não está perseguindo o que se convencionou chamar de "centro" da meta fiscal, que prevê déficit zero neste ano - ou seja, um equilíbrio entre receitas e despesas, sem considerar os juros da dívida pública.

No final de maio, a Consultoria de Orçamento, Fiscalização e Controle (Conorf) do Senado Federal apontou que, na prática, o limite inferior da meta - que abre espaço para um rombo de até R$ 28,8 bilhões em 2024 - passou a ser o alvo efetivo. "Eles não estão trabalhando com o centro da meta, e sim, com o limite inferior", afirmou ao Estadão à época o consultor-geral de Orçamento do Senado, Flávio Diogo Luz.

Novo congelamento à vista

Economistas ouvidos pelo Estadão avaliaram como positivo o anúncio feito por Haddad de um congelamento de R$ 15 bilhões em recursos do Orçamento deste ano, mas ponderam que será necessário uma nova contenção de despesas, de modo a cumprir ao menos o piso da meta fiscal zero deste ano.

Segundo os analistas, para o cumprimento do piso da meta, a contenção deveria ser da ordem de R$ 26,4 bilhões - embora haja divergências nas previsões. Assim, analistas já preveem que o restante da contenção seja anunciada no relatório de setembro.

Qual a diferença entre bloqueio e contingenciamento?

No contingenciamento, o governo congela despesas quando há frustração de receitas, a fim de cumprir a meta fiscal (saldo entre receitas e despesas, sem contar os juros da dívida). Para este ano e para 2025, a meta é de zerar o déficit das contas públicas.

Como a meta tem uma banda (intervalo de tolerância) de 0,25 ponto porcentual do PIB para cima e para baixo, o governo cumpre a meta desde que não extrapole o piso da banda - ou seja, um déficit de R$ 28,8 bilhões.

Já o bloqueio é realizado para cumprir o limite de despesas do arcabouço fiscal. Assim, quando há aumento de gastos obrigatórios (como aposentarias, por exemplo), o governo bloqueia despesas não obrigatórias (como custeio e investimentos) para compensar.

Estadão
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