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Grupo chinês Higer Bus terá fábrica de ônibus elétrico no Ceará

Fábrica deve começar a montagem dos veículos em dois anos, com capacidade inicial de 300 a 400 ônibus por ano; investimento total previsto para a planta é de R$ 260 milhões até 2027

14 set 2022 - 14h49
(atualizado às 19h46)
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A chinesa Higer Bus vai investir US$ 50 milhões (cerca de R$ 260 milhões) em uma fábrica de ônibus elétricos na região de Pecém, em Fortaleza (CE) de olho no potencial do segmento urbano no País. A montadora já investiu US$ 10 milhões (cerca de R$ 50 milhões) no desenvolvimento de um veículo destinado ao mercado brasileiro, que acaba de receber homologação, e o plano inclui oferecer, num segundo momento, ônibus a hidrogênio montados em território nacional. O grupo prevê ainda produzir, no futuro, caminhões pesados movidos com o combustível localmente.

Modelo elétrico da chinesa Higer Bus
Modelo elétrico da chinesa Higer Bus
Foto: Divulgação/Higer Bus / Estadão

Inserida em um grupo chinês de capital privado com 15 empresas do setor automotivo, a Higer Bus é voltada principalmente para exportação. No Brasil, a companhia é representada pela TEVX Motors Group e o projeto de montagem local prevê o abastecimento de todo o mercado sul-americano. "Identificamos o Brasil e a América do Sul como os maiores mercados no segmento de ônibus urbanos. Em seu plano de expansão, a Higer viu a oportunidade de entrar nesse negócio, principalmente com o projeto de eletrificação dos ônibus de São Paulo", afirma o diretor geral da Higer Bus para América do Sul, Marcelo Barella.

Modelo elétrico da chinesa Higer Bus Foto: Divulgação/Higer Bus

A fábrica do Ceará deve começar a montagem dos veículos em 2024, com capacidade inicial de 300 a 400 ônibus por ano e investimentos da ordem de US$ 20 milhões (R$ 103 milhões). A linha será de ônibus 100% elétricos plug-in (a bateria, carregados diretamente na tomada). A previsão é dobrar a capacidade de produção entre 2026 e 2027, quando o segundo estágio da planta - que consumirá investimentos de US$ 30 milhões (R$ 155,3 milhões) - entrará em operação, com a pintura local dos veículos.

O grupo chinês buscou parceiros para desenvolver o projeto localmente. Para o fornecimento de eixos, a fabricante escolhida é a ZF, referência no segmento. As rodas serão da Alcoa; baterias, da CLTL, em projeto conjunto com a Moura, além de outras empresas como Siemens e Bosch. "Escolhemos o Ceará porque identificamos que, hoje, é o maior polo de desenvolvimento de hidrogênio do País", diz Barella.

Segundo ele, o grupo também pretende começar a executar o plano de montagem local de caminhões movidos a hidrogênio. O executivo explica que a empresa escolheu trabalhar no Brasil com a linha pesada - por isso, os modelos a bateria não fazem sentido, pois quanto maior o caminhão, maior a bateria e, consequentemente, menor a capacidade de transporte de carga.

"Queremos trazer uma tecnologia de ponta. Quase 3 mil veículos pesados entre ônibus e caminhões a hidrogênio já circulam na China. Grandes empresas querem que seus produtos sejam transportados por veículos zero emissão", diz o executivo.

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Carroceria

No Brasil, a também chinesa BYD já vem atuando há alguns anos, fornecendo chassis de ônibus elétricos. Barella esclarece que a Higer optou por trabalhar com veículos que têm carroceria integrada, desenvolvida e produzida de forma personalizada pela montadora. Com isso, a empresa não comprará carrocerias de fabricantes como Marcopolo e Caio. "No segmento elétrico, peso e espaço são muito importantes e influenciam na tecnologia. Optamos por usar carroceria integral. Também queremos veículos com identificação própria."

Já no caso de caminhões elétricos, a montadora que lidera essa corrida no Brasil é a Volkswagen. Com produção em Resende (RJ), a marca vem desenvolvendo há alguns anos o e-Delivery, um caminhão leve 100% elétrico vocacionado a entregas urbanas. O primeiro grande cliente a apostar na frota eletrificada da montadora foi a Ambev.

Barella afirma que os caminhões que serão montados pela empresa no País terão motor elétrico movido a célula de hidrogênio da Toyota. "A Toyota é líder nessa tecnologia", observa. Ele relata que a companhia deve trazer a primeira unidade do caminhão a hidrogênio em meados de janeiro do ano que vem para a realização de testes iniciais para o desenvolvimento de um plano de negócios.

Licitações

Barella afirma que a prefeitura de São Paulo tem como compromisso comprar 2,6 mil ônibus elétricos até 2024, o que deve trazer uma importante demanda para o segmento. O município de São José dos Campos também tem planos de ter uma frota elétrica de ao menos 400 ônibus urbanos. Cidades como Curitiba (PR), Niterói (RJ), Recife (PE) e Salvador (BA) também já iniciaram planos de eletromobilidade.

A Higer Bus tem como parceira a Enel X, do grupo italiano Enel, que vai oferecer infraestrutura de energia, fornecimento de energia, gestão de carregadores e arrendamento para operadores e municípios. "Isso permite que a prestação mensal caiba no bolso dos operadores, é o mesmo modelo que está sendo feito no Chile."

Ele acrescenta que, mesmo em um contexto macroeconômico desafiador, a eletrificação da frota traz redução importante de custos, diante da escalada do petróleo. "Os operadores já entenderam que eletrificar a frota traz redução dos custos com diesel e também com manutenção. Com financiamentos de longo prazo, o modelo é viável, é uma aposta não só do Brasil como em toda a América Latina", assinala.

Entraves

A infraestrutura de carregamento de veículos 100% elétricos é um dos principais entraves para a expansão desse mercado no País, de acordo com o diretor de desenvolvimento de negócios da consultoria automotiva Jato Dynamics, Milad Kalume Neto. "Veículos elétricos de todos os portes ainda têm um desafio grande no mercado brasileiro, não temos postos de carregamento suficientes. No caso do ônibus, é preciso levar em consideração que estes veículos vão ficar uma parcela significativa do dia parados, carregando", diz Neto.

Segundo o especialista, a autonomia das baterias é um problema crucial para a eletrificação das frotas no mundo todo. Por outro lado, Neto observa que os custos operacionais de elétricos, de maneira geral, são mais baixos, porque estes veículos têm muito menos peças. "No médio e longo prazo, a economia é grande, apesar do investimento inicial mais alto."

Para o sócio da Bright Consulting, Cassio Pagliarini, a disparada do preço do lítio com a guerra na Ucrânia é um fator adicional que desafia a expansão dos veículos 100% elétricos. "Quanto maior o veículo, maior o preço, as baterias são muito caras", avalia. "As prefeituras estão combalidas com a pandemia, é preciso verificar como vai ficar a questão do investimento", diz Pagliarini.

Por outro lado, ele salienta que o custo por quilômetro rodado é muito menor no caso de elétricos. "O motor elétrico é mais eficiente e a energia elétrica acaba sendo mais barata do que os combustíveis fósseis. Um ônibus elétrico pode ter um custo até cinco vezes menor do que os convencionais", esclarece. "Todas as operações com utilização intensiva são beneficiadas por motores elétricos."

Estadão
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