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Guerra gera incertezas para agronegócio, dizem especialistas

Expectativa de novos aumentos de petróleo e de fertilizantes deve reduzir projeção de rentabilidade de produtor brasileiro

26 fev 2022 - 05h10
(atualizado às 08h54)
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Guerra gera incertezas para agronegócio, dizem especialistas
Guerra gera incertezas para agronegócio, dizem especialistas
Foto: Eduardo Monteiro/Divulgação / Estadão

guerra entre a Rússia e a Ucrânia deve reduzir a rentabilidade da agricultura brasileira neste ano. Se de um lado os dois países são importantes produtores mundiais de grãos, como trigo e milho, respectivamente, e os conflitos devem diminuir a oferta mundial desses itens e pressionar os preços, de outro os custos de produção da agricultura, que vinham subindo, devem aumentar ainda mais.

A Rússia é o segundo maior produtor e exportador mundial de nitrogênio e o terceiro maior em fósforo e potássio, insumos básicos para a formulação de fertilizantes. Além disso, o aumento do preço do petróleo afeta um custo crucial no campo: o do óleo diesel usado para mover máquinas e no transporte das cargas.

Entre grãos, algodão e lavouras permanentes, como café, cana e laranja, o lucro líquido dos agricultores brasileiros, descontados impostos e despesas financeiras, deve atingir neste ano R$ 25 bilhões. Seriam R$ 20 bilhões a menos do que o obtido no ano passado (R$ 45 bilhões), nas contas do economista Fabio Silveira, sócio da consultoria Macro Sector. Esse lucro menor esperado para este ano deve ocorrer mesmo com receita nominal recorde projetada em R$ 1 trilhão.

Nessa estimativa, o economista considera as pressões de custos advindas do conflito entre Rússia e Ucrânia, como a alta do petróleo e dos fertilizantes. "Antes da eclosão da guerra, a rentabilidade já seria menor, pois o custo vinha subindo."

Para chegar a essa cifra, ele considerou avanços de um dígito nos preços dos grãos, que já estão hoje em patamares elevados. A perspectiva é de que, com a alta dos juros nos Estados Unidos, os investimentos especulativos de fundos em commodities devem migrar para a compra de bônus do Tesouro americano. Com isso, os preços das matérias-primas cotadas nas Bolsas internacionais perdem impulso, explica Silveira. "O balanço entre custo e receita não é favorável ao produtor brasileiro, porque os preços da soja e do milho não terão uma elevação que compense o aumento de custos dos insumos."

Nova safra

Por conta da forte pressão de custos turbinada pelo conflito, Guilherme Bellotti, gerente da consultoria Agro-Itaú BBA, diz que as margens dos agricultores na safra 2022/2023, que começa a ser plantada a partir de outubro deste ano, devem ser menores do que as registradas na safra 2021/2022. "A rentabilidade deverá ser menor, a menos que tenha um impulso muito grande nos preços das commodities", afirma o analista.

Mas, assim como Silveira, ele ressalta que o patamar de preços das matérias-primas agrícolas hoje já está num nível elevado, e ele projeta a manutenção desse nível.

Custos

"Um dos maiores impactos que a guerra tem sobre a agropecuária brasileira é em relação ao aumento de custos de produção", afirma Bruno Lucchi, diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). "20% do NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) que o Brasil compra vem da Rússia", diz. Ele observa que, como esses produtos já vinham aumentando de preço, muitos produtores haviam optado por adiar, para o segundo trimestre, a compra de adubo para a safra que começa a ser plantada em outubro. A expectativa era de que os preços dos fertilizantes recuassem no período.

No entanto, com a guerra, o quadro mudou. "O produtor está revendo a sua estratégia, e terá de buscar fornecedores confiáveis que garantam a entrega do fertilizante no segundo semestre, quando ele for plantar. Além do risco de desabastecimento que passou a existir, os custos podem subir ainda mais."

Outro custo importante para a economia e em especial para agricultura é o dos combustíveis. Com o barril de petróleo acima de US$ 100, o preço do diesel tende a subir. "A agropecuária está no interior e as distâncias são grandes, o que afeta o custo do frete e do escoamento da produção", diz Lucchi. Ele lembra também que muitos defensivos usados nas lavouras têm como matéria-prima básica o petróleo, o que significa mais pressão de custos.

O dólar, que vinha perdendo força em relação ao real antes da eclosão do conflito, é outro fator que coloca mais pressão nos aumentos de despesas no campo. Com o aumento da incerteza, o câmbio voltou a subir e grande parte insumos da agricultura é dolarizada.

Alta dos grãos deve impactar carnes e aves

O impacto do conflito entre Rússia e Ucrânia também provoca estragos na cadeia da pecuária. Criadores de bovinos, suínos e aves, que têm boa parte de custos baseada no consumo de grãos (como milho e farelo) para alimentar os animais, terão pela frente um cenário mais complicado.

A Ucrânia é uma grande produtora de milho e a Rússia, um dos maiores produtores de trigo. Mesmo que o trigo não seja usado como ração no Brasil, quando o preço do grão sobe ele puxa a cotação de outros grãos.

Apesar da alta moderada esperada para o preço do milho, a principal fonte de ração animal, na casa de um dígito, analistas afirmam que o nível atual das cotações do grão já é muito elevado e pressiona custos. "O aumento dos preços das commodities vai impactar no custo das cadeias de produção de aves, suínos e bovinos", afirma Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA.

Ele diz que essa alta adicional de preço do milho por conta do conflito piora um quadro que já era crítico para muitos pecuaristas. Isso porque houve quebra na segunda safra de milho de 2021, e a primeira safra do grão deste ano foi afetada pela seca no Sul.

Estadão
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