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'Há formas de impedir que a Petrobrás assuma prejuízo com interferências', diz candidato ao conselho

Marcelo Gasparino sugere que a política de preços de combustíveis da estatal, que motivou a troca na presidência da companhia, seja tratada nos comitês de investimentos e de minoritários

17 mar 2021 - 08h41
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Depois da interferência do governo federal, que decidiu pela substituição do presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, pelo general Joaquim Silva e Luna, os olhos do mercado se voltaram ao Conselho de Administração da estatal, órgão fiscalizador da empresa. "Há formas de impedir que Petrobrás assuma prejuízos de interferências. O conselho é o guardião da governança corporativa da Petrobrás", afirma o conselheiro fiscal da petroleira desde 2019 Marcelo Gasparino, que acaba de ser indicado ao Conselho de Administração da petroleira como representante dos minoritários.

Segundo ele, que também é conselheiro da Vale e Eternit, a questão da paridade no preço dos combustíveis causou importante reação dos acionistas da companhia. Ele sugere que tal questão poderia ser tratada dentro dos comitês de investimentos e de minoritários, de forma a impedir que a companhia assuma "qualquer prejuízo em relação de qualquer interferência em sua política energética nacional".

A Assembleia-Geral Extraordinária que vai destituir Castello Branco do Conselho de Administração da Petrobrás e eleger os novos conselheiros está marcada para o dia 12 de abril. Veja, abaixo, os principais trechos da entrevista.

Marcelo Gasparino, conselheiro fiscal e candidato ao Conselho de Administração da Petrobrás.
Marcelo Gasparino, conselheiro fiscal e candidato ao Conselho de Administração da Petrobrás.
Foto: Claudia Mifano/Divulgação / Estadão

Qual a razão de os acionistas minoritários da Petrobrás se unirem para buscar uma cadeira a mais no Conselho de Administração?

Os investidores institucionais estão mais conscientes quanto ao seu papel junto às companhias abertas e quanto às regras do jogo. Em qualquer companhia com controlador que detenha 50,5% das ações ordinárias, os minoritários têm a possibilidade de eleger até o mesmo número de assentos. No caso da Petrobrás, para essa eleição de oito assentos, os minoritários poderiam buscar eleger até três conselheiros, mas optaram em concorrer a apenas duas vagas.

A indicação do seu nome tem apoio dos grandes acionistas minoritários da companhia?

Considerando o porte da Petrobrás, sim, do maior acionista local da companhia e de outros institucionais. Como foi uma decisão tomada nesta semana, apenas dois acionistas estão subscrevendo a indicação, o FIA Dinâmica Energia e o RPS Partners, mas outros institucionais foram procurados e declararam apoio aos dois candidatos, eu e o Leonardo Antonelli, que tem feito um excelente trabalho no conselho da petroleira.

Qual a visão desse grupo em relação ao futuro da Petrobrás?

Trata-se de uma estatal, e assim imagino que continuará sendo, mas desenvolvendo suas atividades em caráter de livre competição com outras empresas e segundo as condições de mercado, de onde vem a necessidade de manter o foco no 'core business' e onde ela tem excelência operacional, que é a exploração e produção de óleo e gás em águas profundas. Em decorrência de operações desastrosas no passado, a companhia vem trabalhando para recuperar a rentabilidade das operações e a credibilidade junto ao mercado internacional através de uma correta política de desinvestimentos, da gestão de alocação de capital e do retorno ao pagamento de dividendos, fundamental para que grandes gestoras que administram dinheiro de fundos de pensão possam acreditar numa sólida política de dividendos.

De que forma o conselho pode mitigar riscos de futuras ingerências políticas?

O Conselho de Administração é o guardião da governança corporativa da Petrobrás, que vem funcionando bem e que continuará sendo presidido pelo almirante Eduardo Bacellar, portanto, não vejo riscos de grandes mudanças de rumo. Mas a questão da paridade no preço dos combustíveis causou importante reação dos acionistas da Companhia. Há formas de impedir que a Petrobrás assuma prejuízos de interferências. Uma sugestão é que os comitês de investimentos e o de minoritários, que, segundo o estatuto da empresa, devem tratar de qualquer proposta da União que resulte em assumir obrigações e responsabilidades, sejam os ambientes para que essa questão do ajuste dos preços seja tratada. Isso poderia garantir que o assunto seja tecnicamente tratado, impedindo que a Petrobrás assuma prejuízo em relação a qualquer interferência em sua política energética nacional.

O senhor é hoje conselheiro da Vale e candidato à reeleição. Existe algum conflito?

Pelo contrário, são indústrias parecidas, cíclicas e com riscos operacionais relevantes, dado o alto impacto quando ocorrem acidentes. É prática nas grandes petroleiras ter em seu conselho pessoas da mineração, como, por exemplo, a Shell, que tem um ex-CEO da BHP e um ex-conselheiro da Rio Tinto. A maior produtora do mundo, a Saudi Aramco, tem como membro do seu conselho o ex-chairman da Anglo American. Fora isso, fui conselheiro de administração da maior estatal de energia da América Latina, a Eletrobrás e sou da Cemig, além de professor de certificação para administradores de estatais e sociedades de economia mista da ENÁ Brasil. Acredito que meus 10 mandatos como conselheiro de administração em estatais e dois como conselheiro fiscal da Petrobrás serão um diferencial para contribuir nesse mandato tampão de apenas 1 ano, que é o tempo mínimo que um profissional precisa para conhecer a companhia, sua cultura e sua estratégia.

Estadão
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