Haddad não ficou mais fraco no governo com a crise do Pix, diz Rui Costa
Mais cedo, presidente disse que ministros não poderão mais fazer portarias de temas sensíveis sem passar pela Casa Civil; onda de fake news sobre taxação do Pix levou governo a recuar de norma de fiscalização da Receita
BRASÍLIA - O ministro da Casa Civil, Rui Costa, negou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha se enfraquecido após a derrota do governo sobre a nova fiscalização do Pix; pelo contrário, "ficou mais forte", segundo o ministro. Ele reforçou que o governo nunca pensou em tributar o meio de pagamento.
"Ao contrário", disse Rui após ter sido questionado se Haddad saiu mais fraco do episódio. "Haddad saiu mais forte", comentou.
O governo Lula revogou na semana passada uma medida da Receita Federal que ampliava o monitoramento sobre transações financeiras, incluindo o Pix, diante da onda de circulação de informações falsas e distorcidas sobre o tema - entre elas, a de que o meio de pagamento seria taxado.
A declaração de Rui Costa ocorreu após a primeira reunião ministerial promovida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de 2025. O encontro durou sete horas e ocorreu na Granja do Torto, uma das residências oficiais da presidência.
O ministro foi questionado sobre a fala do presidente Lula no início da reunião de que "portarias" teriam de passar pela Casa Civil daqui em diante para evitar ruídos de comunicação. A bronca não foi direcionada nominalmente a nenhum ministro, apesar de ter ficado claro a Haddad por causa do episódio envolvendo o Pix.
"Haddad não pode ter saído enfraquecido porque não houve nenhuma medida concreta ou verdadeira", dise Rui Costa. "O que se montou foi uma notícia facciosa, mentirosa para tentar aterrorizar a população."
Na fala, Rui Costa enalteceu o Pix: "Ele segue forte, é mais do que um meio de pagamento hoje; ele estrutura as relações da sociedade", citou. "Em hipótese nenhuma foi pensado em qualquer momento em tributar ou taxar Pix, ou que ele fosse comparável à recepção de renda para ser tributado."
Casa Civil irá centralizar temas sensíveis
Rui Costa confirmou que sua pasta será responsável por centralizar os atos do governo para que haja um plano de comunicação, em especial em temas mais sensíveis.
"Independentemente do instrumento, portaria, instrução normativa, é importante que, em qualquer medida, a gente tenha centralidade nos anúncios. Nesse mundo de alta velocidade da comunicação, a informação organizada precisa chegar primeiro à população, antes de chegar a mentira e desinformação. Por isso qualquer iniciativa temos de garantir a centralidade para fazermos um plano de comunicação. Se vai impactar muitas pessoas, precisa discutir com a comunicação para ter um plano", declarou Costa.
O ministro disse que "não podemos permitir que a mentira prevaleça sobre a verdade". "Os fatos e a verdade precisam chegar à população. E não primeiro sair a fofoca e a mentira e depois vir os fatos e a verdade." O chefe da Casa Civil, porém, disse que não necessariamente haverá uma formalização desse novo "rito" no governo, mas que há uma nova orientação para a partir de agora.
Ao citar investimentos que o governo federal fará, Rui Costa disse que a gestão fará "mais do que o dobro" do que foi feito na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro; na parte da educação, segundo o ministro, será três vezes mais.
Governo poderá fazer novos ajustes no arcabouço se necessário, diz Costa
Rui Costa reafirmou que o governo poderá fazer novos ajustes para cumprir o arcabouço fiscal se for necessário. Ele também declarou que o atual patamar do dólar não reflete a economia brasileira e que deverá baixar.
O pacote de contenção de gastos enviado pelo governo Lula e aprovado pelo Congresso no final do ano passado foi visto como insuficiente pelos especialistas para o reequilíbrio das contas públicas e para conter a trajetória de crescimento da dívida.
O chefe da Casa Civil disse que a responsabilidade fiscal não é de "ministro a ou ministro b", mas de Lula e do governo. Ele declarou que, no momento, não há estudos em andamento sobre o tema.
"O compromisso fiscal não é do ministro A ou B. É do presidente e do governo. No ano passado, bloqueamos R$ 20 bi em investimentos. Muitos artigos colocavam em dúvida se o governo iria ser determinado e fazer cortes para garantir. Não estou falando de previsão, mas fatos. O que for necessário fazer, em qualquer momento, para se garantir o equilíbrio das contas públicas e o arcabouço fiscal será feito. Não terá anúncio antecipado ou estudo em andamento. Mas tudo que precisar ser feito para cumprir o equilíbrio será feito, a qualquer tempo", declarou Rui Costa.
"O que a realidade vai mostrando é que o dólar vai caindo. Infelizmente, ele não cai na mesma velocidade que subiu; mas acredito que, com o passar dos dias e com a posse do novo presidente dos EUA, os números robustos da economia brasileira vão fazendo o dólar voltar ao patamar com reflexo na vida real da economia, porque o patamar que está não corresponde à vida real e aos números reais da economia", disse o ministro da Casa Civil.