Heinz faz ketchup com tomates cultivados em ambiente que simula condições de Marte
Segundo o executivo brasileiro Thiago Rapp, o projeto ajudou a compreender mais sobre variedades de sementes que podem prosperar em condições adversas; trabalho foi desenvolvido na Flórida em parceria com cientistas do Instituto Espacial Aldrin
A Heinz resolveu produzir tomates em condições que simulam as do planeta Marte. A companhia plantou os frutos em um biodome - instalação que simula os aspectos do planeta vermelho - no Instituto de Tecnologia da Flórida, nos Estados Unidos. Os tomates não só vingaram como foram considerados dignos do ketchup da marca. Foram produzidas menos de 50 unidades, mas uma delas já foi enviada ao espaço. Uma garrafa de edição limitada embarcou num voo para além da atmosfera terrestre, alcançando 37 mil metros de altura e temperaturas de -70°C antes de retornar à Terra. A empresa não revela quanto foi investido no projeto.
"O Heinz Tomato Ketchup: Marz Edition foi feito para celebrar o projeto, mas nossa maior ambição era realmente validar se seria possível ou não cultivar tomates em solo similar ao de Marte, com a qualidade que precisamos para nosso ketchup", diz Thiago Rapp, International Marketing Manager da Kraft Heinz, brasileiro que participou do "Projeto Vermelho" do início ao fim. O projeto foi realizado em parceria com cientistas do Instituto Espacial Aldrin e é o resultado de uma experiência de dois anos.
Questionado se a empresa trabalha com um cenário em que seja necessário cultivar alimentos em outros planetas, ele diz que, ao menos aqui na Terra, a companhia já desenvolve técnicas para plantar e transformar culturas em alguns dos ambientes agrícolas mais severos. "Sabemos que a equipe do Instituto Espacial Aldrin está trabalhando na descoberta de formas para que os humanos vivam em Marte e quisemos fornecer nossa expertise e contribuição para isso, ao mesmo tempo em que aprendemos formas de continuarmos a cultivar de forma sustentável aqui na Terra", complementa.
Rapp diz que o projeto ajudou a compreender mais sobre variedades de sementes que podem prosperar em condições adversas, do que são compostas e como seu crescimento pode ser replicado em grande escala para sustentar a vida. No entanto, ele ainda acredita que é cedo para dizer se a pesquisa vai mudar algo da forma atual da empresa cultivar seus tomates.
Seguro e sustentável
Segundo o executivo, há alguns anos foram encontrados em Marte oxidantes poderosos, chamados percloratos. Quando expostos a raios UV, eles se tornam mais destrutivos e conseguem dizimar organismos como bactérias e micróbios em pouco tempo. Rapp pontua, porém, que o solo marciano, em si, não é tóxico e que esses percloratos não estão incluídos na simulação à qual os tomates foram expostos.
"A remoção (dos oxidantes em questão) em Marte seria necessária para cultivar alimentos e há vários projetos explorando o tema atualmente. A não inclusão dos percloratos irá modelar o ambiente em Marte, uma vez que teremos de transformá-lo para que possamos sobreviver lá", diz Rapp. Ele garante que os humanos que consumiram o produto durante os testes passam bem.
Se a ideia é aprender a cultivar alimentos em condições extremas, já que o planeta sofre mudanças climáticas intensas, seria um contrassenso poluir o meio ambiente com a iniciativa. Pensando nisso, a garrafa de ketchup enviada ao espaço foi presa a uma nave leve, desenhada sob medida, juntamente com uma câmera e um computador de voo que controlava as comunicações durante todo o trajeto. O voo utilizou gás hidrogênio renovável para fornecer a impulsão, uma alternativa mais amigável do ponto de vista ambiental se comparado ao hélio.
Questionado a respeito do investimento necessário para uma ação dessa magnitude em um momento em que o mundo se recupera de uma pandemia e enfrenta questões de perda de renda, fome e ruptura de cadeias produtivas, Rapp defende a importância científica da iniciativa: "Esse experimento inédito possibilitou que os mestres tomateiros da Heinz, especialistas na análise de técnicas para o cultivo em condições severas, somassem esforços com a equipe do Instituto Espacial Aldrin, que está pesquisando formas de sustentar a raça humana durante muitas gerações em outros planetas, para fazer o derradeiro teste envolvendo a agricultura fora do nosso mundo".
Ele diz ainda que essa é uma área de pesquisa cada vez mais relevante, considerando a degradação do solo que o planeta Terra tende a enfrentar no futuro. "Acreditamos que estudos desse tipo são cada vez mais importantes não só para a vida fora da Terra, mas para contornarmos esse cenário e conseguirmos colaborar com a produção mundial da agricultura sustentável em solos adversos", afirma.