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'IBGE Paralelo' será contestado na Justiça, anuncia sindicato em protesto

Em meio à crise interna, o presidente do instituto, Marcio Pochmann, cancelou sua presença em coletiva sobre pesquisa, no centro do Rio; a direção não se manifestou sobre o protesto

8 out 2024 - 15h10
(atualizado às 20h52)
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RIO - Servidores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fizeram um protesto nesta terça-feira, 8, durante a coletiva de imprensa para a divulgação dos preparativos para a Pesquisa de Orçamentos Familiares (2024/2025), que será levada a campo em novembro. A executiva nacional do sindicato dos servidores do órgão, a Assibge-SN, informou que entrará na Justiça pedindo a suspensão da fundação pública de direito privado chamada IBGE+, criada pela atual direção do instituto e apelidada de "IBGE Paralelo".

Em meio à crise interna no instituto, o presidente, Marcio Pochmann, tinha sua participação confirmada no evento, na Casa IBGE, no Palácio da Fazenda, no centro do Rio de Janeiro, mas cancelou sua presença de última hora. Questionada, a direção do IBGE não se manifestou sobre o protesto dos servidores até a publicação desta reportagem.

Os manifestantes levaram faixas pedindo mais respeito e diálogo. Apesar dos apelos e dos ofícios do sindicato à direção, por ora não há qualquer reunião agendada entre Pochmann e os representantes dos servidores.

"Nós vamos entrar na Justiça pedindo a suspensão da fundação. Isso vai ser feito em breve. Nós já estamos com um escritório contratado, especialista nessa situação, e nós vamos judicializar e pedir a suspensão da fundação", declarou Antonio Carlos da Matta, integrante do sindicato. "Porque já tem pessoas sendo indicadas, tanto para conselho curador e para vários cargos dentro da fundação. O sentimento é que isso vai acabar virando cabide de emprego. E o IBGE não merece isso, e a gente não quer isso."

Servidores realizaram protesto na Casa IBGE, no centro do Rio, nesta terça-feira, 8
Servidores realizaram protesto na Casa IBGE, no centro do Rio, nesta terça-feira, 8
Foto: Daniela Amorim/Estadão Broadcast / Estadão

O sindicato observa que o estatuto da nova fundação permite contratação de funcionários pela CLT e obtenção de financiamento por contratos, convênios, acordos de parcerias e outros instrumentos congêneres celebrados com o Poder Público e com a iniciativa privada. Para os servidores, o instituto é um órgão de estado, cujo trabalho precisa ser financiado pela União, não podendo ser privatizado.

"A nossa missão de retratar o país é uma missão de Estado. Ela merece ser financiada pela União, pelo Estado, com verbas do Orçamento. Não cabe a nós na instituição buscar parcerias para financiar algo que é de necessidade da nação. E por isso defendemos inclusive que o IBGE é um órgão de Estado, não um órgão a mercê dos orçamentos de governos de plantão", disse o servidor Marco Andreazzi, gerente na Diretoria de Pesquisas do IBGE.

A Assibge-SN desfiou uma lista de preocupações sobre a fundação criada pela gestão Pochmann: riscos de captura do IBGE pela iniciativa privada, através de venda de pesquisas; riscos à imagem do órgão por conta de a fundação ter nome idêntico ao do instituto; aparelhamento do órgão com nomeações pela direção; implicações derivadas da constituição de uma fundação sem projeto de lei; e falta de diálogo com os servidores sobre esse processo.

O sindicato tem conduzido uma mobilização pedindo diálogo e esclarecimentos à atual direção do IBGE sobre medidas como a criação da fundação IBGE+, alteração no estatuto do instituto, mudança de locais de trabalho de servidores e extinção do trabalho totalmente remoto.

Os núcleos estaduais farão nesta quarta-feira, 9, uma reunião para deliberar sobre os próximos passos do movimento. No último dia 26 de setembro, trabalhadores do IBGE já tinham protestado em frente à sede do órgão, na Avenida Franklin Roosevelt, no Rio. A manifestação, convocada por servidores e endossada pelo sindicato que representa a categoria, tinha como alvo o "autoritarismo" da gestão Pochmann.

O que é a Pesquisa de Orçamentos Familiares

A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2024/2025, que vai a campo a partir de novembro, identificará os gastos das famílias com apostas eletrônicas, declarou Elizabeth Hypólito, diretora de Pesquisas do IBGE.

O IBGE informou na semana passada que levará a campo a partir do dia 5 de novembro a nova POF. A previsão é que os resultados sejam divulgados em 2026.

A POF apura os itens que integram a cesta de consumo das famílias brasileiras. Os dados são usados como referência para a atualização periódica da lista de bens e serviços cujas variações de preços são mensuradas no cálculo da inflação oficial do País, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), também do IBGE.

Segundo Hypólito, a pesquisa trará atualizações "para atender cada vez mais as demandas da sociedade". Entre as novidades, a nova edição da POF vai investigar os impactos ambientais no domicílio e a satisfação com a vida sobre aspectos pessoais e financeiros. A pesquisa também vai investigar a discriminação sofrida "nos seus mais diversos tipos", seja de gênero, orientação sexual, racismo, capacitismo, xenofobia, entre outras.

"Além disso nós vamos ter também informações que vão permitir identificar os gastos das famílias com apostas eletrônicas, como bets, por exemplo", disse a diretora do IBGE.

O levantamento também trará um recorte sobre o uso do tempo.

"Eu faço um apelo para que as pessoas respondam a POF. Lembrando que a proteção dos dados prestados e a confidencialidade são compromissos do IBGE desde a sua fundação, em 1933?, declarou a diretora.

Estadão
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