Ibovespa tem maior recuo de 2022 com temor global por inflação; Petrobras afunda
O principal índice da bolsa brasileira teve a maior queda de 2022 nesta segunda-feira, acompanhando a baixa vertiginosa das bolsas em Wall Street. Investidores temem uma inflação mais alta e estagnação econômica, após a disparada dos preços do petróleo aos maiores patamares desde 2008 por causa das sanções à Rússia.
As ações da Petrobras desabaram mais de 7% com a política de preços da estatal em foco, enquanto bancos também cederam. A Vale ficou na ponta oposta, depois de nova sessão de ganhos do minério de ferro.
O Ibovespa caiu 2,52%, a 111.593,46 pontos, maior queda desde 26 de novembro. O volume financeiro foi de 38,7 bilhões de reais.
O petróleo Brent fechou acima de 123 dólares, impactado pelo risco de uma proibição dos Estados Unidos e da Europa a importações de petróleo russo, o que apertaria ainda mais a oferta no mercado. O presidente dos EUA, Joe Biden, não tomou decisão sobre o assunto, segundo a Casa Branca.
Além disso, houve influências de incertezas sobre os avanços no acordo nuclear envolvendo o Irã, que vinha sendo a principal pressão baixista à commodity nas últimas semanas, já que poderia resultar na retirada de sanções ao país e maior volume de exportação.
O S&P 500 cedeu quase 3% e o Nasdaq Composite desabou 3,6%.
Daniel Xavier, do departamento econômico do Banco ABC Brasil, diz que o Ibovespa esteve alinhado "em princípio" com o clima de aversão ao risco global, mas chama atenção para o desempenho de Petrobras, que ajudou a derrubar a bolsa local.
"Até então as ações da Petrobras estavam acompanhando" os preços do petróleo, disse ele. Entretanto, o mercado reagiu a sinalizações e notícias de que "medidas estão sendo estudadas" para baixar os preços dos combustíveis, "e dentre essas medidas, até revisitar a metodologia dos preços" da companhia.
Pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro disse que o governo federal prepara medidas para combater a alta dos combustíveis e disse que a paridade internacional nos preços "não pode continuar".
DESTAQUES
- PETROBRAS PN caiu 7,1% e ON cedeu 7,7%, a maior queda para ambos os papéis desde o anúncio da mudança no comando da companhia pelo governo de Jair Bolsonaro em fevereiro de 2021. O petróleo Brent chegou a atingir 139,13 dólares o barril nesta segunda-feira, o maior valor desde julho de 2008, com perspectiva de oferta mais apertada. Cotações perderam fôlego, mas fecharam com alta de 4%. Em meio ao avanço da commodity, notícias de que o governo avalia modificar a política de preços da Petrobras, além da declaração do próprio Bolsonaro, pesaram sobre as ações. Executivos da Petrobras vão buscar esta semana a aprovação do governo para aumentar os preços dos combustíveis em suas refinarias no Brasil, disseram à Reuters duas pessoas próximas às discussões.
- VALE ON subiu 3%, após o preço do minério de ferro atingir máxima de seis meses na China, impulsionado pela alta nos preços do petróleo (commodity é vista como referência em outros mercados) e após o país asiático projetar uma desaceleração econômica para 2022 melhor do que a esperada por analistas. CSN MINERAÇÃO ON avançou 0,6% e BRADESPAR PN, que tem participação em Vale, ganhou 3,6%.
- AZUL PN desabou 18% e GOL PN afundou 17,4%, nos dois casos as maiores baixas desde março de 2020, com alta do petróleo elevando a perspectiva de custos com combustíveis. CVC ON mostrou perda de 10,5%.
- ITAÚ UNIBANCO caiu 2,2%, BRADESCO PN cedeu 2,6%, BANCO DO BRASIL ON perdeu 4,3% e SANTANDER BRASIL UNIT desvalorizou-se 3,1%.
- AMERICANAS ON desabou 10,2% e LOJAS RENNER ON cedeu 8,9% e PETZ ON perdeu 9%. Ações relacionadas ao consumo doméstico operaram pressionadas, em meio aos temores com inflação e crescimento econômico.
- SLC AGRÍCOLA ON subiu 5,4%, BRASILAGRO ON avançou 2,2% e VITTIA ON teve alta de 1,4%, com empresas relacionadas ao agronegócio mantendo caminho de alta dada a disparada dos preços de grãos e insumos por causa da guerra na Ucrânia. Os três papéis não fazem parte do Ibovespa.