Lula diz que é preciso 'tirar de alguém' para isentar do IR trabalhadores que ganham até R$ 5 mil
Presidente voltou a defender em entrevista nesta sexta-feira, 11, o aumento na taxa de isenção do Imposto de Renda de Pessoa Física e criticou quem 'vive de especulação'
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, nesta sexta-feira, 11, o aumento na taxa de isenção do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF), uma promessa sua de campanha. Segundo ele, "nós temos de tirar de alguém" para isentar os trabalhadores que recebem até R$ 5 mil do IRPF.
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"Você não pode fazer com que pessoas que ganham R$ 5 mil paguem IRPF, enquanto os que têm ações na Petrobras recebem R$ 45 bilhões em dividendos sem pagar Imposto de Renda", disse.
A declaração ocorreu em entrevista do presidente à rádio O Povo/CBN de Fortaleza. O presidente da República foi além da promessa de isenção de quem ganha até R$ 5 mil e defendeu que, "no futuro, (temos de) isentar mais".
Lula justificou que não se "pode cobrar 27% ou 15% de um trabalhador que ganha R$ 4 mil e deixar os caras que recebem herança que não pagam".
"Na minha cabeça, salário não é renda. Renda é quem vive de especulação, esse, sim, deveria pagar Imposto de Renda. Esse que faz transferência de dinheiro para parente e paga só 4%", argumentou.
O presidente afirmou que o debate sobre a carga tributária tem de ser "público", e não "escondido". "Nós temos de tirar de alguém. Não tem de ser um debate escondido, tem de ser público", declarou.
Crédito consignado
O presidente disse ainda que seu governo quer estender o crédito consignado a trabalhadores da iniciativa privada. Se isso acontecer, segundo o petista, essas pessoas não precisarão recorrer ao saque-aniversário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O mecanismo desagrada ao atual governo.
"Temos dois debates hoje. Tem o saque-aniversário do Fundo de Garantia, que é uma coisa que está causando um certo problema na poupança do FGTS, mas a gente tem noção de que não pode acabar, porque vai mexer com muita gente. O que a gente quer é fazer com que os trabalhadores da iniciativa privada tenham o direito a crédito consignado", declarou o petista.
"Acho que os trabalhadores vão concordar que, se eles tiverem o crédito consignado, não precisam comprometer seu Fundo de Garantia. Porque, hoje, o trabalhador que recebeu uma parte do Fundo de Garantia não pode retirar nem se for mandado embora, é um absurdo", disse Lula.
O presidente da República disse que o assunto está sendo discutido entre os ministérios do Trabalho e da Fazenda, e que não sabe se será possível o Executivo tomar alguma medida sobre o tema ainda em 2024. "É importante a gente não ter pressa para fazer para não fazer uma coisa errada", declarou.
Em Fortaleza, o petista entregará obras e ônibus do governo federal. No fim da tarde, participa de comício do candidato petista a prefeito da capital cearense, Evandro Leitão, que disputa o segundo turno contra o bolsonarista André Fernandes (PL).
Ato em São Paulo
Lula afirmou também que o governo fará um ato, em 18 de outubro, em São Paulo, sobre o programa Acredita, que ele chamou de "maior programa de financiamento de crédito para o povo brasileiro".
Não ficou claro na fala do presidente se esse ato deve ter algum teor de apoio ao candidato a prefeito da capital paulista, Guilherme Boulos (PSOL). Mais cedo, durante a entrevista, Lula elogiou Boulos e disse que ele "pode ganhar as eleições" por ser uma "figura muito preparada".
Lula defendeu o programa Acredita e disse que, apesar de não ser economista, tem uma tese sobre a economia de que o dinheiro precisa circular para levar ao desenvolvimento econômico do País. Segundo o presidente, "dinheiro em caixa não vale muita coisa".
"Tenho uma tese que é simples: o dinheiro tem que circular, tem que passar na mão de todo mundo. Se tem muito dinheiro na mão de poucos, significa pobreza e miséria. Se tem pouco dinheiro na mão de muitos, significa distribuição. Na medida em que todos ganham pouco, todos consomem um pouco, geram emprego, salário, geram desenvolvimento na economia", declarou.
O presidente disse ainda que o programa terá uma espécie de garantia para que estrangeiros invistam no Brasil sem o risco da desvalorização cambial e financiamento imobiliário para as classes mais ricas da sociedade.
"Inclusive estamos criando um hedge cambial para dar garantia aos estrangeiros que queiram investir no Brasil não perderem com a desvalorização cambial. Estamos criando um mercado secundário para habitação. Vamos financiar casa para você que ganha mais de R$ 3 mil, R$ 4 mil. Não é casa só para o pobre. Tem gente que ganha R$ 10 mil que quer comprar uma casa e não quer uma casa de 47 m², quer uma casa de 200 m², 150 m². Vamos ter que financiar essa gente", declarou.