Indústria de alimentos e bebidas cresce 10% em faturamento e atinge 11% do PIB em 2024
Custo médio para a produção de alimentos industrializados subiu 9,3% no ano passado, segundo entidade; produtos brasileiros foram vendidos para mais de 190 países
A indústria brasileira de alimentos e bebidas registrou aumento de 9,98% no faturamento, para R$ 1,277 trilhões, e de 3,2% na produção em 2024 em comparação com 2023, para 283 milhões de toneladas em 2024. Desse total, 72%, ou R$ 918 bilhões, são provenientes do mercado interno e 28% do comércio exterior (US$ 66,3 bilhões).
As vendas reais totais (mercado interno e exportações) apresentaram expansão de 6,1% em 2024. Com isso, a indústria de alimentos deve representar 10,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira, 20, pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) em entrevista à imprensa.
A região Sudeste representou R$ 488 bilhões, seguida pelo Sul, com R$ 348 bilhões. O Centro-Oeste correspondeu a R$ 251 bilhões, o Nordeste, a R$ 126 bilhões, e o Norte, a R$ 63 bilhões.
Segundo o presidente executivo da entidade, João Dornellas, os associados representam 83% do PIB de alimentos. Além disso, a indústria do setor processou 62% dos alimentos produzidos pela agricultura e pela pecuária em 2024. Da produção da agricultura familiar, foram processados 68%.
Dornellas destacou que a ampliação do emprego e da renda, segundo a Pnad/IBGE, e, consequentemente, da massa de rendimentos reais, acima de 6% na média do ano de 2024, contribuíram para o aumento do consumo de alimentos no mercado interno.
De uma forma geral, os segmentos que mais cresceram foram o food service (+10,4%) e o varejo alimentar (+8,8%). O desempenho relevante tem a ver também com o aumento dos investimentos das indústrias na ampliação e modernização de plantas fabris, Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), ações de sustentabilidade, aquisição de máquinas e equipamentos, como detalhou a Abia.
A indústria de alimentos investiu R$ 38,7 bilhões em 2024. Do total, R$ 24,9 bilhões foram direcionados para inovações e R$ 13,80 bilhões para fusões e aquisições.
"A Abia reafirma o compromisso anunciado pela indústria de investir R$ 120 bilhões no período de 2023 a 2026. Só em 2023 e 2024, a indústria já investiu R$ 74,7 bilhões, mais de 62% do projetado para o período. Com esses investimentos, o setor demonstra a força e a consistência desse movimento, essencial para garantir competitividade e abastecimento nos mercados interno e externo", ressaltou Dornellas.
Custo de produção
A Abia destacou o aumento do custo médio de 9,3% para a produção de alimentos industrializados em 2024. Segundo a entidade, a alta foi impulsionada por uma evolução nos preços das commodities agrícolas, das embalagens e das energias.
Em relação às commodities agrícolas, a Abia calcula uma alta anual de 189% para o cacau, de 140,3% para o café, de 22,6% para o leite, de 9,3% para o milho e de 9% para o trigo. O Índice de Preços de Alimentos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) registrou avanço de 6,7%.
A desvalorização do real intensificou esse movimento, especialmente no segundo semestre, completou a Abia. Além disso, eventos climáticos adversos, como as enchentes no Rio Grande do Sul e estiagens prolongadas no Centro-Oeste, Sudeste e Norte, reduziram a safra de grãos e causaram impacto na qualidade das pastagens. Outros fatores, como a elevação do imposto de importação sobre resinas plásticas e os reajustes no custo da energia elétrica (+10%), diesel (+7%) e gás natural (+6%), também elevaram a pressão sobre a indústria.
"Em um ano marcado por desafios econômicos e climáticos, a indústria mostrou resiliência, confirmou seu papel essencial na promoção da segurança alimentar e manteve o abastecimento e a competitividade dos produtos", destacou Dornellas. A entidade ressaltou, ainda, em nota, o aumento de 7,7% na inflação de alimentos industrializados medida pelo IPCA-IBGE.
Em relação à geração de empregos, a Abia afirmou que um em cada dez trabalhadores brasileiros atuava diretamente na indústria de alimentos ou na cadeia de suprimentos ligada ao setor (agricultura, pecuária, embalagens, máquinas e equipamentos, serviços de transporte) em 2024. Foram criados 72 mil novos postos de trabalho formais e diretos, o equivalente a 25% do ofertado na indústria de transformação brasileira. Somando-se aos 288 mil indiretos, foram 360 mil novas vagas.
Exportação de industrializados
A indústria brasileira de alimentos e bebidas registrou aumento de 6,6% em receita, para US$ 62,2 bilhões, e 10,4% em volume, para 80,3 milhões de toneladas, em 2024. No período de quatro anos (2020 a 2024), registrou-se crescimento de 72,7% em valor e 29,2% em volume. Segundo o presidente do conselho da Abia, Gustavo Bastos, o Brasil continua sendo o maior exportador de alimentos do mundo em volume.
Os produtos brasileiros chegaram a mais de 190 países e seus territórios, sendo os principais mercados: Ásia, (38,7% das exportações, destaque para a China, com participação de 14,9%), seguida da Liga Árabe (18,9%) e da União Europeia (12,6%). Os itens que lideram a lista são proteínas animais (carnes), com US$ 26,2 bilhões; produtos do açúcar, com US$ 18,9 bilhões; produtos de soja, com US$ 10,7 bilhões; óleos e gorduras, com US$ 2,3 bilhões; sucos e preparações vegetais, com US$ 3,7 bilhões.
O resultado pode ser explicado por diversos fatores, entre eles, o crescimento da economia mundial no nível de 3%, combinado com a redução gradual da inflação e dos juros, que contribuíram para o aumento da demanda global por alimentos, estimulando as exportações brasileiras de industrializados. Essas exportações representaram 19,7% do total exportado pelo país.
"Importante ressaltar a abertura de novos mercados, por meio da ampliação de acordos sanitários, somados aos investimentos realizados pela indústria de alimentos em padrões de qualidade, a exemplo da certificação halal (para os países árabes), rastreabilidade na cadeia produtiva e certificações ambientais", reforçou Dornellas em release divulgado pela entidade.
Outro marco foi a ampliação da presença brasileira em mercados estratégicos por meio de uma rede de adidos agrícolas. Com a criação de 11 novos postos, o Brasil passará a contar com 40 novos representantes, um aumento de 38% em relação à estrutura anterior. Essa expansão fortalece a atuação do País nas negociações internacionais e na promoção das exportações do setor.
