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Indústria do aço estima queda em produção e vendas no Brasil em 2025

16 dez 2024 - 15h48
(atualizado às 18h03)
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A indústria siderúrgica estimou nesta segunda-feira quedas na produção e nas vendas de aço no Brasil em 2025 após um 2024 acima do esperado pelo setor, diante de perspectivas de menor crescimento da economia e piora do quadro fiscal do país no próximo ano.

"A questão fiscal contamina as previsões, as perspectivas de crescimento" de consumo de aço no país, disse o presidente-executivo do Aço Brasil, entidade que representa as usinas siderúrgicas do país, Marco Polo de Mello Lopes, após apresentação das previsões a jornalistas.

A produção de aço bruto do Brasil em 2025 vai cair 0,6%, para 33,58 milhões de toneladas, enquanto as vendas no mercado interno deverão recuar 0,8%, para 21 milhões de toneladas, previu a entidade.

A expectativa para o consumo aparente, métrica que reúne as vendas no mercado interno de produtos feitos no país e importados, é de avanço de 1,5%, para 26,66 milhões de toneladas.

O Aço Brasil, que em meados deste ano reviu suas projeções de 2024 para um crescimento de 0,7% na produção, ante expectativa anterior de queda de 3%, estimou que o setor deve encerrar este ano com alta de 5,5% no volume produzido, a 33,79 milhões de toneladas.

De janeiro a novembro, o setor produziu 31,17 milhões de toneladas de aço bruto, um crescimento de 5,6% na comparação anual. Em novembro apenas, o setor produziu 2,77 milhões de toneladas de aço bruto, alta de 1,9% sobre um ano antes, segundo dados da entidade.

Para as exportações, a previsão do Aço Brasil é de crescimento de 2,2% em laminados planos e longos em 2025, para 2,35 milhões de toneladas. Nas importações, também de laminados, a previsão é de salto de 11,5%, para 5,63 milhões de toneladas, apesar do sistema de defesa comercial adotado pelo Brasil este ano focando principalmente produtos da China. A entidade não informou de imediato previsões totais para importações e exportações de aço em 2025.

DEFESA COMERCIAL

O presidente do Aço Brasil afirmou que o sistema de cotas e tarifas de 25% adotadas pelo Brasil em meados do ano ajudou a conter a entrada de material importado no Brasil este ano, mas não cumpriu objetivo de conseguir uma redução.

De janeiro a novembro, as importações de aço pelo Brasil dispararam 24,4% sobre um forte volume registrado em 2023, para 5,6 milhões de toneladas.

Segundo Lopes, "não tenho dúvidas" de que o governo está interessado em renovar o sistema de proteção no próximo período de revisão, entre maio e junho de 2025, com a possível inclusão de novos produtos, como vergalhão e aço galvanizado a quente, conhecido no setor pela sigla HDG.

Além disso, o setor ainda discute com o governo a inclusão de mais nove produtos ao sistema de cota-tarifa que atualmente estão sendo alvo de circunvenção, seja por mudanças de tipo de material, seja por alterações de origem, disse o presidente do Aço Brasil.

"A expectativa é que para o primeiro trimestre, já tenhamos novidades no fronte", disse o executivo, citando que a entidade está mantendo comunicação próxima com a Receita Federal e com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

O setor quer também a revisão das atuais cotas, que contam com excedente de 30% sobre os volumes médios importados entre 2020 e 2022. "A cota foi generosa e é preciso se ter realismo", disse Lopes.

Enquanto isso, sobre as ameaças do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de reforçar imposição de tarifas de importação pelo país a partir do próximo ano, Lopes afirmou que o atual arranjo dos EUA com o Brasil no aço já vem desde 2018.

Trump impôs em seu primeiro mandato um sistema de "hard quota" para as exportações de aço do Brasil para os EUA, algo que o setor siderúrgico brasileiro não conseguiu flexibilizar nos anos seguintes para uma "soft quota" - quando o material que supera a cota ainda pode chegar ao pais sem pagar tarifa - como União Europeia e Coreia do Sul conseguiram.

"O sistema vem funcionando muito bem", disse Lopes sobre o sistema adotado no primeiro mandato de Trump.

MERCADO DE CARBONO

Além da questão macroeconômica do Brasil, dos problemas na da defesa comercial, o setor siderúrgico ainda deve enfrentar nos próximos anos aumento de custos a serem gerados pela aprovação do mercado de carbono pelo país.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que cria o mercado de carbono no Brasil na semana passada, permitindo a compensação de emissões de gases do efeito estufa a partir de créditos de carbono por meio de um sistema de comércio.

"Isso vai significar um acréscimo no custo. Vai onerar a produção de aço do Brasil", disse Maria Cristina Yuan, diretora de assuntos institucionais do Aço Brasil, durante a apresentação da entidade.

Segundo ela, o Brasil ainda precisa dar detalhamento para a lei que cria o mercado de carbono para que ele possa entrar em vigor no país, mas isso deveria ocorrer mediante o controle da entrada de aço importado que tenha uma pegada de carbono maior que a cobrada dos produtores brasileiros no sistema sancionado na semana passada.

"Estamos pleiteando junto ao governo implementar uma taxa de pegada de carbono na fronteira. A União Europeia implementou isso. Isso precisa ser conjugado (com o mercado de carbono) sob risco de destruição da produção nacional", disse a executiva.

"A indústria (de aço) vai ter de acessar o mercado de carbono porque é muito difícil reduzir as emissões", disse Yuan citando que "certamente" o setor terá que comprar créditos de carbono para se adequar à legislação de emissões.

"Não vamos assumir metas que não sejam factíveis", disse o presidente do Aço Brasil. "Ninguém duvida de que o mundo está de cabeça para baixo na questão ambiental, mas precisamos de responsabilidades comuns, mas diferenciadas", disse o executivo, citando que o setor siderúrgico brasileiro representa 4% das emissões de carbono do país enquanto na média mundial a taxa é de 7%.

Segundo Lopes, o investimento para o setor siderúrgico brasileiro atingir a neutralidade de emissões de carbono em 2050 é estimado em 180 bilhões de reais.

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