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Indústria do cimento espera 2023 morno após queda acima do esperado nas vendas em 2022

10 jan 2023 - 16h08
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Os fabricantes de cimento esperam alta de 1% nas vendas de cimento este ano, depois que a comercialização do material no ano passado recuou mais que o esperado, caindo 2,8%, para cerca de 63 milhões de toneladas, segundo dados divulgados nesta terça-feira pela entidade que representa os produtores do insumo, Snic.

"A construção residencial ainda deverá mostrar um desempenho razoável...E há a possibilidade de incorporação de projetos de saneamento e o programa de habitação popular (Minha Casa Minha Vida) ao longo de 2023", disse o presidente do Snic, Paulo Camillo Penna. "Mas retomar este ano um terço do que perdeu ano passado é extremamente modesto", acrescentou.

A expectativa do setor, que vive um quadro de mais de 33% de capacidade ociosa por falta de demanda, indicava queda de 2% nas vendas no ano passado após crescimento de 6,6% em 2021.

Segundo o Snic, além da alta dos juros que impacta o setor imobiliário há meses, chuvas acima do previsto no final do ano, eleições e mesmo a Copa do Mundo pressionaram as vendas de cimento no ano passado.

Em dezembro, a houve queda de 6,3% no volume vendido sobre o mesmo período do ano anterior, para 4,5 milhões de toneladas, menor volume mensal desde abril de 2020. Por dia útil, a queda nas vendas foi mais intensa, 10,2%, para 186 mil toneladas.

No acumulado do ano, apenas as regiões Norte e Centro-Oeste mostraram crescimentos na comercialização de cimento, de 1,6% cada. Segundo Penna, o Centro-Oeste vem registrando demanda aquecida de infraestrutura com "muita obra rodoviária", enquanto a área imobiliária segue forte. No Norte, segundo ele, houve "aumento importante da autoconstrução e da construção imobiliária".

O Sudeste, maior mercado do país, amargou retração de 3,6%, o Nordeste viu queda de 4,6% e o Sul registrou baixa de 2% nas vendas de cimento no ano passado, segundo os dados do Snic.

2023

As vendas de janeiro seguem deprimidas, segundo Penna, diante do quadro climático com várias regiões do país sofrendo intensos períodos de chuvas.

"Acreditamos que, a exemplo do ano passado, vamos começar o ano com desempenho sofrível do ponto de vista de venda de cimento", disse o presidente do Snic. Em janeiro de 2022, as vendas do insumo caíram cerca de 9% sobre um ano antes.

O presidente do Snic ressalvou que o setor espera um segundo semestre mais aquecido, por um período tradicionalmente menos chuvoso e com uma eventual retomada mais significativa do Minha Casa Minha Vida a ser reformulado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A expectativa é semelhante à indicada pelo presidente da Câmara Brasileira da Industria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, na semana passada.

Mas, diferente de 2020 e 2021, em que as vendas de cimento foram impulsionadas pelo Auxílio Emergêncial, a continuação do benefício neste ano não deve gerar o mesmo efeito para o setor, na visão do presidente do Snic. "O nível de pobreza é extremo e as carências da população estão mais vinculadas às necessidades básicas, como alimentação, do que vimos antes. Houve um agravamento da situação socioeconômica", afirmou.

Por outro lado, há a esperança de que os investimentos em saneamento derivados dos leilões de concessões no setor realizados nos últimos anos comecem a se transformar em obras neste ano, disse Penna, citando, por exemplo, o leilão realizado em 2020 pelo governo de Alagoas com ativos em Maceió, o primeiro após a aprovação do marco do saneamento.

Questionado sobre os eventos de domingo, em que hordas de bolsonaristas atacaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, o presidente do Snic afirmou que, apesar dos mercados financeiros locais não terem sido abalados nesta semana, o episódio pode gerar dúvidas sobre projetos de investidores internacionais no Brasil, em meio a um quadro internacional de incertezas como a guerra da Rússia contra a Ucrânia e a alta de juros nas principais economias.

"Vivemos um ambiente político difícil...Os projetos em andamento não devem sofrer impactos, mas os novos vamos ter que acompanhar como os investidores vão avaliar este momento", disse Penna. "A repercussão internacional foi muito grande, a percepção foi muito negativa. O Brasil não é uma ilha e disputa investimento com outros países."

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