Inflação acelera e vai a 0,83% em fevereiro, puxada por aumentos na educação
Grupo Educação teve alta de 4,98% no mês passado, com os reajustes tradicionais das mensalidades escolares; resultado do IPCA no mês ficou acima do esperado pelo mercado
RIO - Os reajustes sazonais de mensalidades escolares pressionaram a inflação oficial no País em fevereiro, pesando no orçamento das famílias ao lado do encarecimento dos alimentos e da gasolina. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou de uma alta de 0,42% em janeiro para um avanço de 0,83% em fevereiro, resultado mais elevado desde fevereiro do ano passado, divulgou nesta terça-feira, 12, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No entanto, a inflação foi a mais branda para esse período do ano desde 2020. Como consequência, a taxa acumulada em 12 meses arrefeceu pelo quinto mês consecutivo, passando de 4,51% em janeiro para 4,50% em fevereiro, descendo exatamente ao teto de tolerância da meta de inflação perseguida pelo Banco Central em 2024 (a meta é de 3,0%, com limite superior de 4,50%).
Embora o IPCA tenha ficado um pouco acima da expectativa de analistas do mercado financeiro consultados pelo Projeções Broadcast, que estimavam uma inflação mediana de 0,78% em fevereiro, economistas avaliaram que a composição veio benigna o suficiente para permitir novo corte de 0,50 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
O chefe de pesquisa Macroeconômica da gestora Kínitro Capital, João Savignon, prevê que o IPCA arrefeça a 3,7% no fechamento de 2024. Diante do cenário inflacionário mais confortável, Savignon espera mais duas reduções de 0,50 ponto porcentual na taxa Selic, desacelerando o ritmo de cortes "somente na segunda metade do ano".
"Na nossa visão, o mercado de trabalho aquecido e o crescimento dos salários devem continuar pressionando a inflação de serviços. No entanto, a inflação de serviços subjacentes, número que é acompanhado com mais atenção pelo Banco Central, veio abaixo do esperado pelo mercado. Esse resultado pode dar mais tranquilidade para o Copom (Comitê de Política Monetária) continuar sinalizando mais dois cortes de 0,5 ponto percentual na Selic na reunião da próxima semana. Nossa projeção é que a Selic termine o ano em 9,25%, indo para 8,5% ao final de 2025?, corroborou a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, em comentário.
Os aumentos dos gastos com educação, alimentação e gasolina responderam por aproximadamente 75% da inflação registrada pelo IPCA em fevereiro.
As despesas com Educação subiram 4,98%, impacto de 0,29 ponto porcentual sobre o IPCA do mês. A maior contribuição partiu do encarecimento de 6,13% dos cursos regulares, devido aos reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo. As maiores elevações ocorreram no ensino médio (8,51%), ensino fundamental (8,24%), pré-escola (8,05%) e creche (6,03%). Houve reajustes também em curso técnico (6,14%), ensino superior (3,81%) e pós-graduação (2,76%).
"De fato, o grupo Educação teve o maior impacto e a maior variação do mês de fevereiro. Porém, a gente também teve outros grupos que tiveram uma contribuição relevante, como é o caso, por exemplo, dos alimentícios e também o grupo dos transportes", frisou André Almeida, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.
Os gastos com Alimentação e bebidas avançaram 0,95%, contribuição de 0,20 ponto porcentual para a inflação. As condições climáticas desfavoráveis estão por trás dos aumentos nos itens alimentícios nessa virada de 2023 para 2024.
"Historicamente, em meses de verão os preços dos alimentos sobem, especialmente por conta de condições climáticas", justificou Almeida. "Os alimentos in natura são bastante influenciados por esse período, e este ano teve esse fenômeno mais intensificado por conta do El Niño", completou.
Os alimentos comprados em supermercados subiram 1,12% em fevereiro. As famílias pagaram mais pela cebola (7,37%), batata-inglesa (6,79%), frutas (3,74%), arroz (3,69%) e leite longa vida (3,49%). Já a alimentação fora de casa aumentou 0,49%: a refeição fora de casa subiu 0,67%, e o lanche teve elevação de 0,25%.
Nos transportes, embora tenha havido recuo nas passagens aéreas, os combustíveis ficaram mais caros, sobretudo a gasolina, item de maior peso na composição do IPCA. O preço da gasolina aumentou 2,93%, impacto de 0,14 ponto porcentual na inflação.
"A partir de 1º de fevereiro houve aumento de ICMS sobre gasolina e óleo diesel. Então isso pode ter contribuído para essa alta na gasolina e no diesel também. Mas a gasolina teve alta superior", justificou Almeida.
Houve avanços relevantes também nos gastos com Saúde e cuidados pessoais (0,65%) e Comunicação (1,56%). Em Comunicação, o resultado foi pressionado pelos reajustes de TV por assinatura (4,02%) e do combo de telefonia, internet e TV por assinatura (3,29%). Por outro lado, houve deflação em Artigos de residência (-0,07%) e Vestuário (-0,44%).
Mas os principais alívios no IPCA do mês de fevereiro partiram dos itens passagem aérea (queda de 10,71% e impacto de -0,09 ponto porcentual) e cinema, teatro e concertos (-4,47% e -0,02 ponto porcentual).
"Teve a semana do cinema, praticamente todos os cinemas do País deram descontos na semana", contou Almeida.
As passagens aéreas já tinham registrado queda de 15,22% em janeiro. No ano de 2024, o recuo acumulado é de 24,29%.
"As passagens aéreas tiveram alta de mais de 80% nos últimos quatro meses do ano passado. Os preços das passagens aéreas não voltaram para o patamar que estavam antes dos últimos quatro meses do ano (de 2023)", ponderou André Almeida, do IBGE.
As passagens aéreas vinham de uma alta acumulada de 82,03% de setembro a dezembro de 2023.
Para a Tendências Consultoria Integrada, os dados de fevereiro foram qualitativamente melhores do que nos meses anteriores.
"Ainda assim, mantemos a cautela em relação à trajetória de desinflação de serviços, sobretudo os intensivos em trabalho, que permanecem em patamares elevados. Nesse sentido, os sinais de aperto adicional do mercado de trabalho, os estímulos em curso à demanda e as expectativas de inflação desancoradas representam riscos à dinâmica inflacionária", alertou Matheus Ferreira, analista da consultoria Tendência, em relatório. "O IPCA deve desacelerar em março. Nesse sentido, é esperado arrefecimento expressivo do grupo Educação, uma vez que o avanço de fevereiro foi decorrente de movimento sazonal. Ademais, a expectativa é desaceleração das cotações de combustíveis, em virtude de dissipação do aumento do ICMS ocorrido em fevereiro. No que tange aos preços de alimentos, apesar de forte recuo das cotações no atacado, os preços de alimentos in natura ainda devem se manter relativamente elevados em março", previu.