Inflação em 2015 pode chegar a 7% com aumento de impostos
Se confirmada, a alta anual do IPCA seria a maior em mais de uma década
O pacote com aumento de impostos do governo federal da última segunda-feira (19), que incluiu tributos sobre combustíveis, piorou ainda mais as expectativas de inflação para este ano, com projeções acima de 7%, cada vez mais longe do teto da meta oficial.
Se confirmada, a alta anual do IPCA seria a maior em mais de uma década, mas ainda não foi o suficiente para especialistas acreditarem em um aperto monetário maior pelo Banco Central - uma vez que a atividade econômica fraca e a perspectiva de maior rigor fiscal devem, com o tempo, gerar alívio nos preços.
"Fundamentalmente, vai sobrar para a atividade (econômica)", alertou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, que elevou em 0,5% a sua estimativa de alta do IPCA para este ano, a 7,3%, após o anúncio do pacote de medidas fiscais. A última vez que a inflação oficial do País ficou acima de 7% foi em 2004, quando o IPCA subiu 7,60%.
O governo estipulou como meta oficial para 2015 uma inflação de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos.
A última pesquisa Focus do BC com economistas de instituições financeiras, feita antes do aumentos dos tributos, mostrou que as estimativas eram de que o IPCA subiria 6,67% neste ano, com expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,38%.
Quatro medidas e quatro pesos
Entre as quatro medidas tributárias divulgadas na véspera, que devem elevar a arrecadação neste ano em R$ 20,63 bilhões, a que pesa mais sobre os preços é o aumento das alíquotas da Contribuição para Intervenção no Domínio Econômico (Cide), do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) que incidem sobre combustíveis.
Como a Petrobras já informou que os impostos serão repassados aos preços aos consumidores, Gonçalves espera que o preço da gasolina suba entre 8% e 9% na bomba e o do diesel, cerca de 3%.
Mesmo com a piora cada mais acentuada sobre as expectativas de inflação, especialistas consultados pela Reuters não esperam que o BC possa ser mais agressivo na elevação da taxa básica de juro, hoje em 11,75% ao ano, para não afetar ainda mais a já frágil atividade econômica.
"Ao mesmo tempo em que tem a inflação mais pressionada agora, tem um alívio maior no fim do ano por causa do fiscal mais apertado e da atividade mais fraca", disse Juliano Ferreira, estrategista da corretora Icap, que manteve sua projeção de que Selic irá a 12,50% no fim do atual ciclo de aperto, iniciado em outubro passado.
"Por isso, o BC pode se dar ao luxo de não colocar a Selic no céu", acrescentou.
Aumento da Selic
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decide na quarta-feira sobre a Selic e as expectativas quase unânimes são de que elevará a taxa em 0,50%. Apesar do cenário de maior pressão sobre a inflação, as ações de maior rigor fiscal têm agradado agentes econômicos, que as consideram essenciais para ordenar as contas públicas.
"Se você está fazendo um ajuste, está colocando a casa em ordem e vai ter que pagar um preço no curto prazo", aponta o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, que espera que o IPCA avance 7,1% neste ano.
"Mas com medidas de ajuste fiscal, política monetária contracionista e quadro de atividade relativamente fraca, é possível imaginar que os preços voltem a convergir à meta a partir do ano seguinte", acrescentou Rosa, em linha com o cenário que vem sendo defendido pelo próprio BC.
A nova equipe econômica do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff - encabeçada pelos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento), além do presidente do BC, Alexandre Tombini - vêm adotando medidas fiscais para recuperar a confiança na economia.