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Inflação recua, mas consumo cai e qualidade de vida piora: entenda o cenário atual e futuro da Argentina de Milei

Melhora de alguns indicadores macroeconômicos ainda não refletem positivamente na vida dos argentinos

25 fev 2025 - 08h50
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Mulher passando em frente a açougue de Buenos Aires, na Argentina.
Mulher passando em frente a açougue de Buenos Aires, na Argentina.
Foto: DW / Deutsche Welle

Quando Javier Milei assumiu a presidência da Argentina, o país vivia uma profunda crise econômica. Com a difícil tarefa de domar uma inflação galopante que chegava a 210% ao ano e mais de 25% mensais, o libertário prometeu uma revisão completa da economia. Em um pouco mais de 1 ano de governo, alguns indicadores macroeconômicos melhoraram, mas ainda não refletem positivamente na população, segundo observam economistas brasileiros e argentinos ouvidos pelo Terra

Primeiro economista na história a ocupar a Casa Rosada, Milei anunciou como um dos primeiros atos econômicos medidas rigorosas de austeridade, o famigerado “Plano Motosserra”. Foram realizados diversos cortes de gastos do governo de todos os tipos que a ajudaram a corrigir as finanças do Estado após anos de déficits, mas que por outro lado fizeram os indicadores de bem-estar da Argentina se deteriorarem significativamente no último ano.

A ONU observa que os indicadores de bem-estar da Argentina caíram em 2024 devido à crise prolongada e às medidas de austeridade do governo, com as taxas de pobreza atingindo níveis recordes de mais de 50%. Além disso, os argentinos estão consumindo cada vez menos. Um relatório do Cepa (Centro de Economia Política) estima que o poder de compra da população argentina desabou mais de 9% no ano passado.

“O governo de Milei em termos econômicos se resume em uma fraude eleitoral. Ganhou as eleições prometendo que a Motosserra, traduzida em ajuste fiscal, não cairia sobre os atacadistas e apenas cortaria despesas para a casta, interpretada como a classe alta da política. Contudo, o ajustamento recaiu profundamente sobre os setores populares da sociedade”, diz em entrevista ao Terra a economista argentina Valentina Castro.

O custo médio de vida de uma pessoa na Argentina é de quase 5 salários mínimos. Se for avaliado o custo de vida de uma família típica (casal com dois filhos) na Argentina, são necessários mais de 14 salários mínimos para poder adquirir bens e serviços básicos e pagar o aluguel de um apartamento de três quartos em Buenos Aires. 

“Os benefícios que têm sido para os setores do poder econômico [a política econômica de Milei] têm funcionado como o oposto de uma deterioração da qualidade de vida dos setores populares, prejudicados pela política salarial nula e pelo aumento do desemprego provocando uma queda histórica do consumo”, acrescenta Valentina Castro.

Aniela Carrara, economista e professora do Departamento de Economia da UFSCar, afirma que para que as pessoas deixem definitivamente essa situação de pobreza, voltem a consumir em larga escala e tenham salário maiores, o país precisa começar uma trajetória de crescimento. 

“A partir do momento em que o país comece a crescer, há a criação de postos de trabalho, há mais oportunidades em que essas pessoas podem se colocar, conseguir renda e ir girando a economia”, explica Carrara. 

Cenário atual e perspectiva futura  

Desde a mudança de governo em 10 de dezembro de 2023, foram realizadas diversas medidas de política fiscal, monetária e cambial. O controle da inflação foi um dos grandes méritos de Milei em seu primeiro ano de governo. A inflação saiu de três dígitos para dois em 12 meses.

A inflação da Argentina ficou em 2,2% em janeiro, apontou o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) divulgado pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos do país (Indec). Foi a menor taxa mensal desde julho de 2020 (1,9%). Em 12 meses, o índice chegou a 84,5%, abaixo dos 100% pela primeira vez desde janeiro de 2023. 

Embora tenha tido sucesso na redução da inflação, para 2025 Milei ainda terá outros desafios. Segundo Valentina Castro, desemprego, salários baixos e crescimento sem distribuição são alguns dos cenários econômicos desenhados para este ano.

“Espera-se um aprofundamento da crise social através do aumento do desemprego e da queda dos salários. Na perspetiva da atividade, espera-se um crescimento do PIB num efeito rebote devido à queda que o ano de 2024 implicou. Em qualquer caso, consolida-se um modelo de crescimento sem distribuição”, prevê Castro.

Aniela Carrera diz que Milei ainda tem o desafio de controlar a inflação, considerada ainda bastante alta pelos economistas. “Antes do governo do Milei, nós tínhamos algumas travas de preços para produtos da cesta básica. Mas o Milei retirou isso. Então, toda a população, inclusive os mais pobres, acabam sentindo 100% o peso da inflação, por mais que ela tenha sido reduzida”, enfatiza Carrara.

A expectativa de ambas as especialistas ouvidas pelo Terra é saber se, de fato, todo esse processo de retirada do congelamento de preços e outras políticas econômicas vão ser eficientes e, se agora, a economia argentina terá forças o suficiente para imprimir um processo de crescimento. Com um ano de governo, Milei mantém uma popularidade acima dos 40%, segundo o Instituto Zuban Córdoba.

Fonte: Redação Terra
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