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Inflação sobe acima do esperado e joga mais pressão sobre o BC às vésperas da reunião do Copom

Para analistas, dados ruins mostram uma resiliência dos preços maior do que se esperava, o que torna mais difícil o início do ciclo de queda da Selic

10 mar 2023 - 09h49
(atualizado às 15h32)
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Os reajustes de mensalidades escolares habitualmente praticados no início do ano letivo pressionaram a inflação no País em fevereiro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou de 0,53% em janeiro para 0,84% no último mês, divulgou nesta sexta-feira, 10, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

13/10/2020 ECONOMIA Real dinheiro moeda CREDITO Marcello Casal Jr / Agência Brasil
13/10/2020 ECONOMIA Real dinheiro moeda CREDITO Marcello Casal Jr / Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil / Estadão

O resultado superou a estimativa de alta mediana de 0,78% de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Estadão/Broadcast. O cenário inflacionário não deve trazer alívio para a política monetária do Banco Central (BC), que não terá espaço para promover cortes na taxa básica de juros (atualmente em 13,75% ao ano) ainda em 2023, avaliou a economista para o Brasil do banco BNP Paribas, Laiz Carvalho. O resultado de fevereiro reflete o que deve ser o comportamento da inflação ao longo do ano, com alguns repiques por fatores sazonais e uma desaceleração "muito lenta".

"Ainda devemos ver os principais itens rodando ao redor de 6% (no IPCA de 2023)", projetou Carvalho.

A taxa acumulada pelo IPCA em 12 meses arrefeceu de 5,77% em janeiro para 5,60% em fevereiro, mas a abertura dos dados do último mês não animou economistas. O índice de difusão, que mostra a proporção de itens com aumentos de preços, aumentou de 63% em janeiro para 65% em fevereiro

"Na nossa avaliação, as condições correntes desafiadoras recomendam uma calibragem conservadora da política monetária", corroborou o diretor de Pesquisa Macroeconômica do banco Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, em relatório.

A meta de inflação perseguida pelo Banco Central é de 3,25% neste ano, com um teto de tolerância de 4,75%.

"O qualitativo da inflação parece ter atingido um ponto de inflexão e deve ficar bem acima do teto da meta nos próximos meses. Temos avaliado que o melhor momento (da inflação) ficou para trás", afirmou o economista João Rabe, da gestora de recursos EQI Asset.

A inflação de serviços - usada como termômetro de pressões de demanda sobre os preços - passou de uma elevação de 0,60% em janeiro para uma alta de 1,41% em fevereiro, maior resultado da série histórica iniciada em 2012 pelo IBGE.

Segundo Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE, a alta recorde nos serviços "está fortemente relacionada aos cursos regulares", mas também é resultado de pressão dos avanços em aluguel residencial e transporte por aplicativo, além de outros subitens que permanecem com aumentos, como pacotes turísticos.

"A gente tem observado na verdade uma queda subsequente na taxa de desocupação, que continua, aumento de rendimento real, e isso pode significar uma maior demanda pelo setor de serviços, que foi o setor mais prejudicado pela pandemia", justificou Kislanov.

O pesquisador pondera que, embora a melhora no mercado de trabalho esteja sustentando a demanda por serviços, não há aceleração no ritmo de aumento de preços. Segundo ele, a inflação de serviços acumulada em 12 meses teve um pico recente em julho de 2022, quando alcançou 8,87%, engatando então uma trajetória de arrefecimento, passando de 7,80% em janeiro para 7,84% em fevereiro. No mês de fevereiro de 2022, a inflação de serviços foi de 1,36%.

"Penso que (a alta de serviços em fevereiro de 2023) tem muito mais a ver com fatores localizados, fatores pontuais", opinou Kislanov, que não vê intensificação da pressão de uma maior de demanda no momento, mas sim um repasse de aumento de custos.

Em fevereiro, os cursos regulares subiram 7,58%, puxados por aumentos que superaram os 10% no ensino médio e no ensino fundamental, além de altas relevantes também na pré-escola, creche, ensino superior, cursos técnicos e pós-graduação. Também pesaram mais no bolso das famílias os perfumes (7,50% mais caros), a gasolina (alta de 1,16%) e a energia elétrica residencial (1,37% mais elevada).

Por outro lado, houve trégua na despesa com alimentação e bebidas. Os produtos alimentícios para consumo no domicílio tiveram ligeira alta de 0,04% em fevereiro. Houve quedas nos preços das carnes (-1,22%), batata-inglesa (-11,57%) e tomate (-9,81%).

Segundo Kislanov, do IBGE, a redução no custo das carnes já pode ser efeito da suspensão de exportações do Brasil para a China, por conta de registro de um caso de mal da vaca louca em um bovino no Pará.

"Pode ser o efeito da suspensão de exportações de carnes do Brasil para a China por conta do mal da vaca louca", disse Kislanov. "Tem maior oferta de carnes no mês, não só de carne bovina, mas também frango. Mas a gente já vinha com uma oferta maior nesse mercado", completou.

Em fevereiro, educação teve a maior alta, com avanço de 6,28% no mês.
Em fevereiro, educação teve a maior alta, com avanço de 6,28% no mês.
Foto: Tiago Queiroz/Estadão / Estadão
Estadão
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