Investidores e empresários citam desafios de Levy na Fazenda
Sucessor de Guido Mantega já teve passagens pelo governo e é conhecido por um perfil mais focado no ajuste das contas
Os novos nomes da equipe econômica da presidente Dilma, oficializados na quinta-feira, parecem ter acalmado o mercado pela escolha aparentemente técnica. Mas o empresariado e os investidores ainda tem dúvidas sobre a autonomia que Joaquim Levy terá à frente do Ministério da Fazenda para adotar as medidas que julgam necessárias.
Levy já teve passagens pelo governo e é conhecido por um perfil mais focado no ajuste das contas, além de ter vindo da diretoria de investimentos do Bradesco, um banco privado, algo que causa arrepios em alguns setores do Partido dos Trabalhadores. Inclusive, ele já foi aluno de Armínio Fraga, o nome anunciado pelo tucano Aécio Neves para comandar as finanças do governo caso tivesse sido eleito.
“Apenas a indicação de um nome de mercado, como o Levy, não basta, ainda mais quando consideramos a forma lenta e atrapalhada com que o governo conduziu a escolha e o anúncio da nova equipe. Isso demonstra uma falta de convicção enorme”, diz o vice-presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), Fernando Ulrich, demonstrando otimismo e desconfiança com o aceno de Dilma ao mercado.
Ulrich elenca como principal desafio da pasta clarear o quadro fiscal para avaliar qual a real situação das contas públicas equalizando assim as receitas e as despesas, além de manter o ânimo do mercado ao pôr o discurso em prática, “sem ruídos”, porque “ao menor sinal de desconfiança de que a equipe econômica fará o que for necessário, o mercado desanimará”. Precisa ainda criar um ambiente estável para que o empresariado doméstico e estrangeiro volte a investir ao acabar com o que chama de ”hiperatividade e microgerenciamento da economia”, que são os pacotes, “sem mais estímulos, sem mais controle de preços e da taxa de retorno”. Por fim, diminuir o papel dos bancos públicos.
Boa parte das medidas já fora anunciadas por Levy em seu discurso proferido no anúncio oficial na tarde de quinta-feira, quando prometeu estabelecer uma meta de superávit primário para os três próximos anos, que deve ficar em 1,2% do PIB em 2015, para depois subir para um patamar de 2% nos dois anos seguintes. “Essa é a base para aumentar a confiança na economia, retomando o crescimento econômico, por conta do aumento da confiança”, disse Levy em sua exposição.
O vice-presidente do IEE acredita que depois das eleições o governo entendeu que a credibilidade do mercado na condução da economia estava “completamente minada”. ”A receita econômica do Partido dos Trabalhadores é um desastre para o País e, em parte, Lula reconhece esse problema - e por isso surpreendeu o mercado com sua equipe econômica em 2002/03. E, portanto, a nomeação de uma equipe econômica menos estatizante ou mais pró-mercado é uma busca pela recuperação da credibilidade”.
Assim como o empresariado, os investidores também recebem a chegada de Levy como uma boa notícia, esperando um cenário com menor intervenção governamental na economia. O diretor da SP Investiments, Rafael Basso, afirma que durante a campanha política a expectativa era de que o cenário de econômico seguiria nessa patamar, “com elevado grau de intervenção nos ambientes monetário e fiscal, e que isso significaria mais quatro anos de gastos elevados (e de todas as complicações subsequentes a isso)”, previsão que mudou com a nova equipe econômica, deixando claro que os ajustes devem ocorrer.
“A desconfiança do investidor atualmente está muito mais focada no grau de liberdade, independência do novo time econômico atuar do que com o discurso pregado pela equipe da atual presidente durante a campanha”, afirma Basso.
Do ponto de vista do investidor, Basso elenca como desafios a retomada da credibilidade do mercado com o reequilíbrio das contas do governo (com retomada do superávit fiscal para evitar o rebaixamento da dívida soberana); manter a inflação no centro da meta (4,5% ao ano) e não no teto (6,5%) e a volta da livre flutuabilidade na taxa de câmbio.
Apesar do governo alardear que a crise está sob controle no Brasil em um período de pleno emprego, tanto os empresários como os investidores preveem que o mercado de trabalho começa a dar sinais de enfraquecimento, além da alta dependência de commodities, queda do consumo familiar e taxas de juros altas, que não resultam na atração de investimentos e crescimento econômico.