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Juro alto trava consumo, produção e emprego, mas antes de amaldiçoar o BC é preciso espiar o governo

Palavrório imprudente pode ser um estímulo para o arrocho monetário, como se viu nos Estados Unidos, com a decisão do Fed da quarta-feira, 29, e já se percebe também no Brasil

30 jan 2025 - 21h03
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Juros altos são um desastre para o consumo, para a produção e para o emprego; e, antes de amaldiçoar o Banco Central (BC), é bom dar uma espiada nas ações do governo, em suas promessas, na condução das contas públicas e na tendência dos preços. Palavrório imprudente pode ser um estímulo ao arrocho monetário, como se viu nos Estados Unidos e já se percebe também no Brasil.

Recém-eleito, o presidente Donald Trump chegou à Casa Branca prometendo ações inflacionárias, como grandes tarifas de importação e novos estímulos à indústria. Em poucos dias o banco central americano, o Federal Reserve (Fed), interrompeu a redução dos juros. Nem foi preciso citar, no informe oficial, o novo presidente empossado.

No Brasil, o Banco Central voltou a elevar os juros básicos, citando em nota, como sempre, o quadro internacional, e deixando clara, logo depois, a preocupação com o orçamento e com a evolução da dívida pública. Além de aumentar para 13,25% a taxa básica de juros, o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) apontou a possibilidade, já mencionada em dezembro, de novo acréscimo de um ponto porcentual em sua próxima reunião, prevista para março.

O comunicado ainda reafirma, com ênfase, o compromisso de levar a inflação à meta oficial de 3%, ou à sua vizinhança, deixando pouca esperança de uma atuação mais branda até alcançar esse objetivo.

Responsável pela indicação do novo chefe do BC, Gabriel Galípolo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou rotular o novo aumento de juros como herança da política de Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Pode haver, de fato, continuidade no aperto monetário, mas como consequência de outra continuidade, a das finanças públicas em desarranjo.

Baseado em avaliações coletadas semanalmente no mercado, o boletim Focus da última segunda-feira mostra contas federais deficitárias pelo menos até 2028. Além disso, aponta inflação de 5,50% neste ano, de 4,22% no próximo, e taxas acima do centro da meta em 2027 e 2028.

Não por acaso, a nota do Copom menciona as avaliações dos analistas e operadores do mercado: "a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços dos ativos e as expectativas dos agentes".

Agir sobre as expectativas é uma das funções mais importantes da autoridade monetária - e as expectativas no mercado brasileiro, neste momento, são perigosas. Além de inflação longe da meta e de contas públicas em mau estado, o cenário previsto inclui juros elevados e baixo crescimento econômico nos próximos anos, com taxas inferiores a 2% em alguns períodos.

Crescimento medíocre ou abaixo disso envolve muito mais que números decepcionantes de Produto Interno Bruto (PIB) e emperramento desta ou daquela atividade. Envolve baixa criação de empregos, limitação de oportunidades, consumo contido, más condições de vida para dezenas de milhões de pessoas, menores perspectivas de melhoras e, portanto, menos esperanças. No caso do Brasil, seria um retrocesso doloroso, depois dos ganhos sociais e econômicos acumulados, com muita dificuldade e muita insegurança, no último quarto de século e, para muita gente, num período até mais longo.

Avanços importantes podem ser perdidos se o governo for incapaz de perceber a importância da administração prudente e voltada para o crescimento seguro no longo prazo. Seguro quer dizer, nesse caso, com sustentabilidade, uma condição só alcançável, numa economia emergente, quando se evita a inflação, se usam com eficiência os meios públicos e se preservam condições favoráveis ao investimento produtivo.

Estadão
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