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Layoffs às avessas: startups contratam em ritmo acelerado 

Quase 4 mil pessoas foram demitidas em startups brasileiras em 2022

9 set 2022 - 01h00
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O cenário atual das startups tem dominado os feeds de notícias, mas dessa vez por conta das demissões em massa, especialmente entre as empresas em late stage. Unicórnios brasileiros devem demitir quase 6 mil pessoas até o fim do ano, segundo estimativas extraoficiais.

Um levantamento recente do Layoffs Brasil, movimento para ajudar profissionais de tecnologia a se recolocar no mercado, aponta que ao menos 3.861 funcionários foram desligados de startups brasileiras em 2022, mas o total pode chegar a 5.689 demissões, considerando os dados ainda não confirmados por startups.

Não apenas remando contra a maré, mas saltando com o barco sobre esse tsunami de demissões em massa, startups brasileiras em diferentes estágios de crescimento seguem em expansão contínua e recebendo investimentos. Em alguns casos, empreendedores têm a meta de triplicar o time até o fim do ano.

A startup Contabilizei está com 100 vagas abertas para todo Brasil
A startup Contabilizei está com 100 vagas abertas para todo Brasil
Foto: Contabilizei / Divulgação

A Contabilizei, startup paranaense que transfere para o online a gestão contábil e financeira do pequeno empreendedor e do profissional autônomo - possui mais de 1.000 colaboradores e está com cerca de 100 vagas abertas, em diversas áreas de conhecimento e diferentes modelos de trabalho, além de presencial, híbrido ou 100% remoto. 

"Além dos profissionais em tempo integral, mais de 150 contadores ajudam os nossos clientes a resolverem todas as dúvidas e questões burocráticas do início ao fim do processo", explica o fundador da Contabilizei, Vitor Torres. 

Outros números da startup paranaense também impressionam. 

Enquanto um escritório convencional de contabilidade consegue atender de 80 a 100 clientes, a empresa bateu a marca de 30 mil clientes em mais de 50 cidades. E na última rodada de investimentos liderada pela SoftBank, a startup recebeu R$ 320 milhões. Ao todo, já foram captados mais de R$ 500 milhões.

Segundo Torres, o planejamento de expansão segue em ritmo equilibrado. O objetivo é ampliar os produtos e serviços financeiros na plataforma, aprofundando a relação com empresas parceiras. Ele ressalta que a saúde financeira da companhia é sólida e que investe constantemente em inovação.

Um olho no peixe e outro no gato

Após receber o aporte de R$ 4 milhões na rodada Seed em 2021, o Aprova Digital multiplicou seu faturamento por três e deve repetir o feito este ano. A govtech apostou na digitalização estimulada pela pandemia e na entrada de novos gestores para modernizar a administração pública oferecendo serviços digitais, integrações e automações para prefeituras brasileiras.

Apesar de estar em outro estágio de desenvolvimento, a startup que conta com 65 colaboradores também está com vagas abertas para engenheiros de software, analistas de qualidade, recrutadores, executivos de contas, arquitetos de solução, entre outros, e pretende dobrar o time até o fim do ano.

Para o CEO do Aprova Digital, Marco Antonio Zanatta, apesar das layoffs, a empresa manteve o ritmo dos investimentos, buscando novos talentos e solidez. O cenário transmite insegurança e pode ser pessimista para muitos, mas para Zanatta, as perspectivas de emprego no setor de tecnologia ainda são fantásticas. 

"O Brasil possui profissionais de alta performance que foram demitidos, mas serão realocados, sem dúvida. A demanda por serviços de tecnologia deve superar a oferta de profissionais que retornaram ao mercado com as layoffs”, acredita o CEO do Aprova Digital.

O empreendedor atribui a confiança às estratégias sempre constantes na operação do negócio, como o cuidado com o fluxo de caixa e a atenção aos indicadores operacionais e de sucesso, considerados critérios atrativos para investidores. Falando nisso, Zanatta não descarta uma nova rodada de investimentos ainda em 2022.

Foco no equilíbrio financeiro

Mesmo com o mercado em dificuldades, mas com estratégias pautadas em destravar o crescimento do empreendedorismo no Brasil, a Omie - que combina sistema de gestão online, serviços financeiros e educação empreendedora para empresas de todos os portes - também mantém os planos de ampliar o quadro em aproximadamente 25% para atender a demanda crescente.

Até o fim do ano a equipe vai contar com 2.100 colaboradores, incluindo a rede de franquias espalhadas pelo país, que já soma 130 unidades. 

Além disso, o CHRO da Omie, Luiz Felipe Massad, diz que está sempre avaliando o mercado e conversando com outros players e potenciais investidores para identificar oportunidades de investimentos e M&As. 

Desde a fundação da Omie em 2013, já foram levantados mais de R$ 690 milhões de investimento somando as rodadas Série A e B - lideradas pela Astella Investimentos em 2018 e em 2019 pela Riverwood - além da Série C na metade do ano passado pela Softbank, com uma extensão realizada posteriormente pela Tencent. 

Além do crescimento dos times, Massad conta que com os últimos aportes, recebidos em 2021, a Omie ganhou força para ampliar a participação no mercado e investir na captação de novos clientes e na evolução do produto e ampliação dos canais de distribuição.

"Este crescimento também é atribuído à composição de timing de captação, margem bruta e o caminho para lucratividade. Com uma margem bruta de 75%, prevemos equilíbrio financeiro até meados de 2023”, explica o CRHO da Omie.

Má fase não caracteriza crise, segundo ABStartups

Para o diretor de Marketing e Vendas da ABStartups (Associação Brasileira de Startups), Paulo Dores Buso, o atual cenário não representa uma crise para o mercado de startups, apenas exige mais cautela dos investidores. Ele acredita que ainda há um movimento positivo do mercado para contribuir com a inovação e o empreendedorismo brasileiros.

No entendimento de Buso, as demissões foram provocadas por mudanças no volume de deals com startups nos dois últimos anos, sobretudo envolvendo rodadas mais elevadas de investimentos. No entanto, ele também sugere cautela nessa comparação, uma vez que 2021 foi um ano globalmente atípico.

“Observamos que startups que captaram valores altos no último ano apostaram em um crescimento igualmente acelerado para 2022 e, ao se depararem com um novo cenário, foram forçadas a reavaliar a forma como queimavam seus caixas. Entre as diversas decisões que podem ser tomadas neste momento, estão mudanças no quadro de colaboradores”, evidencia o diretor.

Para ele, o momento é propício para as startups - de modo geral - fazerem uma overview. O diretor da ABStartups orienta que empreendedores avaliem o fluxo de caixa e indicadores operacionais e de sucesso, que são elementos relevantes na avaliação de investidores, principalmente para captação de rodadas nas séries B e C.

Já as startups em fases de desenvolvimento, na visão de Buso, devem ser menos afetadas por esse cenário negativo, uma vez que os investimentos de Pré-seed e Seed manterão os padrões de crescimento. 

“Mas não se deve excluir a necessidade dessas startups também avaliarem a saúde financeira e prepararem pitchs consistentes que demonstrem uma operação saudável”, aconselha.

Guerra lá, layoffs aqui

Segundo uma pesquisa da Crunchbase - empresa de dados em tecnologia - o cenário mundial está sendo afetado e os próximos trimestres devem continuar instáveis, ainda mais diante de instabilidades mundiais, como o conflito entre Ucrânia e Rússia.

Em 2021 a indústria do capital de risco (venture capital) no Brasil foi muito movimentada e as startups captaram R$ 46,5 bilhões, 218% a mais que ano anterior, quando receberam R$ 14,6 bilhões.

Na época, o ritmo de contratações foi frenético, já que as techs conviviam com baixas taxas de juros e consumidores dispostos a experimentar produtos e serviços, contexto que também atraiu investidores.

Mas por conta do aumento de taxas em diversos países, inclusive no Brasil, neste ano o cenário apertou e a renda fixa passou a ser uma aplicação mais atrativa para muitos investidores.

De uma maneira ampla, o argumento utilizado por investidores é de que se tornou muito mais vantajoso deixar o dinheiro em aplicações mais seguras, como títulos do tesouro e outras aplicações indexadas às taxas de juros, do que arriscar investir em uma startup ou no sistema produtivo, que são investimentos de risco muito maior.

Como atrair os chamados “angels” ficou mais caro e difícil, muitas startups passaram a reduzir a folha de despesas com pessoal no intuito de melhorar as margens de lucro, o que acabou gerando a onda de layoffs.

Entre as dez startups que mais demitiram funcionários no Brasil nos últimos meses, segundo o movimento Layoffs Brasil, estão:

  • • Ebanx
  • • Kavak
  • • Facily
  • • Vtex
  • • Favo
  • • QuintoAndar
  • • Loft
  • • Olist
  • • Liv Up
  • • Provu

Por meio do seu perfil no Twitter, Matt Montenegro, CEO da Pingback, criticou as demissões nas startups pelo mundo, inclusive no Brasil. Para ele, as demissões em massa vieram após gastos desnecessários por consequência de uma má gestão dessas empresas.

“A crítica é precisamente sobre a má gestão das empresas que gastaram mal seus recursos e agora precisam desesperadamente cortar pessoas para sobreviver; não aos funcionários que acabam prejudicados como consequência disso”, disse, nos comentários da publicação.

Ana Karla Martins e Deyvid Alan de Oliveira

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