Leilão de baterias do Brasil pode movimentar US$450 mi em investimentos, estima Oliver Wyman
O primeiro leilão do Brasil para agregar baterias e sistemas de armazenamento ao setor elétrico, previsto para este ano, pode movimentar 450 milhões de dólares em investimentos em projetos, considerando a contratação de uma potência de cerca de 300 megawatts (MW), segundo estimativa da consultoria Oliver Wyman.
Em relatório sobre o tema, antecipado à Reuters, a consultoria destaca a importância da nova tecnologia para equilibrar a variabilidade da geração de energia das usinas eólica e solar, fontes limpas que vêm conquistando cada vez mais espaço na matriz brasileira, mas que não têm produção controlável como as hidrelétricas e termelétricas.
Um leilão exclusivo para contratar sistemas de armazenamento de energia ajudará a desenvolver esse novo mercado no Brasil, podendo estimular a indústria local, além de contribuir para uma operação mais eficiente do sistema elétrico como um todo, avalia Rodrigo Borges, gerente de Energia e Recursos Naturais da Oliver Wyman.
"Sabemos que o regulador está prevendo sistemas de escala, de 30 MW para cima. A gente estima que, dez sistemas participando do leilão, uma demanda de 300 MW, seria razoável. Teria impacto a partir de 2029 para ajudar nos gargalos de gestão de intermitência (de renováveis)".
"Uma das principais dúvidas é em relação ao tamanho da demanda e localização dela, isso pode criar mais ou menos gargalos ou incentivar mais ou menos investimentos", acrescentou o especialista.
Borges também observou que as baterias poderão reforçar a estabilidade e a segurança do suprimento de energia em meio ao crescimento do consumo de energia por eletrointensivos, como os data centers, e também reduzir o volume de cortes de geração renovável ("curtailments"), que desperdiçam energia e impõem custos bilionários às geradoras.
Pelos cálculos da Oliver Wyman, se o Brasil já contasse com sistemas de armazenamento em operação, entre abril e dezembro de 2024 teria sido possível reduzir em 21% a queima de combustíveis fósseis por termelétricas e utilizados para suprir gargalos na transmissão de energia.
LEILÃO EM ESPERA
O Ministério de Minas e Energia divulgou no ano passado uma proposta de leilão exclusivo para baterias, depois de desistir de incluir a tecnologia no certame de reserva de capacidade, que acabou reservado para usinas termelétricas e hidrelétricas.
As baterias, que poderiam armazenar energia de fontes intermitentes como a eólica e solar, deverão entrar no sistema brasileiro em momento em que a operação da rede elétrica no país se torna mais complexa e passa a exigir mais flexibilidade.
Esses sistemas deverão ser utilizados principalmente para o chamado "atendimento de ponta" pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), isto é, nos horários mais críticos da operação em que há picos de carga e uma baixa de geração.
Pela proposta do governo, a licitação ocorrerá em junho e oferecerá contratos com prazo de 10 anos, com início de suprimento em julho de 2029. Os sistemas deverão entregar disponibilidade de potência máxima igual a 4 horas diárias, recebendo uma receita fixa por isso.
Várias empresas do setor de energia já comentaram publicamente ter interesse em participar do leilão, como a portuguesa EDP, que tem experiência com a tecnologia no Chile, e a transmissora ISA Energia, que opera o único projeto de baterias de larga escala do Brasil, no litoral paulista.
Entre as fabricantes, a brasileira WEG ingressou há alguns anos nesse mercado nos Estados Unidos e vinha aguardando oportunidades para avançar com a tecnologia também no Brasil.
O Ministério de Minas e Energia ainda precisa definir pontos importantes para a realização do leilão, entre eles os modelos de negócio que poderão participar --baterias sozinhas ("standalone") ou associadas a usinas-- e os períodos de recarga.
Na consulta pública realizada pelo governo, várias empresas pediram para antecipar o início dos projetos, por considerarem 2029 muito distante. A fabricante chinesa Huawei, uma das que endossou a proposta, defendeu o início dos contratos para julho de 2026, avaliando que esse prazo reduz riscos relacionados à taxa de câmbio e "desencoraja a participação especulativa" no certame.
Segundo Borges, da Wyman, os custos das baterias estão caindo nos últimos anos, em função de um aumento da capacidade produtiva especialmente na Ásia, em linha com o avanço da eletromobilidade e da eletrificação das economias.
Ele avalia que o desenvolvimento desse mercado no Brasil poderá ocorrer de forma semelhante ao da eólica e solar, que no passado acabaram sendo contratadas em leilões do governo a preços mais altos, em uma iniciativa que se provou bem-sucedida para estimular as tecnologias.
"Hoje as fontes (eólica e solar) são competitivas porque lá atrás a gente investiu no Proinfra, então é essa mentalidade, de olhar para médio e longo prazo", disse.