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Leilão expõe atrasos em obras do Galeão e Confins, dizem especialistas

22 nov 2013 - 12h46
(atualizado às 12h52)
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De olho no setor aéreo, que sofreu expansão nos últimos dez anos e tem grande potencial de crescimento no País, cinco consórcios devem disputar a concessão do Galeão por 25 anos e três competem para gerir Confins pelas próximas três décadas. Para o aeroporto fluminense, o lance mínimo é de R$ 4,82 bilhões, e no caso do terminal mineiro, R$ 1,09 bilhão. O governo espera, no entanto, ágio recorde e ganha quem oferecer mais retorno aos cofres públicos.

Embora não tenham sido confirmados, analistas apontam que entre os consórcios estão: Odebrecht e Changi (Cingapura, considerado o melhor aeroporto do mundo), Ecorodovias e Fraport (Frankfurt), Carioca Engenharia associada à ADP (Paris) e Schipol (Amsterdã), Queiroz Galvão e Ferrovial (Heathrow) e CCR aliada aos operadores dos terminais de Zurique e Munique. O edital exige investimento mínimo de R$ 5,7 bilhões no Galeão e R$ 3,5 bilhões em Confins.

Segunda rodada de leilões do setor no País (após Guarulhos, Campinas e Brasília, em fevereiro do ano passado, que arrecadou R$ 24,5 bilhões), a disputa é mais um teste do modelo de privatizações aeroportuárias em aplicação pelo governo e, segundo especialistas, deve tirar a Infraero de sua "zona de conforto".

"Eles (Infraero) têm um histórico de não cumprir prazos, mas agora, com as empresas privadas, estarão sob pressão. É do máximo interesse dessas grandes empreiteiras e operadoras internacionais que tudo aconteça", diz Jorge Leal Medeiros, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da USP e da Fundação Vanzolini.

No modelo atual, os consórcios tornam-se sócios majoritários dos terminais aéreos, com 51%, e a Infraero mantém-se como sócia minoritária, com 49%. No caso do Galeão, antes de repassar o controle à concessionária, a estatal continua sendo a responsável pela conclusão de obras iniciadas há cinco anos, ainda longe de serem concluídas.

Gargalos e transição

No Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim (nome oficial do Galeão), em obras desde 2008, a Infraero tem agora pouco mais de seis meses para solucionar gargalos e problemas históricos antes de o terminal passar por um teste de fogo como um dos pontos de entrada ao País durante a Copa, e outro ainda maior, dentro de dois anos e meio, como a principal porta para as Olimpíadas de 2016, realizadas no Rio.

Usuários reclamam de falta de tomadas, má cobertura de rede 3G e WiFi, problemas em banheiros, escadas rolantes e esteiras inoperantes, sinalização ruim e despreparo de equipes de informação, além das obras no Terminal 1, que fazem com que serviços como farmácias sejam encontrados apenas no Terminal 2, forçando uma longa caminhada.

Estas melhorias, além das obras estruturais nos terminais 1 e 2 e a revitalização nas pistas, tinham previsão de entrega para 2012, mas vêm sendo sistematicamente postergadas.

Em entrevista à BBC Brasil, a Infraero afirmou que o pacote de melhorias ficará pronto até a Copa e não deve comprometer o evento. No balanço atualizado e informado pela própria estatal, no entanto, com dados de outubro, apenas as obras nas pistas têm mais de 50% concluídas (84,3%). No Terminal 1, somente 35,7% dos trabalhos foram finalizados, e no Terminal 2, a execução atinge 43,5%.

O Tribunal de Contas da União (TCU), informou à BBC Brasil que em sua última fiscalização, em abril deste ano, encontrou irregularidades no Galeão, como a existência de atrasos injustificáveis nas obras e serviços e possível desproporção entre as despesas auxiliares e administrativas em razão do ritmo da obra.

Quanto aos prazos, a Infraero diz que o setor A do Terminal 1 será entregue em fevereiro de 2014. "Para os setores B e C, os serviços serão reavaliados em conjunto com o concessionário. Esse fato não afetará as operações durante a Copa", afirma.

Plano de três etapas

Os gargalos no Galeão serão alvo de um plano em três etapas. A cargo da estatal, ainda antes da transição derradeira do controle do aeroporto, fica o Plano de Ações Imediatas, "com vistas a implementar rapidamente a experiência do usuário", e que deve ser implementado já nos próximos meses (veja lista ao lado), além das obras nos Terminais 1 e 2 e nas pistas.

A concessionária vencedora do leilão só deve assumir em março de 2014, ficando responsável por obras de expansão estrutural com prazo para final de 2015 (estacionamentos), e abril de 2016 (novos pontos de embarque e ampliação do pátio). Já a construção de uma terceira pista só está prevista no edital quando o aeroporto atingir 262 mil movimentações de aeronaves/ano.

A Infraero diz ainda que as obras, quando concluídas, aumentarão a capacidade do aeroporto em 25,8 milhões de passageiros/ano, passando dos atuais 17,4 milhões para 43,2 milhões, e que a demanda para 2014 está prevista em 20,2 milhões, "o que significa que o Galeão vai estar preparado para atender a demanda projetada para os próximos anos, incluindo os eventos esportivos".

Na visão dos especialistas consultados pela BBC Brasil, este panorama reflete justamente a lógica das soluções alternativas na corrida contra o tempo antes da Copa do Mundo e do próprio aumento do número de passageiros nacionais, que tem colocado o sistema aéreo do País no limite, como se vê em datas como Natal e Carnaval.

"Veremos a implementação de medidas conhecidas como de 'quick gain', ou ganho rápido. Elas têm fácil aplicação, mínimo custo e grande impacto, e dado a todos os atrasos, é o que será possível fazer. Creio que é possível que sejam finalizadas a tempo", diz Francisco Lyra, consultor da CFly Aviation e ex-presidente da Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral).

O especialista explica que, dado o momento, de fato seria conflitante executar obras de grande porte, mesmo que com caráter de urgência, e preparar os aeroportos para receber um alto volume de passageiros ao mesmo tempo. "Terão que otimizar o que já existe. Passada, a Copa, aí sim, serão dois anos para as grandes obras no Galeão, que será novamente testado durante as Olimpíadas".

Para as companhias aéreas a situação também é de preocupação. "Existe uma limitação e alertas têm sido feitos há algum tempo. Vamos lidar com o que se tem, e esperamos que as obras em curso sejam entregues dentro do cronograma, ainda que sem o devido tempo para teste", disse a Associação Brasileira das Empresas Aéreas.

Já Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, diz que o ritmo das obras continua sendo preocupante.

"Eu tenho certeza de que dificilmente essas obras ficarão prontas no prazo. Eu acredito que durante a Copa do Mundo haverá muito trabalho inacabado, mas teremos essa espécie de 'maquiagem', e os turistas não vão perceber. Vamos ver muitos painéis cobrindo áreas do aeroporto, mas nós sabemos que do outro lado está o atraso do que não foi feito".

O especialista diz ainda que, passado este primeiro momento da privatização e com uma melhoria a longo prazo, a sociedade deve passar a questionar outros pontos cruciais do transporte aéreo, como o acesso aos aeroportos.

"Haverá uma nova pressão. Quando a estrutura melhorar, as críticas serão dirigidas à falta de metrô e outras formas de transporte público ligando a cidade aos grandes terminais aéreos do País", diz.

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Foto: Arte Terra

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