Lira turca sofre queda histórica de 15% em onda de vendas inflamada por Erdogan
A lira turca chegou a despencar 15% nesta terça-feira, em seu segundo pior dia de história, depois de o presidente do país, Tayyip Erdogan, defender os recentes e acentuados cortes nas taxas de juros e prometer vencer sua "guerra econômica pela independência", apesar de críticas e apelos generalizados para reverter o curso.
A lira caiu a um piso de 13,45 por dólar, renovando mínimas históricas pela 11ª sessão consecutiva. Nesse patamar, a moeda perdeu 45% de seu valor neste ano, sendo 26% apenas desde o começo da semana passada.
Erdogan tem pressionado o banco central para entrar em um ciclo agressivo de flexibilização monetária que visa, segundo ele, aumentar as exportações, investimentos e empregos --mesmo com a inflação disparando para perto de 20% e a depreciação da moeda acelerando, o que afeta profundamente a renda dos turcos.
Muitos economistas consideraram imprudentes os cortes nos juros e têm pedido uma reversão de curso na política monetária, enquanto políticos da oposição apelaram para eleições antecipadas. Cidadãos turcos disseram à Reuters que o colapso vertiginoso da moeda está alterando seus orçamentos familiares e planos para o futuro.
Semih Tumen, que já foi vice-presidente do banco central e demitido no mês passado na mais recente mudança de comando do BC por Erdogan, pediu um retorno imediato a políticas que protejam o valor da lira.
"Este experimento irracional, que não tem chance de sucesso, deve ser abandonado imediatamente e devemos retornar a políticas de qualidade que protejam o valor da lira turca e a prosperidade do povo turco", disse ele no Twitter.
O tombo da moeda nesta terça-feira foi o pior desde o auge da crise cambial em 2018, que levou a uma recessão acentuada e a anos seguintes de crescimento econômico abaixo da média e inflação de dois dígitos.
A lira reduziu as perdas e, por volta de 11h20 (de Brasília) caía 7,7%, a 12,2500 por dólar. Mas a série de 11 pregões de baixas é a mais longa desde 1999.
O banco central cortou as taxas de juros em um total de 400 pontos-base desde setembro, deixando os rendimentos reais profundamente negativos, já que praticamente todos os outros bancos centrais começaram a apertar suas políticas monetárias ou estão se preparando para fazê-lo.
A lira tinha de longe o pior desempenho global neste ano devido principalmente ao que alguns analistas chamaram de "experimento" econômico prematuro do presidente que tem governado a Turquia por quase duas décadas.
O Partido AK, do qual Erdogan faz parte, está caindo nas pesquisas de opinião antes de eleições marcadas para o mais tardar em meados de 2023, refletindo um custo de vida nitidamente mais alto.
Em relação ao euro, a lira enfraqueceu para uma nova mínima recorde de 14,6442 por euro nesta terça-feira.
O rendimento dos títulos de referência de dez anos superou 21% pela primeira vez desde o início de 2019. Os títulos soberanos em dólares sofreram quedas acentuadas, com muitas emissões de prazos mais longos caindo 2 centavos, mostraram dados da Tradeweb.
Com a queda da lira, o índice Bist 100, referência para as ações turcas, subia 1,7%, devido à repentina queda nos "valuations" das empresas. Mas o índice de bancos caía 2,5%.