Lobos em pele de cordeiro: como funciona o Golpe do 0800
Trata-se de mais um golpe aplicado com engenharia social: veja como ele é feito
A rápida digitalização decorrente dos avanços tecnológicos e o processo de inclusão bancária são indiscutivelmente eventos que melhoraram muito a vida das pessoas. No universo bancário, as facilidades para abrir conta diretamente no celular e as transações via Pix ou no próprio aplicativo de mensagens são exemplos destas inovações, que garantem uma boa experiência aos consumidores.
No entanto, todo este avanço também abre brechas para oportunistas, que buscam aplicar golpes e fraudes digitais se valendo da assimetria de conhecimento dos clientes sobre como se proteger em um mundo digital.
A tecnologia bancária voltada à segurança é uma das principais prioridades das instituições financeiras no Brasil e no mundo. As diversas camadas de proteção dos sites e aplicativos bancários, como biometrias, tokens, senhas, entre outros mecanismos, que passam por atualizações frequentes, são formas eficientes de garantir a proteção dos clientes do ponto de vista tecnológico.
Todas essas inovações decorrem, em parte, do investimento de cerca de R$ 3,5 bilhões que os bancos fazem anualmente em tecnologias de segurança. No entanto, os golpistas estão sempre se reinventando para tentar fazer novas vítimas, e agora, como lobos, tentam justamente se fantasiar de cordeiros para atacar os clientes.
O Golpe do 0800
Neste mês de outubro, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) emitiu um comunicado sobre uma modalidade que não é nova, mas está sendo cada vez mais praticada: o golpe do 0800, também conhecido como golpe da falsa central de atendimento.
Nele, os golpistas enviam mensagens via SMS ou aplicativo avisando sobre uma suposta compra suspeita e pedem para que a pessoa entre em contato por meio de um telefone 0800. Ao ligar, ela é atendida por uma falsa central de segurança, porém, muito convincentemente montada, que a induz a entregar dados bancários confidenciais ou a fazer operações para cancelar a tal compra.
Trata-se de mais um golpe aplicado com o que chamamos de engenharia social. Cerca de 70% das tentativas de golpes, por sinal, utilizam este modus operandi. Nessa modalidade, os golpistas criam uma história para sensibilizar e induzir as pessoas a entregarem informações confidenciais, realizarem transações e, assim, conseguem lesar as vítimas.
A engenharia social usa determinados gatilhos para potencializar falhas humanas. No caso do golpe do 0800, os trapaceiros exploram principalmente o medo de as pessoas terem sua integridade financeira ameaçada, ao mesmo tempo em que oferecem uma falsa sensação de segurança, acolhimento e facilidade, com uma suposta central de atendimento. Isso tudo afeta a capacidade de as vítimas tomarem decisões racionais. É neste “deslize” que o golpe toma forma.
Informação e prevenção
Uma das principais defesas contra golpes é ter calma para analisar a situação. Ter conhecimento e consciência sobre os mecanismos de atuação também é fundamental para que as pessoas saibam das ameaças existentes e consigam se prevenir. Desconfie e, sempre que algo inusitado ocorrer, não ceda à primeira abordagem.
Em primeiro lugar, é importante enfatizar: bancos nunca ligam para você e pedem dados confidenciais, como senhas, tokens e outras informações pessoais, bem como jamais solicitam que sejam realizadas transferência, como Pix, para regularizar problemas nas contas. Pedidos assim devem acionar o alerta nas pessoas – é golpe!
Em segundo lugar, é preciso sempre ter em mente que há vários canais oficiais de contato com os bancos, listados em seus sites, aplicativos e cartões, além dos gerentes que atendem os clientes regularmente. Assim, caso receba uma suposta mensagem do banco pedindo para entrar em contato por um número 0800, não faça isso, apenas ignore a mensagem ou, se tiver dúvidas, contate o seu banco pelos canais oficiais.
Essas medidas funcionam para prevenção não apenas do golpe do 0800, mas também de todos os tipos que utilizam a engenharia social. A informação, vale dizer, é a melhor ferramenta de prevenção. Não à toa os bancos estão sempre atentos a novas modalidades de golpes, agindo e informando assim que surgem.
Criminosos estão sempre em busca de novas formas de enganar as pessoas. E, infelizmente, estamos todos sujeitos a cair em suas armadilhas, cada vez mais elaboradas. É nesse contexto que se torna fundamental a ampla difusão de informações sobre novas modalidades de golpes, assim como a união de bancos, entidades representativas, consumidores e autoridades policiais para que, juntos, possamos identificar com mais eficiência os lobos em pele de cordeiro e combater suas ameaças.
(*) Adriano Volpini é diretor de Segurança Corporativa do Itaú Unibanco e do Comitê de Prevenção a Fraudes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).