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Lula compara Vale a 'cachorro com muito dono' após escolha de novo CEO: 'morre de fome ou de sede'

Mineradora anunciou na noite de segunda a escolha de Gustavo Pimenta como próximo presidente, pondo fim a uma disputa que teve corrida paralela com nomes ligados ao governo

27 ago 2024 - 12h32
(atualizado às 13h05)
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Lula criticou nesta terça modelo de privatização de empresas estatais
Lula criticou nesta terça modelo de privatização de empresas estatais
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a Vale nesta terça-feira, 27, e disse que, atualmente, a empresa não tem dono. Na avaliação de Lula, a companhia se parece a um "cachorro com muito dono: ou morre de fome ou morre de sede". Sua fala ocorre após a empresa ter anunciado a escolha de Gustavo Pimenta como próximo CEO a partir de 1º de janeiro de 2025.

"A Vale, que tinha uma diretoria, eu sabia quem era o presidente, a gente sabia quem era. Hoje, nessa discussão que a gente está, de fazer um acordo para receber o dinheiro de Mariana, o dinheiro que prometeram para o povo, você não tem dono. Uma tal de corporation que não tem dono, é um monte de gente com 2%, monte de gente com 3%", disse, em visita ao Centro de Operações Espaciais Principal (Cope-P) da Telebras.

"É que nem cachorro de muito dono: morre de fome ou morre de sede, porque todo mundo pensa que colocou água, todo mundo pensa que deu comida e ninguém colocou", acrescentou o petista. "É importante que essas empresas tenham nome, cara, identidade, porque assim o povo tem a quem cobrar."

A Vale anunciou na noite de segunda-feira, 26, em comunicado ao mercado, a escolha de Gustavo Pimenta como próximo presidente. O executivo foi eleito pelo conselho de administração, de forma unânime, "ao fim de rigoroso processo de seleção suportado por empresa de padrão internacional, em conformidade com o estatuto social da Vale, políticas corporativas, regulamento interno do colegiado e legislações aplicáveis", segundo a empresa.

O anúncio põe fim a uma disputa que produziu, além de uma lista oficial de candidatos, uma corrida paralela em que se enfrentaram nomes ligados ao governo Lula, de alas representadas pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, também avaliou o currículo de um potencial candidato.

O discurso do presidente nesta terça foi marcado por críticas ao modelo de privatização de empresas estatais. Ele citou que, por muitas vezes, tentaram privatizar a Petrobras "ao invés de tratar a Petrobras como empresa de orgulho do País, como uma das coisas mais extraordinárias", comentou.

"Quando há dificuldade de privatizá-la, eles começam a vender ativos separados e vão tentando desmontar o corpo: eu vendo um braço, eu vendo uma perna, vendo uma orelha, vendo os dentes. Ou seja, quando você volta, você percebe que a empresa está totalmente desmontada e não cumprindo mais aquele seu papel", emendou.

Nos governos Lula 1 e 2 e Dilma Rousseff, a Petrobras sofreu com o aparelhamento político, endividou-se para fazer investimentos do interesse do governo (como a construção de estaleiros e a compra de navios sonda) e teve prejuízo recorde entre 2014 e 2017 de R$ 71 bilhões, culminando numa dívida de cerca de R$ 350 bilhões. O nível de endividamento da companhia chegou a ser o segundo maior das Américas no período, atrás apenas da General Electric.

Para Lula, o que falta no Brasil são as autoridades e o governo terem "o mínimo de brio" para preservar o patrimônio nacional. "Ter o mínimo orgulho de ser brasileiro e pensar um pouco neste País, pensar um pouco naquilo que o Estado pode oferecer para o bem-estar da sociedade, para a soberania da sociedade", disse.

Na fala, o chefe do Executivo citou a privatização da Sabesp, que ocorreu em julho deste ano. A privatização da empresa, a maior oferta de ações da história do setor de saneamento, movimentou R$ 14,8 bilhões. Lula comentou que "nunca apareceu empresário para fazer saneamento básico nas palafitas de Salvador". "Eles (empresários) só querem fazer onde já tem uma estrutura feita pelo governo e está dando lucro", disse.

Na esteira, o presidente então defendeu que a Telebras seja uma "empresa brasileira a serviço do povo e da nossa soberania". Segundo ele, há um interesse "muito significativo" em recuperar a companhia. Em sua avaliação, a empresa não pode continuar sendo o que é e é preciso explorar seu potencial.

Cope-P

O Cope-P é um conjunto de edificações para operar e monitorar o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC). Trata-se de um satélite 100% brasileiro que cobre todo o território nacional. Segundo o Palácio do Planalto, além do uso estratégico militar em Banda X, também opera em Banda K, o que viabiliza internet banda larga para milhares de brasileiros nos programas de inclusão digital e acessibilidade do governo.

Nesta terça, participaram da visita com o presidente os ministros Juscelino Filho (Comunicações), Marcos Antonio Amaro (GSI), Esther Dweck (Gestão), Rui Costa (Casa Civil), Luiz Marinho (Trabalho) e Luciana Santos (Ciência e Tecnologia).

Na agenda, foi assinado um contrato entre Telebras e o Ministério do Trabalho e Emprego para o fornecimento de serviços de telecomunicações de longa distância. Segundo o governo federal, a iniciativa permitirá a conectividade segura entre as 409 agências do ministério, com monitoramento contra ataques cibernéticos 24 horas por dia.

Estadão
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