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Dólar tem maior recuo em quase 1 ano após Lula mudar de tom; Bolsa sobe

Segundo o presidente, cujas falas nos últimos dias levaram apreensão para o mercado e instabilidade para o câmbio, responsabilidade fiscal é 'compromisso'

3 jul 2024 - 15h33
(atualizado às 18h01)
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BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira, 3, que o governo tem compromisso com a responsabilidade fiscal. A declaração ocorre após o petista ter sido alertado por economistas de dentro e de fora do governo sobre o impacto de suas falas no dólar e o reflexo na inflação. A mudança de tom no discurso foi acompanhada por uma queda na cotação do dólar à vista, de 1,7% (quase 10 centavos), aos R$ 5,5684, a maior baixa porcentual desde agosto de 2023. Na Bolsa, o Ibovespa subiu para os 125.661,89 pontos (+0,7%).

"Teremos política econômica para continuar crescendo, política de renda e continuaremos com a responsabilidade fiscal. Aqui, neste governo, responsabilidade fiscal não são palavras, mas é um compromisso desse governo desde 2003?, afirmou no lançamento do Plano Safra familiar no Palácio do Planalto, de R$ 76 bilhões para a agricultura familiar.

A fala de Lula ocorre após o dólar ter batido em R$ 5,70, na terça-feira, 2, com agentes do mercado preocupados com os gastos do governo e em que a equipe econômica revisa os gastos do Executivo. A fala do petista foi feita após reunião pela manhã com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a escalada do dólar e as medidas que o governo poderia tomar para contê-la.

A declaração pavimentou uma expectativa positiva com o desfecho do encontro de logo mais entre Lula, Haddad e os ministros Rui Costa (Casa Civil), Simone Tebet (Planejamento) e Esther Dweck (Gestão). Medidas concretas sobre corte de gastos são esperadas.

O encontro da Junta Executiva Orçamentária (grupo formado por Haddad, Costa, Tebet e Dweck) nesta tarde corrobora a visão de que há uma coesão no governo na agenda dos gastos.

O sinal da divisa americana no exterior também ajudou. Dados mais fracos do que o previsto realimentam a expectativa de corte de juros nos Estados Unidos em setembro, cenário reforçado pela ata do Federal Reserve à tarde. DXY e taxas dos Treasuries cederam nesta sessão encurtada pelo feriado de 4 de Julho.

Falas de Lula e Haddad, durante o lançamento do Plano Safra no Palácio do Planalto, nesta quarta, 3, reduzem tensão do mercado após dias de instabilidade
Falas de Lula e Haddad, durante o lançamento do Plano Safra no Palácio do Planalto, nesta quarta, 3, reduzem tensão do mercado após dias de instabilidade
Foto: WILTON JUNIOR/Estadão / Estadão

"No governo, aplicamos o dinheiro necessário. No governo, gastamos com educação e saúde no que for necessário, mas não jogamos dinheiro fora", disse Lula.

Durante o evento da manhã, Lula afirmou que o governo irá cuidar para que os produtores de alimentos não tenham prejuízo no Brasil. Segundo ele, com a produção constante dos produtos, o governo conseguirá fazer uma "política econômica sem sobressaltos a ninguém".

O presidente afirmou que o governo tem que incentivar as pessoas a plantarem "o máximo possível". Mas, para isso, a gestão federal precisa garantir que os produtores não terão prejuízos por plantarem demais.

"Precisamos mudar de comportamento. Primeiro, temos que incentivar as pessoas a produzirem para nunca mais colocar na primeira página do jornal o chuchu como o responsável pela inflação, o tomate responsável pela inflação", comentou.

"Essas coisas aumentam em função de determinadas intempéries, quando tem seca, chove demais, então temos que incentivar as pessoas plantarem o máximo possível e garantir às pessoas que na hora da colheita eles não vão ter prejuízo porque plantaram demais", afirmou.

"O governo tem que garantir pagamento correto para que pessoas façam produtos chegar ao supermercado", cobrou. Para o petista, se houver compra de máquinas e se mantiver a produção de alimentos, "não vai ter inflação de alimentos, que se dá quando a gente produz menos que a demanda, que começa a ter escassez no supermercado".

"Então, por favor, vamos fazer acontecer, porque se vocês fizerem acontecer, ano que vem tem mais. E tendo mais, vai produzir mais, povo vai comer mais e vamos ter uma política econômica sem causar sobressaltos a ninguém", disse. "Vamos ter uma política econômica que vai fazer esse país crescer e, ao mesmo tempo, vamos continuar com a responsabilidade que sempre tivemos."

Dólar x BC

Logo depois da cerimônia de lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou que o patamar do real frente ao dólar vai se "acomodar" por todas as ações que o governo está "fazendo e entregando", evitando ainda fazer qualquer análise sobre a necessidade ou não de intervenção do Banco Central sobre o câmbio. "A diretoria tem autonomia para atuar quando entender conveniente, não existe outra orientação", respondeu o ministro ao ser questionado pela imprensa sobre se a autoridade monetária deveria ou não atuar frente a escalada do dólar.

"Minha análise é que o câmbio vai acomodar, por tudo o que estamos fazendo e entregando", disse ainda o ministro.

Questionado se a declaração do presidente Lula sobre responsabilidade fiscal, se seria o resultado de reuniões que o petista teve com economistas no fim de semana, o ministro respondeu que o compromisso fiscal de Lula é um "compromisso de vida do presidente". "É um compromisso de vida toda do presidente, ele está no décimo ano de governo", declarou Haddad.

Haddad ainda foi perguntado sobre as medidas de revisão de gastos pelo governo e o que seria apresentado a Lula, mas disse apenas que as propostas serão divulgadas somente após as conversas com o presidente.

Estadão
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