Lula x Prates: entenda crise sobre não pagamento de dividendos da Petrobras
Presidente defendeu que a empresa usasse o dinheiro para investimentos o que seria destinado à remuneração extra aos acionistas
A decisão do conselho de administração da Petrobras de não pagar dividendos extraordinários – que são pagos ao acionista quando a empresa tem aumento de caixa além do esperado – teria partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A informação é da colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo.
Lula da Silva participou de duas reuniões no Palácio do Planalto com a presença de ministros, diretores e conselheiros da companhia. Nos encontros, que não constaram na agenda oficial, o presidente defendeu que a empresa usasse para investimentos o dinheiro que seria destinado à remuneração extra aos acionistas.
Na reunião, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, disse que não pagar o extra poderia derrubar o valor de mercado da companhia e sustentou que não havia risco financeiro em fazer os pagamentos. Prates defendia a proposta de distribuir aos acionistas 50% dos recursos que sobraram livres no caixa após o pagamento dos dividendos regulares – R$ 43,9 bilhões.
Já o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que, de acordo com um estudo técnico, a distribuição afetaria a capacidade da empresa de se financiar para fazer frente ao plano de investimentos de US$ 102 bilhões. Silveira defendia segurar todo esse dinheiro em um fundo de reserva.
Sem chegar a uma conclusão, Lula resolveu convocar todos para uma nova reunião no dia seguinte, na qual foram convocados também o diretor financeiro da Petrobras, Sérgio Caetano Leite, o presidente do conselho, Pietro Mendes, e o conselheiro Bruno Moretti. Nesta reunião ainda participaram os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda).
Discussão diante de Lula
Leite e Mendes então tiveram uma dura discussão diante de Lula, mas o presidente desempatou a favor da proposta de não pagar o dividendo extra. De acordo com a colunista Bela Megale, também de O Globo, o presidente da Petrobras ficou tão irritado com a decisão de Lula que chegou a colocar o cargo à disposição.
Com a proposta de Prates tendo sido rejeitada, o colegiado aprovou apenas a remuneração ordinária, no montante de R$ 14,2 bilhões, referente ao quarto trimestre, somando dividendos totais do exercício de 2023 de R$ 72,4 bilhões.
Prates nega ordem de Lula
Nesta segunda-feira, 11, Prates falou sobre a decisão pela não distribuição total dos dividendos extraordinários aos acionistas. O CEO da estatal disse que a decisão não partiu de ordem do presidente Lula. Prates tem reunião marcada com o presidente nesta segunda, mas afirmou que não tem como foco a questão dos dividendos.
"O presidente não deu nenhuma ordem sobre a questão dos dividendos. Nós estamos discutindo isso com o acionista majoritário dentro dos espaços possíveis. Houve uma discussão a tempo do anúncio do balanço, havia necessidade de fechar o balanço. E foi definido que a gente adiaria a discussão", disse ao Estúdio i, na GloboNews.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, integrantes do primeiro escalão do governo não apontam, neste momento, a exoneração de Prates como certa, mas tampouco são capazes de afiançar sua permanência no cargo diante da crise na companhia.
A decisão de abdicar dos proventos extraordinários da empresa caiu como um balde de água fria no mercado, o que levou a uma forte queda nas ações na última semana. Segundo estudo de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, a Petrobras perdeu R$ 34,3 bilhões em valor de mercado em dois dias de negociação.
Depois da queda nas ações e da reação do mercado, interlocutores da Petrobras afirmam que o presidente Lula da Silva foi induzido a erro pelo Ministério de Minas e Energia, ao avalizar a retenção dos dividendos extraordinários da estatal.