Marcas, times de futebol e até igrejas devem emprestar nome a bancos digitais
O Caras Bank é o primeiro a aproveitar o boom de instituições do setor; doze bancos estão em formatação e quatro devem ser lançados ainda este ano
BRASÍLIA - Com o boom dos bancos digitais, começa a chegar ao mercado o aluguel de marcas famosas para essas instituições. A empresa de participações BTX Digital lançou o Caras Bank, com o objetivo de se tornar o "banco digital dos famosos". O negócio da empresa é o chamado "white label bank" (com a marca das empresas). O banco conta com capital próprio e paga aos parceiros royalties pela exploração da marca, que variam de 4% a 7%, dependendo do acordo.
Redes de varejo, times de futebol e até mesmo igrejas estão na mira da empresa. O sócio do BTX Rafael Pimenta conta que já 12 bancos em formatação para serem lançados em breve, quatro deles ainda neste ano. Por força de contrato, ele não pode revelar as marcas que darão nome a esses bancos, mas adianta que entre os parceiros estão um time de futebol, uma igreja e uma associação educacional.
"A entrada no mercado tem sido muito boa e superou nossas expectativas. Temos mais de 120 mil pessoas na lista de espera do Caras Bank e 100 pessoas selecionadas estão usando a versão de testes da plataforma. O plano é oferecer até 500 serviços diferentes, com spread competitivo e boa remuneração", diz o executivo. O Caras Bank tem carteira digital, cartão de débito e crédito e linhas de financiamento.
"Trabalhamos com o chamado 'love market', com engajamento direto dos apaixonados por essas marcas. Por isso procuramos grande nomes também em áreas com estética, alimentação, estilo de vida", completa Pimenta.
O sócio da BTX esclarece que cada banco é inteiramente "blindado" em relação às operações das outras instituições criadas pela empresa. Ou seja, o cliente de uma dessas marcas não ficará exposto ao sucesso de outros lançamentos. "Cada banco é exclusive, tem capital próprio, um contrato independente de custódia por um banco de primeira linha. Além disso, queremos lançar todos os bancos já como sociedades anônimas, deixando clara a possibilidade de abertura de capital quando for interessante", acrescenta.
Em expansão
Os bancos digitais, sem agências físicas, já superaram a marca de 20 milhões de clientes. Depois de aparecerem no mercado brasileiro nos últimos cinco anos, esses bancos não escondem a ambição de concorrer de igual para igual com as grandes instituições que dominam o setor bancário nas últimas décadas.
O grupo é liderado pelo Nubank, pioneiro há seis anos na oferta rápida e descomplicada de cartões de crédito e que acaba de anunciar a chegada a 15 milhões de clientes - sendo 12 milhões correntistas. Outros bancos já bem posicionados nesse mercado são o Banco Inter - que ultrapassou a marca de 3,3 milhões de correntistas - e o Original, que já mira 2,5 milhões de clientes ao fim deste ano.
"Nosso objetivo é concorrer com os grandes bancos tradicionais nos próximos anos. Há muito espaço no mercado atual e queremos redefinir a classe de produtos que o setor oferece", afirma o vice-presidente de Consumo do Nubank, Vitor Olivier.
O executivo revela que o banco está acompanhando o processo de simplificação do mercado de câmbio, proposto pelo Banco Central, para também apresentar soluções inovadoras no mercado de dólares. "Buscamos sempre entregar produtos para simplificar a vida do usuário, por meio de tecnologias modernas. Se for algo que os clientes demandam, vamos agir", reforça Olivier.
O diretor de Conta Digital e Meios de Pagamento do Banco Inter, Ray Chalub, projeta um crescimento exponencial do mercado nos próximos anos. "Nos próximos dois ou três anos pretendemos bater de frente com os grandes bancos. Queremos nos posicionar com dezenas de milhões de clientes", projeta.
Na esteira do sucesso desses bancos, novas plataformas continuam chegando ao mercado, como a Neon e o Banco C6. "O fenômeno dos bancos digitais não é brasileiro apenas, ele ocorre em vários países do mundo, onde o setor financeiro também bastante concentrado. Os bancos brasileiros estiveram durante muito tempo protegidos por um ambiente de taxas de juros elevadas e um arcabouço protecionista que levou a um cenário de pouca competição", avalia o diretor financeiro da Neon, Jean Sigrist.
Ele conta que a Neon chegou a 1,6 milhão de clientes ativos em setembro, sendo que 450 mil deles se registraram no mês passado. O C6 entrou em operação há apenas dois meses e meio, já com 200 mil clientes que testaram a plataforma desde maio deste ano. O executivo responsável pela área de produtos e pessoa física do C6 Bank, Maxnaun Gutierrez, diz que o banco mira não apenas os chamados "millennials" - geração que não conheceu o mundo antes da internet em tempo integral -, mas também empresas e famílias de alta renda.
"Queremos ser um banco comercial completo, com uma relação transparente de custo-benefício. Como não carregamos um sistema de pesado e antigo, conseguimos melhores tecnologias para o consumidor", afirma.
Bancões
Com 1,5 milhão de clientes ativos hoje, o banco digital Next, do Bradesco, começará a caminhar de forma independente a partir do início de 2020. A expectativa para o próximo ano é ter entre 4 milhões e 5 milhões de clientes ativos - aqueles que, de fato, utilizam os serviços da plataforma e, por isso, geram receita.
"Os vencedores serão os bancos que acharem os gatilhos de engajamento de clientes", defendeu o diretor do Next, Jeferson Honorato. "Este ano, ao mesmo tempo em que fomos aumentando a base, nós preparamos a plataforma para saltos maiores. Lançamos quatro fundos de investimentos, CDBs e linhas de crédito, estamos com um piloto com cinco seguros e transferências por DOC e TED ilimitadas e gratuitas".
Segundo Honorato, a desvinculação do Bradesco ocorrerá para permitir "simetria regulatória" com outros bancos digitais, o que não é possível estando dentro da instituição financeira. "Isso vai ajudar a acelerar substancialmente o crescimento do Next", completou.