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Mercado de venda de dívidas vencidas deve sofrer paralisia

Aposta é que mesmo instituições acostumadas à volatilidade devem esperar para avaliar melhor 'estrago' da crise

13 jun 2020 - 05h12
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A escalada dos calotes por conta da crise gerada pela pandemia deve fazer com que os grandes bancos, participantes já conhecidos do mercado de NPL - crédito em situação de inadimplência, na sigla em inglês - desovem volumes ainda maiores. O impacto imediato, porém, foi de paralisação. O Santander Brasil, por exemplo, recolheu uma carteira de empréstimos vencidos da ordem de R$ 2,5 bilhões que já tinha colocado à venda, de acordo com três fontes, na condição de anonimato.

Foram mantidas apenas negociações que já estavam em andamento, como no caso de operações feitas pelo Bradesco e Itaú Unibanco no primeiro trimestre. Também há espaço para vendas de ativos que estão descolados do assunto covid-19. Neste momento, o gaúcho Agibank e ainda o Digio, de Bradesco e Banco do Brasil, negociam operações com valor somado de cerca de R$ 700 milhões.

Os próximos meses, contudo, devem ser de poucos negócios para o mercado distressed, que investe em ativos problemáticos, de acordo com executivos ouvidos pelo Estadão/Broadcast. A retomada do mercado de venda de carteiras deve ocorrer, contudo, mais para o fim do ano, quando as instituições financeiras terão mais clareza dos estragos da crise. Agora, os créditos começam a ficar inadimplentes para depois de alguns meses serem empacotados e oferecidos ao mercado.

"Os bancos terão de abrir espaço na gestão de créditos vencidos para operações mais novas, com maior chance de recuperação", avalia um especialista neste mercado, que prefere não ter seu nome revelado.

Segundo essa fonte, outros reflexos da crise como a diminuição dos índices de capital e dos níveis de rentabilidade também devem estimular os bancos a venderem um maior volume de créditos vencidos e não pagos.

É aí que os investidores que compram essas carteiras entram. "A atuação dos investidores distressed, focados em ativos com dificuldade, vai ser complementar à das plataformas de cobrança e recuperação dos bancos", diz o sócio da plataforma de investimentos alternativos Jive, Guilherme Ferreira.

Por ora, o que pode aparecer no mercado - a despeito da paralisação por conta da pandemia - são transações que envolvem os chamados single names, ou seja, créditos de uma única empresa. Neste mercado, com foco exclusivo em créditos corporativos, são esperados instituições tradicionais como Itaú, Bradesco e Banco do Brasil. "Há muita procura. Estamos abertos a negociação, mas depende do preço", diz o diretor de um grande banco.

O fator preço foi o que afastou os bancos das mesas de negociações. Com a deterioração do cenário econômico, a recuperação do crédito ficou mais difícil e isso conta no prêmio que os investidores estão dispostos a pagar pelo ativo. Ferreira, da Jive, diz que a gestora, especializada em NPL, suspendeu as ofertas não vinculantes que tinha feito por conta da pandemia para rever suas premissas.

Do lado da venda de créditos pessoa física, transações que já estavam encaminhadas antes da pandemia devem ser concluídas. É o caso do Digio e do Agibank, que haviam acessado o mercado no ano passado. Em ambos os casos, os empréstimos ofertados não têm relação com a covid-19.

De acordo com o presidente do Digio, Carlos Neves, o banco tem vendido carteiras por conta da sua mudança de estratégia, com foco no digital. "Não tem nada a ver com a covid-19. São carteiras que foram originadas no mundo físico, mas a gente tem intenção de estruturar nossa operação 100% no digital", justifica, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Estadão
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