Meta de inflação inferior a 4,5% é irreal, diz Mantega
"No futuro poderemos almejar meta de inflação mais baixa, poderá ser entre 3% e 3,5%", disse o ministro
A economia brasileira não reúne condições necessárias para que seja adotada no País uma meta de inflação inferior aos 4,5% em vigor, disse na noite terça-feira o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliando ainda que os preços altos irão ceder nos próximos meses.
"No futuro poderemos almejar meta de inflação mais baixa, poderá ser entre 3% e 3,5%. Mas neste momento não reunimos condições para isso", disse Guido Mantega em entrevista ao programa "Espaço Público" transmitido pela TV Brasil.
A meta de inflação do governo é de 4,5% com tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo. O pré-candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, disse que, se eleito, reduziria a meta de inflação a 4% a partir de 2016 e a fixaria a 3% para 2019.
Mesmo diante da alta dos juros iniciada pelo Banco Central em abril do ano passado, a inflação segue elevada e economistas de instituições financeiras preveem que a alta do índice de preços oficial, o IPCA, encerrará este ano com alta de 6,5%, segundo a última pesquisa Focus do BC.
Os preços altos constituem um dos principais problemas do governo, com a crescente insatisfação do eleitorado com a perda de poder aquisitivo sendo um dos fatores que explicam a piora da avaliação do governo e a redução da popularidade da presidente Dilma Rousseff neste ano eleitoral.
Durante a entrevista, Mantega fez um prognóstico otimista sobre a trajetória dos preços.
"Teremos em abril inflação menor e inflação em maio menor ainda e em junho estará em patamar mais tranquilo."
Neste cenário de preços altos e resistentes ao aperto monetário - entre abril de 2013 e abril deste ano o BC retirou a taxa Selic da mínima histórica de 7,25% ao ano elevando-a gradualmente para os 11% atuais - Mantega foi questionado por jornalistas sobre se seria a favor da autonomia do banco.
"Não acho que tem que mudar nada. Está bom desse jeito", respondeu o ministro. Atualmente o BC tem autonomia operacional, mas não institucional, sendo que seu presidente e diretores não têm um mandato fixo.
Também questionado sobre o controle dos gastos, ele reconheceu que o governo cometeu exageros no fechamento das contas públicas para cumprir a meta de superávit primário de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano de 2012.
"No fechamento das contas de 2012 tivemos que fazer uma grande esforço para fazer meta fiscal. A economia cresceu pouco, a arrecadação foi fraca e tivemos que pegar Fundo Soberano, que era poupança, e forçamos um pouco a barra nesse sentido", comentou.
Na defesa da administração da presidente Dilma, o titular do Ministério da Fazenda defendeu o governo teria conseguido "compatibilizar o superávit primário com políticas econômicas e sociais" e que os gastos públicos não são fonte de pressão dos preços.
Crédito restrito
O ministro também voltou a mostrar preocupação com a pouca oferta de crédito numa conjuntura marcada por baixo crescimento econômico, destacando que os bancos privados são responsáveis por 70% da oferta de crédito para o consumo.
Mas disse que não pretende "fazer movimentos com bancos públicos" para ampliar a oferta de crédito na economia.
Nos dados mais recentes do BC, o mercado de crédito brasileiro encerrou o primeiro trimestre com aumento de 1,6% no saldo de estoque em comparação a igual período de 2013, em meio ao aumento dos encargos financeiros cobrados nos empréstimos e financiamentos em decorrência do aperto dos juros básicos.