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Metas "radicais" derrubaram presidente da Stellantis, dizem fontes

4 dez 2024 - 10h37
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Objetivos considerados irrealistas ou destrutivos por alguns membros do conselho de administração desencadearam a queda repentina do presidente-executivo da Stellantis, Carlos Tavares, apenas um mês depois de ele ter recebido total apoio do colegiado da companhia, disseram à Reuters duas pessoas com conhecimento do assunto.

Insatisfeito com suas metas agressivas de vendas e cortes de custos e com desentendimentos com fornecedores, concessionários e sindicatos do grupo automotivo, o conselho de administração quis de forma unânime a saída de Tavares, disseram as fontes.

"Algo estourou em novembro", disse uma das fontes.

Tavares renunciou no domingo, gerando queda nas ações do quarto maior grupo de veículos do mundo, dono das marcas Fiat, Jeep, Ram e Peugeot. O executivo não comentou o assunto e a Stellantis não se manifestou.

No domingo, o diretor independente sênior Henri de Castries disse em um comunicado que, nas últimas semanas, surgiram opiniões diferentes entre o presidente-executivo, os principais acionistas e o conselho.

Tavares, que no início deste ano recebeu 36,5 milhões de euros em pagamentos relacionados aos resultados de 2023 da Stellantis, irritou alguns membros do conselho de administração em outubro, no salão do automóvel de Paris, ao culpar publicamente a administração da montadora nos EUA pela queda das vendas e pelo aumento dos estoques naquele mercado, disse uma das fontes. Mas a diretoria ainda continuava a apoiá-lo.

Em novembro, entretanto, o estilo impetuoso de Tavares levou a um relacionamento "totalmente insustentável" com a diretoria, cujos membros representam os principais acionistas, Exor, a família Peugeot e o governo francês, disse a outra fonte.

Quando os membros do conselho começaram a fazer perguntas mais específicas sobre as estratégias do executivo, disse a fonte, "a reação de Tavares foi: 'Vocês não devem interferir no meu trabalho - isso não é da conta de vocês."

Os membros do conselho, irritados, continuaram a pressionar Tavares, disse a fonte. Eles estavam incomodados com o que consideravam ser o foco implacável, porém restrito, do presidente-executivo na redução de custos, que havia causado interrupções no fornecimento e irritado revendedores dos veículos do grupo. Esses problemas haviam sido ignorados nos anos anteriores, quando a Stellantis estava atingindo margens de lucro de dois dígitos.

Agora, essas e outras questões estavam causando angústia em toda a empresa, à medida que Tavares se envolvia em discussões com revendedores, sindicatos, fornecedores e governos - e agora com membros da diretoria. "Não se pode fazer inimigos com todo mundo", disse a fonte.

LISTA DE TAREFAS ASSUSTADORA

Os confrontos levaram o conselho de administração da Stellantis a destituir Tavares sem ninguém previsto para substituí-lo. Foi uma reviravolta impressionante em relação ao plano de uma sucessão tranquila quando ele se aposentasse em 2026, conforme programado.

O presidente do conselho da Stellantis, John Elkann, havia declarado em 10 de outubro que o conselho era "unânime em seu apoio a Carlos Tavares", mesmo quando a empresa dispensou seu diretor financeiro e seu chefe norte-americano no mesmo dia.

A Stellantis está agora à procura de um novo presidente-executivo com uma lista de tarefas assustadora: estabilizar uma empresa global com 14 marcas, estoques inchados nos EUA e queda na participação de mercado nos EUA e na Europa - tudo isso enquanto enfrenta rivais chineses de veículos elétricos em ascensão, padrões de emissões de poluentes mais restritivos na Europa e políticas comerciais e de veículos elétricos disruptivas defendidas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump.

A Stellantis emitiu um importante alerta sobre resultados de terceiro trimestre, que prejudicou a reputação da Tavares como líder do setor na maximização das margens de lucro e dos retornos aos investidores.

Concessionários do grupo, especialistas do setor e clientes afirmam que a empresa passou a praticar preços muito altos nos EUA e na Europa, prejudicando as vendas.

As ações da Stellantis acumulam queda de 43% até o momento este ano.

Segundo fontes, Tavares é conhecido por seu estilo de liderança de cima para baixo, não deixando dúvidas sobre quem está no comando. Mas em novembro, os membros do conselho de administração se sentiram compelidos a confrontar o executivo, disse uma das fontes. "Algo precisava ser feito", disse a fonte.

BRIGAS

Uma fonte disse que o primeiro sinal de tensão entre Tavares e a diretoria surgiu nas últimas semanas sobre como o grupo pretende lidar com as regras da UE que preveem multas pesadas a montadoras que não tenham uma participação de vendas de veículos elétricos de pelo menos 21% sobre o total comercializado em 2025. O percentual representa um grande salto em relação à participação atual de 12% de carros elétricos no total vendido pelo grupo até agora neste ano.

Tavares se recusou a apoiar um lobby do setor automotivo que está em andamento para renegociar as regras europeias, dizendo, em vez disso, que a Stellantis simplesmente trabalhará para evitar as multas.

A diretoria da Stellantis temia que o grupo tivesse que "diminuir enormemente" as vendas de carros com motor a combustão para atingir a meta regulatória, disse uma das fontes. Os funcionários do grupo ficaram "totalmente perdidos" com a "irracionalidade" da visão de que a Stellantis poderia alcançar um aumento tão grande na participação de veículos elétricos sem  sofrer multas, disse a fonte, o que levou o conselho de administração da empresa a questionar Tavares. Ambas as fontes usaram o termo "radical" para descrever as metas de vendas de Tavares.

O executivo também delineou outros planos controversos nas reuniões da diretoria em novembro, dizendo que queria cortar drasticamente os custos na Europa que já haviam sido "cortados até o osso", disse uma fonte. Tavares, segundo a fonte, também propôs uma política de gestão de caixa focada em 2024, em detrimento do fluxo de caixa de 2025. Isso poderia ter exposto o Stellantis a ser forçada a fazer um novo aletar de resultados aos investidores no futuro, disse a segunda fonte.

Os membros do conselho também se irritaram com as negociações frequentemente controversas de Tavares com os principais participantes do que uma fonte descreveu como o "ecossistema" em torno da Stellantis, incluindo tensões com "fornecedores, revendedores, consumidores", governos de Itália e França e sindicatos nos EUA.

Tavares, segundo a fonte, às vezes considerava os fornecedores dispensáveis em sua iniciativa de redução de custos, enquanto os membros da diretoria temiam que a substituição de fabricantes de peças confiáveis não fosse rápida e causasse interrupções.

"Você não pode simplesmente dizer 'você está fora'" para fornecedores de longa data, disse a fonte. "Isso coloca em risco sua própria capacidade de produzir carros."

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