80% das corporações planejam investir em startups no 1º tri
Pesquisa da ACE Cortex avalia como as startups têm causado impacto na inovação de corporações do país
Grandes corporações estão fortalecendo suas estratégias de inovação aberta e relacionamento com startups. Cada vez mais, as iniciativas vão além das parcerias e acordos comerciais, incluindo também investimentos diretos nas empresas e operações de fusão ou aquisição. No Brasil, 6 em cada 10 executivos afirmam que suas empresas já trabalham com parceiros para inovações e, destes, quase 80% possuem algum tipo de interação com startups.
Os dados são da nova pesquisa da consultoria de inovação ACE Cortex, que avalia o panorama atual sobre como as startups impactam na inovação de corporações no Brasil. Os resultados mostram que, na maioria dos casos, as startups aparecem como fornecedoras ou impulsionadoras em projetos de inovação.
A pesquisa ouviu mais de 120 profissionais de média e alta liderança, representada pelos cargos de C-Level e Diretor, Gerentes e Coordenadores de empresas brasileiras. A maioria das organizações possui faturamento anual entre R$ 300 milhões e R$ 1 bilhão (26,56%); de R$ 1 bilhão a R$ 9 bilhões (24,2%); e acima de R$ 10 bilhões (16,4%). Os respondentes atuam em mais de 20 segmentos, incluindo indústrias de informação e tecnologia, saúde, finanças e bens de consumo. Mais de 67% deles estão sediados na região Sudeste.
"A pesquisa é conduzida anualmente para avaliarmos como está o mercado de inovação no Brasil, saber se as soluções atuais endereçam de fato as dores e como estão sendo vistas pelo mercado", afirma Amanda Coutinho, Head de Corporate Venture Capital da ACE Cortex, em entrevista ao Startups. "Os resultados mostram uma tendência crescente de empresas se relacionando com startups, algo que já esperávamos pois temos visto um mercado se fortalecendo bastante nos últimos anos, principalmente em relação ao corporate venture capital (CVC)."
A vez do CVC
"Globalmente, há uma queda de só 2% no número de deals de CVC em comparação com uma queda de 23% do venture capital tradicional. O valor transacionado em CVC caiu, com as rodadas ficando mais restritas ao seed, mas o volume de investimento se manteve. E a expectativa é que haja um aumento do percentual de deals transacionados por corporate venture capital", explica.
Em um período de seca de investimentos no VC e maior aversão ao risco, os fundos CVC lançados recentemente mandam uma mensagem clara ao mercado: ainda tem gente interessada em investir e (muito) dinheiro disponível. B3, Renner, Deloitte, Valid, Ânima Educação e Suzano são apenas algumas das companhias que anunciaram iniciativas de corporate venture capital no Brasil no último ano.
"O CVC é uma alternativa que tende a se manter independente dos ciclos, pois leva em conta uma visão estratégica em que o foco não é o momento em que fará o aporte, mas sim de que forma a startup pode ajudar a empresa a crescer e alavancar suas estratégias", analisa Amanda.
De acordo com o levantamento, os principais motivos das interações entre corporações e startups são trazer soluções rápidas para os negócios junto aos clientes (62,6%) e novas linhas de receitas (43,9%). O resultado mostra um avanço relevante em relação a 2021, quando essas questões apareceram para 48,6% e 28% dos respondentes, respectivamente. Trazer novas linhas de receita (44,7%), aumentar o portfólio (42,1%), ganhar market share (5,3%) e adquirir talentos (2,6) também são citados como razões para as parcerias.
Do total, 54,9% dos respondentes disseram ter um departamento interno responsável por encontrar startups para firmar parcerias, e cerca de 24% dizem recorrer a consultorias. Sobre como essas empresas trabalham com as startups, 51,2% utilizam o orçamento da área de inovação; 48,8% da frente de investimento da empresa; e 28,5% operam com o próprio fundo.
E o M&A?
A pesquisa também avaliou as transações de M&As, que têm crescido e se tornado uma das alternativas encontradas pelas empresas para incluir startups em suas estratégias de negócio. Mais da metade (57,89%) das empresas entrevistadas fizeram pelo menos 1 aquisição em 2022; 31,58% realizaram de 2 a 5 transações; e 2,63% fizeram mais de 10 aquisições.
No entanto, apenas 1 em cada 5 corporações (22,65%) realizaram aquisições de startups por acordos de M&As. Segundo a ACE Cortex, o resultado indica que há interesse pelo M&A, mas que o mercado corporativo ainda está em fase de amadurecimento no que diz respeito ao investimento.
"Quando as grandes empresas buscam M&A, elas normalmente buscam trabalhar em um horizonte de inovação mais próximo do seu core business, e olham para essas transações com o objetivo de crescer no mercado em que atuam. Muitas vezes as startups trabalham em mercados adjacentes e, por isso, esse não é o método de investimento mais utilizado", analisa Amanda.
"O mercado de M&A é mais voltado a startups maiores investindo em outras menores. Os adquirentes de startups são outras startups e já estão acostumadas ao ciclo de crescimento de uma startup, incluindo o nível de exigência e robustez de critérios utilizados para avaliar uma possível aquisição. Quando uma corporação olha o M&A, faz uma diligência muito profunda. Alguns critérios analisados são adequação a práticas trabalhistas - o que, no caso das startups, tende a predominar condições menos formais", pontua.
Por esses motivos, a executiva revela que não há uma projeção de grandes mudanças no número de corporações realizando M&As. "No caso de startups que estão amadurecendo e se tornando competidoras das grandes empresas - como o Nubank - é bastante provável que haja M&As envolvendo grandes corporações e scale-ups. Mas entre grandes corporações e startups, costumam fazer investimentos minoritários", explica Amanda.
Entre as empresas que pensam em fazer um M&A, metade tem interesse em startups que faturam entre R$ 360 mil e R$ 4,8 milhões por ano. Os três tipos de tese que despertam maior interesse dos respondentes para compra são B2C (39,47%), Gestão (34,21%) e Vendas (34,21%), sendo que a maior parte dos deals tem valor médio de até R$ 10 milhões (47,37%).
Analisando os resultados, o número de empresas que fizeram programas com startups o consideram satisfatório. Para 57% dos executivos, os programas desenvolvidos com as startups tiveram resultados excelentes ou satisfatórios, atingindo os objetivos estratégicos previstos. Apenas 11% afirmaram que não houve sinergia no projeto desenvolvido em conjunto.
"Cerca de 80% dos executivos afirmaram que pretendem fazer ao menos um investimento em startups ainda no primeiro semestre deste ano. Esse indicativo mostra como o corporate venture capital e o M&A tem se consolidado no mercado nacional e se tornará, em breve, o carro chefe da inovação nas grandes empresas", conclui Luís Gustavo Lima, sócio e CEO da ACE Cortex, em nota.