Artesã supera perda de visão e vira empresária em Roraima
Cega de um olho, Sandra Maria de Oliveira Souza montou negócio para vender peças de papel em Boa Vista
Quando compramos algo, raramente paramos para pensar na história daquele produto, de que maneira ele foi fabricado. Como imaginar, por exemplo, que ao adquirir um porta-joias, você pode estar levando para casa algo feito por ex-detentos que aprenderam seu ofício com uma mulher que perdeu parte da visão? Pois é justamente isso o que pode acontecer com quem visita a cidade de Boa Vista, em Roraima, e resolve levar uma lembrança produzida pela empresa Artes Sandra, da artesã Sandra Maria de Oliveira Souza.
A trajetória de empreendedorismo de Sandra é uma verdadeira história de superação. Sua relação com o artesanato em papel começou quando ela ainda trabalhava como merendeira em uma escola de Boa Vista. Para celebrar o dia de sua categoria, ela fez um cartaz que chamou a atenção da diretora da instituição. Com a iniciativa, ela foi convidada a trabalhar na biblioteca, e ao mesmo tempo passou a se aperfeiçoar no artesanato de maneira autodidata.
No entanto, o contato constante com livros antigos fez com que seus olhos fossem infectados por um fungo. Com o tempo, ela acabou perdendo totalmente a visão do olho esquerdo, e parcialmente a do direito. Nada disso, no entanto, fez com que ela abandonasse sua arte com papéis.
“Nesta época, minha filha vendia cosméticos e ficou com dificuldades para pagar a fatura do mês. Tudo o que ela tinha eram algumas caixas de sabonete e decidi transformá-las em porta-joias como forma de ajudar.”, explica Sandra.
A iniciativa deu certo e, apesar de seus problemas de visão, ela montou a empresa Artes Sandra para produzir novos itens usando papel, como canudinhos, balaios, origamis, bolsas e até mesmo cestos com rodinhas. O passo seguinte foi dado quando ela visitou um amigo em uma penitenciária. No local, Sandra ficou sabendo que os detentos produziam algumas coisas em madeira, e decidiu desenvolver um trabalho social no local.
“Demorou um bom tempo para que eu conseguisse conquistar a confiança deles, mas aos poucos eles foram se interessando. Hoje, alguns artesãos que saíram da cadeia trabalham comigo”, revela.
Atualmente, o grande desafio da empreendedora é conseguir espaços para vender suas produções. Nas épocas de maior apelo, como o Natal e o Dia das Mães, ela leva seu artesanato para as praças da cidade, onde as peças são bastante requisitadas pelos turistas. “Recentemente eu comprei um carro para minha filha me ajudar a fazer vendas pelo interior e consegui uma pessoa para revender os itens em Manaus”, conta Sandra.