As rupturas doloridas, mas construtivas, da nova indústria
O cenário industrial passa por uma grande transformação, exigindo uma nova forma de pensar, flexibilidade e foco na sustentabilidade. A neoindústria valoriza a capacitação aliada à inovação tecnológica e promove a união construtiva entre pessoas e máquinas.
Novos comportamentos, tecnologias disruptivas, velocidade acelerada de informações e ações, novas gerações entrantes no mercado de trabalho em convergência – ou não! – com os mais experientes, mudanças constantes e globalizadas, além da grande preocupação mundial com a sustentabilidade – do planeta e dos negócios. O cenário industrial passa por um momento de transformação, que exige, do mercado e dos profissionais, uma nova forma de pensar, bem mais fora da caixa, com flexibilidade e disponibilidade.
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A economia continua sendo alçada pela industrialização, mas agora em uma sociedade 5.0. Estamos falando de uma ruptura de conceitos que, provavelmente, causará dor no início, mas que a longo prazo, será responsável por mudanças significativas, como já vem acontecendo na chamada neoindústria: a indústria digital, humanizada, inovadora e limpa.
Essa quebra de paradigmas deve, a longo prazo, provocar melhorias coletivas, sustentáveis e perenes. Até lá, é preciso encontrar soluções que, de um lado, facilite e integre a digitalização e inteligência artificial nos processos industriais e, de outro, desenvolva pessoas para operá-los. Hoje, o que vemos, principalmente no Brasil, é uma geração que desvaloriza os cargos técnicos e operacionais. É certo que, com a tecnologia, a quantidade de pessoas nas operações industriais diminuiu consideravelmente, no entanto, ainda precisamos de profissionais especializados que saibam operar os novos equipamentos inteligentes.
Tanto que a pesquisa realizada neste primeiro semestre pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que os principais objetivos dos investimentos planejados pela indústria para esse ano, que aumentaram para 73% em 2024 perante os 68% de 2023, estão concentrados na ampliação ou melhoria da capacidade técnica e do processo produtivo, ambos foram a escolha de 42% das 381 grandes empresas consultadas. Ou seja, a máquina não se sobrepõe ao humano, ao contrário, a sua eficácia depende da evolução da inteligência humana!
Essa é uma missão a ser abraçada pela gestão de pessoas, o antigo RH, que, com o home office e trabalho remoto, se depara com dificuldades para encontrar profissionais e, mais tarde, para mantê-los. Mais do que um suporte de folha de pagamento ou benefícios para o colaborador, a gestão de pessoas precisa ser uma área estratégica de gerenciamento de conhecimento. É evidente que se faz necessário priorizar investimentos em desenvolvimento técnico, mas não apenas com uma visão voltada à evolução de carreira, mas também para impulsionar a transformação digital e o bem-estar social e do ambiente de trabalho. O RH é o alicerce entre pessoas e máquinas, promovendo uma união construtiva entre a tecnologia, pessoas e indústria.
É aí que o papel da indústria converge com o conceito ampliado de sustentabilidade, não aquela que considera a responsabilidade ambiental, mas também social e de governança. A capacitação aliada à inovação tecnológica contribui, e muito, para a eficiência energética, alvo das ações estratégicas das empresas globalizadas. Em 2023, 78% das companhias brasileiras investiram em avanços tecnológicos, 58% no desenvolvimento humano e 34% associaram esses investimentos à preocupação com o impacto ambiental.
Os números revelam o movimento rumo à ruptura industrial e, com ela a evolução do seu impacto global. Embora o setor esteja habituado a realizar composições em cenários transformadores, atualmente, é difícil considerar todas as vertentes: falta energia, aumenta a rotatividade de pessoas, estamos sujeitos a invasão de sistemas computacionais. A velocidade em que as inovações são desenvolvidas e a comunicação global que permite que uma ideia seja concebida em Paris, desenvolvida em Pequim e entregue para testes em Los Angeles, torna o mercado muito mais transparente e veloz, não tendo espaço para os chamados “segredos industriais” que perderam o seu valor e se tornaram quase um folclore. Por isso, a necessidade de pensar diferente, agir diferente e esperar resultados diferentes.
A neoindústria não só deve se preocupar em produzir produtos, mas deve passar a oferecer suporte para a sua utilização no cliente. Hoje a flexibilidade e disponibilidade para auxiliar os clientes a melhorarem os seus processos por meio do desenvolvimento de produtos, é um fator preponderante na indústria. Isso exige rapidez e eficiência para desenvolver protótipos avaliáveis em alguns dias ou, até horas. E isso passa pela interação do pessoal interno com o cliente e o mercado. É preciso conhecer para desenvolver e evoluir.
Por fim, aceitar essa ruptura e pensar diferente não depende de idade ou geração, mas sim de aceitar o risco de acertar ou errar. Metade das ideias darão certo, outra metade nem tanto, o difícil é saber em qual delas apostar.
(*) Andreas Göhringer é diretor da multinacional alemã Gemü Brasil.