Assassinato do meu pai mudou minha vida, diz dono do Habib’s
Morte do pai obrigou Alberto Saraiva a assumir padaria da família – laboratório para o que seria a rede de comida árabe
Quase 9 bilhões de esfirras já vendidas, 200 milhões de visitantes anuais, 22 mil funcionários e 430 unidades em 20 estados e no Distrito Federal. Os números do Habib’s impressionam, mas o mais surpreendente é que a origem desse império está numa tragédia familiar que levou o hoje empresário Alberto Saraiva a desistir do sonho de ser médico e o jogou numa biboca na zona leste de São Paulo – que acabou servindo de laboratório para a criação de uma das redes de franquia que mais faturam no país.
Vale a pena montar um e-commerce?
Nascido em Portugal, Saraiva veio para o Brasil com apenas seis meses. Sua família foi para São Paulo e, em seguida, para Santo Antônio da Platina, no interior do Paraná. O garoto permaneceu no município até os 16 anos. Depois, voltou para a capital paulista atrás de um plano antigo: cursar Medicina. Os parentes vieram junto. Ele fracassou nas duas primeiras vezes em que prestou vestibular. Na terceira, entrou numa das mais prestigiadas faculdades de Medicina do país, a Santa Casa.
Logo no primeiro ano da graduação, o desejo que o embalava desde a infância foi por água abaixo. “Meu pai era dono de uma padaria, e foi assassinado durante um assalto. Isso mudou minha vida, pois eu era o filho mais velho e tive de assumir os negócios para sustentar a família”, lembra o empresário.
Era um estabelecimento mal equipado, mal apresentado e com funcionários mal preparados. Saraiva quebrou a cabeça tentando verificar como conseguiria reverter a situação. “Eu tive a sorte, e não o azar, de cair na pior padaria que poderia existir no mundo. Como não tinha para quem vender, eu fazia o pãozinho quentinho e colocava o preço 30% mais barato do que a tabela.”
A estratégia deu resultado. O pão não dava lucro, mas quem o comprava levava também leite, tomava um suco, comia um sanduíche no balcão. Aos poucos, os clientes e o faturamento foram se multiplicando.
“O desafio me fez buscar uma saída por necessidade. E foi essa a filosofia que eu carreguei durante toda a minha existência: servir as pessoas cobrando preços acessíveis e tentando dar os melhores produtos”, resume.
Negócio das arábias
Após salvar o negócio da família, o jovem começou a pensar em outras iniciativas na área de alimentação. O primeiro passo foi criar uma lanchonete no bairro do Cambuci – quando conheceu Paulo Abud, um cozinheiro idoso que o influenciou a apostar em comidas árabes. “Era um senhor de 70 anos que apareceu quase implorando por emprego. Perguntei o que ele sabia fazer, e ele disse coalhada, tabule, quibe frito e esfirra. E esfirra era o produto que eu estava procurando para vender”, recorda.
Após aprender as receitas, Saraiva abriu a primeira unidade do Habib’s em 1988, na região da Lapa. A estratégia de atrair os clientes com um produto de baixo custo já estava presente. A esfirra de carne, na época, custava 140 cruzados, o equivalente a R$ 0,19 nos dias de hoje. “Eu realmente não imaginava que fosse crescer desse jeito. Mas o que percebemos logo no começo é que já tinha fila se formando na porta.”
Mágica do guardanapo
O sucesso da primeira loja levou o empresário a investir em novas unidades, que também apresentaram bom desempenho. A grande mudança na rede ocorreu quando uma cliente de Santo André se surpreendeu ao pagar a conta e foi procurar Saraiva.
“A dona Beatriz ficou abismada, pois o valor era muito baixo para o que havia consumido. Ela disse, então, que queria ser tornar uma franqueada, mas naquela época eu mal sabia o que era uma franquia. Escrevi o acordo em um guardanapo e fechamos negócio. Felizmente deu certo, foi o sistema de franchising que nos permitiu crescer em uma velocidade tão grande.”
Para Alberto, a maior marca do Habib’s hoje é ser uma empresa com variedade de preços e cardápio que permite que todas as pessoas frequentem as lanchonetes, independentemente da classe social.
“Minha dica para quem quer investir na área de alimentação é sempre ter fé em si mesmo e trabalhar muito – dez, 12, 14 horas por dia. E, além de atender bem os clientes e oferecer bons produtos, tente apostar no preço baixo. Isso faz a diferença: mudou a minha vida.”