Discurso de Bolsonaro no 7 de setembro: quanto à oratória, o que fica?
Veja pontos positivos e negativos do discurso oficial de Jair Bolsonaro no que tange especificamente à comunicação e oratória.
Pela primeira vez desde a ditadura, não houve o tradicional desfile da Independência no 7 de setembro. As festividades, assim como o já esperado discurso oficial do Presidente da República, migraram para o online.
O presidente Jair Bolsonaro gravou o seu discurso, trocando o púlpito pela câmera – uma tendência deste 2020. Dessa fala curta, transmitida pela TV, ficam análises importantes quanto à comunicação.
Como foi a expressividade do presidente? E a escolha da linguagem, foi eficaz? O que dizer, ainda, do uso do teleprompter? É exagero dizer que foi mecanizada?
Veja, a seguir, a minha análise sobre esse discurso – tão diferente dos demais.
Discurso de Bolsonaro – Pontos Positivos
Analisar discursos e pronunciamentos de líderes é uma maneira de aprender: aprender tanto o que fazer quanto o que evitar nas nossas próprias situações de exposição de fala.
Nessas análises, nunca está demais relembrar que não nos focamos na parte política, mas, sim, e unicamente, na comunicação e seus aspectos centrais.
Dito isso, destaco alguns PONTOS POSITIVOS da fala do presidente:
- O USO DE PAUSAS:
Ao contrário de outras falas de Jair Bolsonaro, sobretudo aquelas ao vivo e sob improviso, o presidente aplicou bem as pausas no discurso gravado para o 7 de setembro.
Ao aplicar bem esses silêncios, marcou as suas frases e logrou destacar trechos que, provavelmente, julgou mais importantes que os demais.
As pausas também são importantes para assimilação do público, sabendo que o vídeo seria transmitido para todo o país e para pessoas de diversos perfis e contextos.
- A ESCOLHA DA LINGUAGEM:
A linguagem do discurso foi muito mais amena que em outros. Uma das críticas que se faz ao presidente é em relação à linguagem que utiliza: por vezes, excessivamente coloquial.
No pronunciamento oficial do 7 de setembro, nota-se que houve um maior rigor na escolha da linguagem. Disso, pode ser que uma das intenções era transmitir um tom mais moderado.
A linguagem escolhida foi majoritariamente formal, mas acessível. Uma boa alternativa para um vídeo que deveria chegar a milhões de brasileiros que, como eu disse, têm perfis diferentes entre si.
Discurso de Bolsonaro – Pontos Negativos
A oratória de Bolsonaro sempre esteve no centro das críticas de quem analisa esse tipo de competência. Nesse discurso especificamente, alguns pontos negativos que merecem ser destacados são:
- A FALTA DE EXPRESSIVIDADE:
A linguagem não-verbal do presidente é um dos pontos de maior evidência nesse pronunciamento. Ele permanece praticamente todo o tempo com a mesma expressão facial. Quando arrisca um sorriso e um gesto, ambos soam muito artificiais.
Um dos desafios dos líderes é gerar empatia. Com uma linguagem não-verbal pouco expressiva, isso passa a ser ainda mais difícil. Por mais que se trate de um vídeo gravado, a expressividade tem um papel fundamental.
- O USO DO TELEPROMPTER:
Claramente, o presidente leu toda a sua fala durante a gravação do vídeo. Aliás, esse foi um dos motivos pelos quais a sua linguagem não-verbal esteve TÃO limitada.
Quanto a isso, é importante esclarecer que o teleprompter é um recurso útil, mas deve ser utilizado com cautela. Quando o teleprompter deixa de ser uma ferramenta e se torna a “bengala”, isto é, o apoio central de uma fala, há um problema.
O resultado da leitura na íntegra, no caso de Bolsonaro e em tantos outros, é uma fala mecânica, pouco expressiva e, logo, que retém muito menos a atenção do público. Nada soa natural e esse é um grande erro quanto à oratória.
Entender os erros e acertos do presidente é uma estratégia para sabermos ao que nos atentarmos nas nossas próximas falas e, sobretudo, nas nossas gravações de vídeo.
O discurso de Bolsonaro é, ainda, um excelente exemplo de como a necessidade de desenvolver e aprimorar habilidades da comunicação digital é um cuidado urgente!
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