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De menino refugiado a bilionário mais jovem da África

13 jun 2016 - 08h23
(atualizado em 17/6/2016 às 13h07)
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Ashish Thakkar tem fundação que ajuda pequenos empreendedores
Ashish Thakkar tem fundação que ajuda pequenos empreendedores
Foto: Mara Group / BBC News Brasil

Muitos empreendedores de sucesso superaram diculdades para subir na vida, mas poucos passaram pelos mesmos horrores que Ashish Thakkar e sua família.

Thakkar, de 34 anos, é hoje o fundador e chefe do conglomerado Mara, que atua em 21 países, a grande maioria na África.

Ele emprega 11 mil pessoas, é considerado o bilionário mais jovem da África e tem uma fundação que ajuda pequenos empreendedores, além de ser consultor da ONU e de vários países da África na área de empreendedorismo.

Mas, ao 12 anos, teve que fugir do genocídio em Ruanda com sua família.

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Ele estudava em um colégio interno no Quênia, mas estava de férias e foi visitar a família em Ruanda, em 1994, um dia antes do assassinato do presidente do país - ele morreu na queda de um avião derrubado em um atentado -, que acabou dando início ao massacre que chocou o mundo.

Thakkar conta que nesse dia estava no Hotel Ruanda, que ficou famoso após o filme de Hollywood, mas apenas passando o dia, como turista. Mesmo após a morte do presidente, foi com a família para casa, porque todos achavam que os tumultos durariam um ou dois dias.

Alguns dias depois, porém, um tio chegou com integrantes de forças da ONU e levou toda a família de volta para o hotel, onde ele e outras cerca de 1.200 pessoas se refugiaram.

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"Havia corpos na rua, barulho de tiros e explosões o tempo todo. Mas por sorte conseguimos sair de lá vivos", diz ele.

"Isso me ensinou que há muitas coisas na vida, que a gente tem que devolver o que o mundo nos dá, e temos que garantir que uma coisa como essa nunca volte a ocorrer. Como eu, como indivíduo, posso garantir isso? Cada um tem que fazer sua parte, mesmo que pequena."

Ao fugir, porém, seu pais perderam tudo o que tinham. Não era a primeira vez: eles já haviam tido que reconstruir a vida quando foram expulsos de Uganda - país vizinho a Ruanda - em 1972.

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Naquele ano, o ditador Idi Amin expulsou mais de 50 mil pessoas de origem asiática (indianos, bengalis, paquistaneses ou cingaleses). Naquela ocasião, eles foram para a Inglaterra, sem nada.

O pai começou a trabalhar na fábrica da Ford em Leicester e a mãe em uma fábrica de batatas fritas. Juntaram dinheiro, abriram um negócio e envolveram os filhos no trabalho de forma lúdica.

"Eles faziam como se fosse um jogo, nos davam objetivos, e isso tornava tudo divertido", conta.

Depois de um tempo, eles resolveram se mudar para Ruanda - os pais repetiram esse estilo de jogos, conta, quando estavam no Hotel Ruanda, para que os filhos não sentissem tanto o horror do que estava acontecendo.

Mas, para Thakkar, o empreendedorismo de sua família e principalmente a forma positiva como lidavam com problemas o influenciaram muito para que entrasse no mundo dos negócios.

Após fugir de Ruanda, eles voltaram para Uganda.

Computador

A vida de Thakkar começou a mudar quando, após muita insistência, ele ganhou um computador dos pais.

Um dia, um amigo da família foi jantar e se encantou com o computador. Prontamente, Thakkar disse que tinha uma aparelho extra e estava vendendo a máquina - o que era mentira. Deletou seus arquivos do PC e entregou o aparelho no dia seguinte, lucrando US$ 100.

Depois disso, conveceu os pais a deixarem que ele alugasse uma loja por dois meses, nas férias de verão, para montar um negócio. Consegiu um empréstimo de US$ 5 mil e passou a revender equipamentos e acessórios para computador, como disquetes, que comprava em Dubai.

No fim das férias, não contou aos pais que as aulas haviam recomeçado - não queria voltar. Explicou que, mesmo se completasse os estudos, queria continuar trabalhando como empreendedor, e pediu que lhe dessem uma chance.

Os pais entraram em um acordo com ele: se o negócio não desse certo, ele teria que retornar no ano seguinte. "Mas não voltei até hoje", conta.

Depois de convencer seus pais, ele passou a ampliar seus negócios. Em vez de importar equipamentos para vendê-los em Uganda, ele abriu um escritório em Dubai e começou a vender para empresas em vários países africanos.

Desde então, o grupo Mara se diversificou. Hoje abriga negócios variados, provê infraestrutura para empresas de telecomunicação, produz embalagens, têm bancos, hotéis, centros de conferência, shopping centers, fábricas de papel e milhares de hectares de terras usadas em agricultura.

Escola e apoio

Thakkar tem orgulho de ter deixado a escola - em seu perfil do Twitter, escreve, em sua descrição, que largou a escola. Mas isso significa que ele é contra a educação formal?

"Não. Acho que ela é extremamente importante. Mas também acho muito importante o ângulo da educação informal, de ter um tutor, um apoio", conta. "Isso que fazemos na fundação."

A Fundação Mara dá orientação e apoia a pessoas que estão começando seus negócios.

Tem como base, principalmente, Uganda, Tanzânia e Nigéria. Desde seu lançamento, em 2009, já ajudou mais de 160 mil pequenos empresários.

Outra coisa que aparece em seu perfil do Twitter é "refugiado".

"Isso faz parte de mim todos os dias. Quando você não tem um país, você vê que não pode depender de Estados, que nós como indivíduos somos como o setor privado, temos que fazer algo também. Se empoderarmos as pessoas, se criarmos oportunidades para elas, muitas coisas, como o genocídio (de Ruanda), não aconteceriam", afirma.

Fundação

Apesar de ser considerado "o bilionário mais jovem da África", Thakkar, hoje com 34 anos, diz que o objetivo maior do seu trabalho não é enriquecer.

Ele afirma que gasta entre um quarto e um terço de seu tempo com a fundação e outros projetos no setor de políticas públicas.

Já a parte comercial de seu negócio - onde também trabalha toda a sua família - ocupa o resto do tempo. Ele passa 20 dias por mês viajando - sem jatinho particular - e diz que evita levar o assunto trabalho "para a mesa do café da manhã".

Mas ele também aproveita sua fortuna: tem como hobby fazer paraquedismo e está inscrito no programa que vai levar os primeiro turistas a Marte.

"Estou fazendo treinamento e estou confiante que iremos logo para o espaço", diz.

Ele afirma, porém, que ama seu trabalho e que seu sonho "é ver a África sustentável".

"Eu tenho 34 anos, em agosto faço 35, e a Mara faz 20. Mas sinto que ainda não mudamos nada, somos uma gota no oceano. Agora que tudo vai começar."

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